Insônia é dividida em dois tipos: aguda e crônica. Nem sempre o tratamento é feito com medicação. Às vezes, apenas mudanças nos hábitos e estilo de vida já tratam a doença.
Na insônia, a pessoa tem dificuldade de iniciar o sono, de permanecer dormindo ou ambos. — Foto: Alexandra Gorn na Unsplash
Todo mundo já teve ou vai ter dificuldade para dormir pelo menos uma vez ao longo da vida. Mas isso não significa que a pessoa tem insônia.
Abaixo, nesta reportagem entenda os cinco principais pontos sobre a insônia:
A insônia é uma situação clínica muito comum, onde a pessoa tem dificuldade de iniciar o sono, de permanecer dormindo ou ambos.
“A insônia é diferente da privação de sono (que é quando a pessoa dorme pouco). Na insônia o indivíduo tem a oportunidade de dormir, mas acaba acordando mais cedo do que o desejado e não consegue voltar”, explica Luciano Drager, professor associado do departamento de clínica médica da FMUSP e presidente da Associação Brasileira do Sono (ABS).
O distúrbio é dividido em dois tipos:
O número de pessoas insones vem aumentando a cada década, segundo especialistas. Dados da Associação Brasileira do Sono (ABS) apontam que cerca de 73 milhões de brasileiros sofrem com o distúrbio.
Drager explica que a tecnologia é uma das “culpadas” pelo aumento de insones no mundo. Houve uma piora no padrão de hábitos que acabam facilitando o surgimento da insônia e da privação do sono.
“As pessoas estão mais conectadas, o estímulo visual aumentou – antes líamos livros, agora lemos no tablet, no celular. Temos fácil acesso à televisão, internet, redes sociais. Esses estímulos acabam inibindo a melatonina à noite, criando ambientes que favorecem a insônia, a privação do sono, a um sono de má qualidade“.
Transtornos de humor como depressão e ansiedade também influenciam no dormir e na insônia. E eles têm aumentado também. Um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que a pandemia fez aumentar em mais de 25% número de casos desses dois transtornos em todo o mundo.
O dormir bem exige manter a mente e o corpo em harmonia. Com tudo alinhado, conseguimos relaxar, iniciar o sono e desligar. “Estamos em um ambiente mais propício para a insônia e a pandemia foi a cereja do bolo que contribuiu para aumentar os casos de transtornos de humor”, alerta o presidente da ABS.
Qualquer pessoa pode ter insônia, desde a criança até o idoso. Mas existem alguns fatores associados à doença, como ser mulher, nível socioeconômico e problemas crônicos — Foto: imagem: Freepik.com
A sonolência não é o principal sintoma da insônia. O distúrbio pode afetar quase todos os aspectos da vida. A pessoa pode ter mais dificuldades na concentração, pode ficar mais irritada, pode ter problemas de memória, prejuízos metabólicos e cardiovasculares a longo prazo.
Veja abaixo os sintomas diurnos relacionados à perda de sono:
Qualquer pessoa pode ter insônia, desde a criança até o idoso. Mas existem alguns fatores associados à doença, como ser mulher, nível socioeconômico e problemas crônicos:
Vale sempre lembrar que não é porque você tem um ou dois fatores de risco que você terá insônia (e vice-versa).
E os comportamentos de risco? Evitar certos comportamentos pode ajudar a “prevenir” a insônia.
“Comorbidades não tratadas, como depressão, ansiedade, comportamentos alimentares, entram no comportamento de risco para insônia. Outra coisa que devemos evitar: discutir relação, problemas financeiros próximo do horário de dormir. Uma refeição mais pesada antes da hora de dormir também é ruim”, elenca o presidente da ABS.
🛏️Preparar o quarto para o dormir – temperatura adequada, luz controlada, espaço confortável, eletrônicos guardados – é essencial para o bom sono. Agora, se mesmo assim a pessoa sente dificuldade para dormir, talvez seja hora de consultar um especialista.
Se você demora mais de 30 minutos para pegar no sono, acorda durante a noite, tem dificuldade para voltar a dormir, acorda mais cedo do que gostaria, você pode ter insônia. E existe tratamento para o distúrbio. Por isso, procure ajuda.
O primeiro atendimento pode ser feito com um clínico geral, que fará o encaminhamento de acordo com o quadro do paciente. Muitos profissionais que atuam no tratamento de distúrbios como a insônia são especialistas em medicina do sono.
Luciano Drager explica que o tratamento não é feito apenas com medicação. Também existe o tratamento não farmacológico, que visa mudança de hábitos e no estilo de vida.
“Muitas vezes as pessoas só querem a medicação, não querem mudar hábitos, não tratam a depressão, ansiedade. Eles querem a fórmula mágica, uma pílula para apagar. Mas não adianta, precisamos trabalhar uma abordagem integrada”.
O tratamento depende de cada caso, como explicamos acima. Ele pode englobar a higiene do sono, a terapia cognitivo-comportamental para insônia e o uso de medicamentos.
Em resumo, podemos dizer que:
“Estamos numa fase que a automedicação faz com que o paciente postergue o tratamento. Isso é preocupante. Essa chamada de atenção para buscar ajuda é muito relevante. Não devemos achar que a insônia é normal, ainda mais quando está persistente. A automedicação deve ser combatida. Os pacientes podem mudar o quadro com mudanças de hábitos, mas querer mudar hábitos é muito difícil”, comenta Drager.
“Faltam estudos bem desenhados para testar a melatonina no contexto da insônia. Os estudos são conflitantes. Por isso, ela não é usada no tratamento regular da doença, não está indicada. Muitas pessoas sem conhecimento usam para tratar a insônia, um uso inadequado. Ela não é inocente e não deve ser tomada sem recomendação médica”, alerta o presidente da ABS.
Informações G1