Em “Drive”, produção de 2011 do cineasta dinamarquês Nicolas Winding Refn, o protagonista não tem nome e tem poucas falas. Interpretado por Ryan Gosling, a quem conhecemos simplesmente como motorista, somos conduzidos pela história por um sujeito que se assemelha a um caubói de algum faroeste de Sergio Leone. Com um visual descolado, lacônico, misterioso e machão, ele é a medida do anti-herói que só não detestamos, porque sabemos que há boas motivações em seu coração. Ele cuida dos seus amigos e é protetor com a mulher que ama.
À noite, o motorista é contratado para dirigir durante assaltos. Essa é sua única função no crime. Durante o dia, ele é dublê de cenas de corridas de carro no cinema. Ele está cercado de criminosos inescrupulosos e, quando se depara com a vizinha Irene (Carey Mullingan) e seu filho Benicio (Kaden Leos) nos corredores do prédio, é como se tivesse o primeiro contato com algo puro, genuinamente bom e vulnerável. Seu objetivo se torna proteger essas duas pessoas que, de tão raras, são preciosas para ele.
O pai de Benicio e ex-companheiro de Irene, Standard (Oscar Isaac), acaba de sair da prisão. Ele faz ao motorista uma oferta pouco vantajosa para que ele dirija em um assalto. O motorista aceita a oferta apenas para proteger a moça e a criança. Mas seu envolvimento com Standard e outros seres repugnantes irão desencadear muitos problemas.
Uma poesia visual futurista, “Drive” conta com uma trilha sonora de sons sintéticos e metálicos, que acompanham suas cenas de ação nos fazendo perder a noção do tempo. Com uma pegada noir, a fotografia não deixa de pincelar tons neons na tela. A gente às vezes fica em dúvida se o filme se passa nos anos 1980, no presente ou no futuro. E se existem os filmes anti-guerra, que criticam a violência gratuita, fútil e cruel da própria guerra, “Drive” se parece com um filme anti-ação. Apesar de suas cenas de corridas e lutas, parece exatamente uma crítica a esse tipo de filme, porque possui uma substância roteirística e um cuidado com a estética e a linguagem cinematográfica muito meticuloso. Ele carrega referências cinematográficas e conversa com os fãs de cinema.
Uma dessas referências, é a cena em que o motorista luta com um homem no elevador e destrói seu crânio. Para quem não se lembra, essa cena conversa com “Irreversível”, filme do franco-argentino Gaspar Noé. Na cena de Noé, é Vincent Cassel que esmaga a cabeça de um opositor em uma cena angustiante de violência explícita. Para reproduzir tamanho realismo, Refn trocou conversas com Noé para ensiná-lo a fazer o efeito similar.
“Drive” pode não agradar ao público de “Missão Impossível” ou outros filmes de ação, porque é excêntrico, profundo e rebuscado, mas com certeza irá agradar os fãs de cinema.
Filme: Drive
Direção: Nicolas Winding Refn
Ano: 2011
Gênero: Ação
Nota: 10/10
Informações Revista Bula