Em meio à campanha de vacinação contra o novo coronavírus, ao menos 14 profissionais de saúde se recusaram a receber doses da CoronaVac na cidade do Rio de Janeiro até a tarde de ontem (21). Eles atuam na linha de frente de combate à covid-19 em enfermarias, UTIs e asilos das redes municipal, estadual e privada. Além deles, seis idosos também rejeitaram a aplicação.
“Tivemos alguns casos de recusa antivacinal. Nós [os profissionais da secretaria] tentamos convencer essas pessoas em relação a isso, temos mantido diálogos e explicado sobre a segurança da vacina. Mesmo assim, 14 profissionais de saúde e seis idosos se recusam”, afirmou o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz. Ele não especificou contudo o motivo das negativas.
Segundo o secretário, um possível afastamento de suas funções cabe às diretorias dos hospitais em que esses profissionais trabalham. “A maioria deles sequer é da rede municipal de saúde. Nesse grupo também há pessoas que atuam, por exemplo, nas redes privada e estadual da capital.”
A presidente da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro, Tânia Vergara, defende que é necessário ouvir cada um dos profissionais antes de qualquer julgamento. Na opinião dela, questões clínicas precisam ser respeitadas, mas eventuais crenças que impedem a vacinação devem ser desfeitas.
“Não temos medicamentos com os quais possamos tratar a covid-19 e a nossa única chance [de combate] é a vacina, que passou por todas as fases de pesquisas e é fabricada por instituições consagradas.”
É necessário saber quais são as razões dessas pessoas para a recusa. A menos que sejam razões clínicas, como o tratamento de outra doença em curso ou o histórico de reações a outras vacinas, não há por quê. É uma lástima [a rejeição]
Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do Rio
Já o infectologista e professor da UFRJ Edimilson Migowiski teme que decisões desse tipo vindas de profissionais de saúde possam influenciar outras pessoas.
“Se essas pessoas se recusaram a ser vacinadas por questões ideológicas ou religiosas, isso é um absurdo. Mas, isso é muito diferente de uma questão técnica. A pessoa, munida de informações, pode preferir esperar por outra vacina, a da Astrazeneca, por exemplo. Mas, na minha opinião, a melhor vacina é a que está disponível”, afirma.
Lamento a decisão, caso isso tenha ocorrido por questões ideológicas. Estatisticamente, 14 pessoas que se negaram em um universo de milhares de pessoas imunizadas é pouco, um percentual quase desprezível. Não vejo um impacto direto sobre a campanha de vacinação. O que eu vejo é que por serem profissionais da saúde podem influenciar outras pessoas
Edimilson Migowiski, infectologista
O secretário Soranz informou nesta semana, após a recusa dos seis idosos, que fará uma companha de conscientização em prol da vacinação.
A prefeitura espera ter vacinado até o final da tarde de hoje 115 mil pessoas. O número corresponde ao primeiro lote da vacina recebida pela capital fluminense —ao todo, foram encaminhadas 231.840 doses, sendo que cada vacinado toma duas doses com intervalo de algumas semanas.
Na última terça-feira (19), o estado recebeu 488 mil doses que foram divididas pelos 92 municípios.
O número é muito baixo e insuficiente para vacinar todos os profissionais da saúde. Não há previsão para a chegada de uma nova remessa da CoronaVac e não há estimativa de quando idosos e pessoas com comorbidades serão vacinados.
Nesse primeiro lote, foram vacinados trabalhadores da saúde que trabalham na linha de frente contra a covid-19 e idosos em asilos ou abrigos.