Ao menos 35 ônibus foram incendiados e diversas vias estão interditadas na zona oeste do Rio de Janeiro, segundo a Rio Ônibus, sindicato das empresas de ônibus da cidade do Rio. Veículos foram queimados após a morte de um miliciano, nesta segunda-feira (23). Um trem também foi incendiado.
Foram incendiados 20 ônibus de operação municipal, cinco BRTs e os demais são veículos de turismo e fretamento. A mobilidade está comprometida em corredores como a Avenida Santa Cruz, Avenida Cesário de Melo e a Avenida das Américas.
Este é o maior número de ônibus queimados em um único dia na história do município do Rio, segundo informou o sindicato ao UOL.
As linhas de BRT do corredor Transoeste foram temporariamente suspensas na tarde desta segunda-feira, segundo a Mobi-Rio, “por questão de segurança”.
O primeiro ônibus que pegou fogo estava na Rua Felipe Cardoso, na altura do BRT Cajueiros, em Santa Cruz, na zona oeste. A informação é do COR-Rio (Centro de Operações Rio), órgão da prefeitura que monitora a cidade por meio de câmeras.
Ao menos 12 pessoas já foram presas por envolvimento nos incêndios, disse a Polícia Militar do Rio de Janeiro.
Equipes do Grupamento Aeromóvel da Polícia Militar sobrevoam os locais onde ônibus foram queimados, na zona oeste. A PM também informou que policiais reforçam a segurança na região.
Segundo o COR-Rio, os incêndios provocam reflexos em Guaratiba, Inhoaíba, Paciência, Cosmos, Santa Cruz e Magarça.
O município do Rio entrou em “estágio de atenção” a partir das 18h40 em razão dos ataques aos ônibus, informou o COR-Rio. “O Estágio de Atenção é o terceiro nível em uma escala de cinco e significa que uma ou mais ocorrências já impactam o município, afetando a rotina de parte da população.”
O porta-voz do Rio Ônibus, Paulo Valente, afirmou que “o crime contra o setor de transporte por ônibus virou rotina no Rio de Janeiro”. “Mais de 20 ônibus que atendem a população carioca foram incendiados por criminosos”, disse. Continua após a publicidade
Valente ressaltou ainda que o que aconteceu hoje evidencia “a inação do Estado diante desses episódios de violência extrema, em que o direito de ir e vir do cidadão é esquecido”.
Pelo menos 32 escolas interromperam as aulas em função dos ataques.
Um trem que saía de Santa Cruz sentido Central, às 18h04, foi abordado por bandidos nas proximidades da estação de Tancredo Neves, informou a SuperVia, em nota.
Os criminosos atearam fogo à cabine de um trem. Segundo a SuperVia, o maquinista foi obrigado pelos bandidos a abrir a porta, a descer da composição e teve que retornar à estação.
Todos os passageiros desembarcaram em segurança. “A SuperVia segue monitorando e atuando em conjunto com as forças policiais para garantir, principalmente, a segurança dos colaboradores e passageiros”, esclareceu a concessionária de transporte ferroviário.Continua após a publicidade
O miliciano que morreu foi identificado como Matheus da Silva Rezende, conhecido pelos apelidos Teteu e Faustão.
Matheus é sobrinho de Luis Antonio da Silva Braga, ou “Zinho”, o primeiro homem da maior milícia do Rio, que atua na zona oeste. Zinho herdou o comando da organização após a morte do seu irmão, o Wellington da Silva Braga, o Ecko, em 2021.
Matheus foi morto hoje durante uma suposta troca de tiros com a Polícia Civil durante uma operação na região de Três Pontes, em Santa Cruz, na zona oeste do Rio. A ação teve o apoio da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais; que é o grupo de eleite da Polícia Civil do estado), Polinter e unidades especializadas, informou o jornal O Globo.
“Teteu” é apontado em investigações, segundo o jornal, como o principal homem de guerra de Zinho na disputa de territórios contra os rivais. Ele seria o responsável por chefiar as rondas feitas pela milícia do tio dentro da zona oeste.Continua após a publicidade
Na operação que Teteu morreu, uma criança de dez anos foi atingida de raspão na perna por uma bala perdida. Não há informações sobre o estado de saúde dela.
Matheus era considerado pela polícia como o segundo homem na atual hierarquia da maior milícia do Rio, comandada pelo seu tio.
Em publicações no X (antigo Twitter) nesta tarde, o governador do estado, Cláudio Castro (PL), parabenizou os policiais pela prisão do Faustão ou Teteu, definido pelo político como “o braço direito e sobrinho do miliciano Zinho”.
O governador não citou a morte de Matheus e ainda afirmou que o crime organizado não pode “ousar desafiar” o poder do Estado. Ele não citou os ônibus que estão sendo queimados em possível protesto contra a morte.
Não vamos parar! Nossas ações para asfixiar o crime organizado têm trazido resultados diários. Hoje demos um duro golpe na maior milícia da Zona Oeste. Além do parentesco com o criminoso, ele atuava como “homem de guerra” do grupo paramilitar, sendo o principal responsável pelas guerras por territórios que aterrorizam moradores no Rio.
Cláudio Castro, governadorContinua após a publicidade
Já o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), chamou um homem de “bandido e burro” ao compartilhar uma notícia sobre um criminoso flagrado ateando fogo em um ônibus na zona oeste do Rio. Ele acusou os milicianos de queimarem os ônibus que “são pagos com o dinheiro do povo para protestar contra a operação policial”.
E para piorar, tivemos que interromper serviços de transporte na zona oeste para que não queimem mais ônibus. Ou seja, únicos prejudicados: moradores das áreas que eles dizem proteger! Essa gente precisa de uma resposta muito firme das forças policiais! Como prefeito, apelo ao Governo do Estado e ao Ministério da Justiça para que atuem para impedir que fatos assim se repitam.
Eduardo Paes, prefeito do Rio
Informações UOL (Com Estadão Conteúdo)