Vice-presidente é a preferida entre os democratas para entrar na disputa nas eleições, após debate desastroso entre Biden e Donald Trump.
Joe Biden e Kamala Harris em imagem de março de 2022 — Foto: Nicholas Kamm/AFP
Kamala Harris, vice-presidente dos EUA, está entre os nomes favoritos para a corrida presidencial, caso Joe Biden deixe a disputa. A possibilidade de substituição é aventada após o debate entre o presidente e Donald Trump, na quinta-feira (28), ter sido considerado um desastre para o Partido Democrata.
De acordo com o instituto de pesquisa Morning Consult, 30% dos democratas apoiam o nome de Kamala caso Biden seja substituído. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, aparece em seguida, com 20%.
A vice-presidente passou boa parte do seu mandato tentando se destacar em seu papel e naturalmente se tornar a titular para a corrida à Casa Branca em 2024. No entanto, sua popularidade é relativamente baixa e seu nível de aprovação é muito próximo de Biden.
Kamala, de 59 anos, é a primeira mulher a se tornar vice-presidente dos EUA. Formada em Direito e Ciências Polícias, ela foi procuradora da cidade de São Francisco e depois do estado da Califórnia. Kamala também foi senadora pelo estado entre 2017 e 2020.
Ela chegou a se apresentar como pré-candidata à Casa Branca para as eleições de 2020 e liderou em algumas pesquisas dentro do Partido Democrata, mas perdeu apoio e desistiu da corrida por falta recursos financeiros.
Filha de mãe indiana e pai jamaicano, ela foi escolhida para integrar a chapa democrata para atrair minorias, sendo ela mulher, negra e filha de imigrantes.
A opção por Harris foi fundamental para a eleição de Biden porque funcionou como um chamariz para convencer eleitores negros a votar no pleito de 2020 e alçada a mulher politicamente mais poderosa do país.
Existia uma expectativa em relação ao seu papel no mandato de Biden. Ela era considerada a sucessora natural de Biden para as eleições de 2024, porém, seu desempenho foi abaixo do esperado e as pesquisas indicaram fraca popularidade.
Antes mesmo de completar um ano no cargo, Kamala foi considerada a vice-presidente americana mais impopular da história em 50 anos. Na ocasião, apenas 28% dos americanos aprovavam seu desempenho, tornando-a praticamente invisível.
Foram poucos os momentos que Kamala conseguiu chamar atenção para si. Ainda em 2021, a vice-presidente foi designada para ficar à frente na diplomacia com o México e países da América Central, para encontrar uma forma de diminuir o gargalo migratório na fronteira.
Em sua primeira viagem oficial para a região, durante um encontro com o presidente da Guatemala, Alejandro Giammattei, ela pediu que os migrantes “não venham” ao seu país de forma ilegal. Na ocasião, sua performance foi considerada desastrosa.
Ainda que com baixa popularidade, Kamala conseguiu dobrar alguns de seus críticos. Em 2022, ela se colocou como a voz da Casa Branca em defesa ao direito ao aborto.
No ano passado, durante a Conferência de Segurança de Munique, foi Kamala quem subiu o tom contra a Rússia, na guerra da Ucrânia. Foi a primeira vez que os EUA acusou abertamente a Rússia de ter cometido crimes contra a humanidade.
Em maio deste ano, a vice-presidente fez as declarações mais incisivas da liderança dos EUA ao criticar o governo de Israel. Ela direcionou sua fala a Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, para o cessar-fogo e impedir uma “catástrofe humanitária.”
Durante seu período no cargo, Kamala não conseguiu a projeção suficiente para se alçar candidata em 2024. Uma pesquisa publicada em junho pela Redfield & Wilton Strategies indicou que a vice-presidente era desaprovada por 44% dos americanos e aprovada por 39%.
A base do Partido Democrata ainda tem resistência em relação ao seu nome por causa de seus números fracos, de acordo com o site Politico.
Ônibus com migrantes estacionam perto da casa da vice-presidente dos EUA, Kamala Harris
O partido considera qualquer um dos outros governadores para uma possível substituição, como Gavin Newsom, da Califórnia, e Gretchen Whitmer, de Michigan, mais populares que Kamala.
De acordo com a revista britânica “The Economist”, Kamala seria a escolha óbvia para substituir Biden. “Infelizmente, ela não inspira confiança nos grandes democratas, e os eleitores sentem isso”.
Ainda segundo a publicação, uma sondagem recente da The Economist/YouGov sugere que ela é apenas uma opção ligeiramente mais favorável do que o presidente.
Para o site “Politico”, o maior trunfo da vice-presidente é a “realidade política”. Se Biden abandonasse a corrida presidencial, qualquer outro candidato teria desafios significativos.
“Apenas Harris, por exemplo, teria acesso aos cofres da campanha da qual já faz parte. Qualquer outro candidato enfrentaria a difícil tarefa de construir uma infraestrutura em questão de meses.”
“The Washington Post” também coloca a vice-presidente como a substituta natural. “Harris é o vice-presidente, a pessoa já escolhida pelo partido para ser o próximo na linha de sucessão à presidência. A menos que ela também tenha optado por não ser presidente, ela é a pessoa a quem a nomeação iria.”
A crise na campanha de Biden, diz o “The New York Times”, renovou o foco na vice-presidente, enquanto ela tenta acalmar os ânimos entre os democratas, defendendo o presidente.
Segundo a publicação, seu discurso de sexta-feira (28), se colocando ao lado de Biden, era “exatamente o que eles queriam ver no debate em Atlanta”, disseram democratas ao jornal.
Desde o início do ano, Kamala tem viajado em campanha para fortalecer a chapa e mobilizar principalmente eleitores negros, base essencial para os democratas.
Segundo o site Politico, aliados e assessores de Kamala acreditam que ela conseguiu demonstrar mais habilidade e confiança nestes últimos meses e, com isso, revigorar seu perfil.
Após o debate de quinta, Kamala fez uma defesa enfática de Biden, em uma viagem por Nevada, que chamou atenção e a colocou novamente como alternativa ao posto de candidato.
Não há planos, de acordo com seus assessores, para a vice-presidente fazer uma campanha para defender Biden.
Ela estaria focada na captação de recursos nos próximos dias, em áreas onde estará em contato com doadores, o que não deixa de ser uma oportunidade para causar boa impressão e se colocar à disposição como substituta à vaga de Biden.
Informações G1