A escolha da universitária Maria Nogueira Maia, 22, parece distante de muitas mulheres, principalmente na faixa etária dela. Há um ano, a carioca decidiu por não ter relações sexuais. A opção pelo celibato foi motivada por um relacionamento tóxico, que durou cinco anos, e por questões espirituais, já que a jovem pratica o budismo.
A falta de sexo foi comunicada nas redes sociais de Maria, que só no TikTok conta com 154 mil seguidores e 65 mil no Instagram. O anúncio do celibato trouxe surpresas, curiosidades e interesse de algumas jovens em também ficar por um tempo sem relações sexuais.
Maria conta a Universa que se envolveu com algumas pessoas durante esse período, mas sem sexo. Para ela, a fase é de aprendizado e de compartilhar experiências. “Se ainda não saí do celibato é justamente porque não achei uma pessoa que valesse a pena”, afirma. Leia seu relato abaixo.
“Sou praticante do budismo e desde os meus 16 anos comecei a levar o assunto a sério. Alguns escritos falam muito sobre o contato sexual com o outro e como isso afeta a nossa energia. Estava vindo de uma fase de término muito difícil e de tentar encontrar outra pessoa. Mas só caia em ‘golpe’, não tinha ninguém querendo uma conexão mais duradoura, apesar de no início aparentarem o contrário.
As pessoas realmente procuram muito essa questão carnal, sexual, que é muito comum, principalmente em homens de 20 e poucos anos. Eu não estava me identificando com isso e, depois de cada pessoa que passava por minha vida, me sentia pior e sozinha. Aí cheguei nessa conclusão do celibato, em que prefiro encontrar minha solitude e estar verdadeiramente comigo mesmo do que ter solidão ao lado de outra pessoa.
Eu buscava muito a validação masculina, como é comum em meninas da minha idade e até em mulheres mais velhas. Quando eles descobriam que não ia para cama, que não ia ter sexo, desistiam muito rápido, e eu sofria com isso. Pensava: ‘Poxa, preciso mesmo disso? Olha tudo que eu faço, olha minha vida. Eu tenho muito orgulho de mim’. Foi um processo que veio com muita terapia. É você gostar de alguém, mas saber que não vale a pena. No começo eu gostava da pessoa e queria investir, mas sabia que ela estava ficando com um monte de gente, que não ia querer um relacionamento. Tive que ter autocontrole e seguir o que sempre acreditei. Muitos seguidores acham isso incrível. Várias meninas falaram que vão ingressar nesse processo, inclusive depois de terem assistido o meu vídeo.
Sempre falo que os resultados nunca vão ser iguais porque é uma experiência espiritual e muito individual. Algumas amigas me acham maluca e com certeza teve um estranhamento. A primeira mensagem que recebi quando falei do celibato no vídeo foi de uma amigona minha. Ela disse: ‘Você ficou um ano sem transar? Não acredito que não me contou!’ Foi um choque. Eu não tinha falado para ninguém e esperei dar um ano para contar. É um instrumento para o autoconhecimento e não é ele que vai fazer pessoas boas chegarem até você. É o processo de investir tanto em si que você não aceita menos do que uma pessoa muito boa ao seu lado.
“Eu não fazia questão de comunicar as pessoas que estava fazendo o celibato e quando me relacionava com alguém fugia falando que não estava afim. Mas claro que em alguns momentos deu muita vontade. Nossa Senhora, tenho só 22 anos, né? Me concentrava e pensava num bem maior. A partir do momento que você se coloca como prioridade fica muito fácil de estabelecer seus limites, de ver até onde você consegue ir e também ser muito flexível. Se ainda não saí do celibato é justamente porque ainda não achei uma pessoa que valesse a pena. Se chegasse uma pessoa que realmente gostasse e tivesse vontade de investir, eu faria. Mas até agora não chegou, mais uma vez”.
Três universidades, TikTok e livros
Estou cursando o nono semestre na faculdade de psicologia, o quinto na de economia e o primeiro na de marketing. Depois de me formar, quero me especializar em economia comportamental e focar na criação de políticas públicas para reformar a educação brasileira no futuro. Esse é o meu grande objetivo.
Enquanto isso, a rotina é agitada. Acordo por volta das cinco horas da manhã, medito, tomo café, vou gravar vídeos e planejar as minhas postagens do dia. Vou para a academia, para a faculdade, para o estágio de psicologia e para outra faculdade à noite. No fim de semana me dedico a escrever livros.
No começo de setembro lancei meu primeiro livro, que fala da questão do relacionamento abusivo. São poesias que venho escrevendo desde os 16 anos até hoje, histórias e trechos de diários. É um livro curto que mostra a minha história desde o meu término do meu primeiro relacionamento até as experiências durante a pandemia. Também tenho livros anônimos que escrevo para duas empresas e não posso passar mais detalhes.
Eu não queria trabalhar com coisas da internet. Meus amigos me incentivaram e ficavam falando, ‘você tem muito o que falar; você deveria expor as suas opiniões’. Com esse apoio, comecei com o Instagram, focando em estudos em psicologia, já que me sentia mais segura em falar sobre o assunto. As postagens viraram uma bola de neve e os vídeos estouraram. Hoje falo um pouco de tudo. Recebo mensagens todos os dias de pessoas falando que incentivei a buscarem ajuda terapêutica ou que saíram de relacionamentos tóxicos.”
Informações Universa UOL