As máquinas automáticas de venda (de autoatendimento), também conhecidas como jidou hanbaiki ou simplesmente hanbaiki, são extremamente populares no Japão. Existem mais de 4 milhões delas espalhadas pelo país, o que representa uma proporção impressionante para a população japonesa —de acordo com uma reportagem da CBS News, para cada 30 cidadãos do Japão há uma dessas máquinas automáticas.
A ideia de vender nelas escorpiões, gafanhotos, larvas, entre outros insetos, em pacotes prontos para consumo, como snacks, pode parecer estranho para muitos, mas faz parte da rotina e da busca por experiências únicas que os japoneses valorizam —e os turistas adoram. Uma opção ousada para aventureiros gastronômicos que desejam experimentar algo completamente diferente.
Foi partindo desta pergunta que o pesquisador Antônio Bisconsin Júnior, cientista de alimentos e professor do Instituto Federal de Rondônia, realizou o seu doutorado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e concluiu que 51% dos brasileiros ainda mencionam total rejeição à possibilidade de comer insetos. Somente 13% manifestaram alguma aceitação de experimentar esses alimentos.
“A diferença na aceitação dos insetos é claramente influenciada por questões culturais das regiões. O Norte e Centro-Oeste têm uma população indígena muito mais presente e os insetos já fazem parte da alimentação desses povos originários. Para as pessoas dessas regiões, falar em comer insetos não parece algo bizarro [como nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste]”, disse o pesquisador.
Bisconsin Júnior conta que a ideia de pesquisar sobre o tema surgiu em 2013, quando a ONU (Organização das Nações Unidas) publicou um relatório global explicando as vantagens do uso de insetos na alimentação humana —eles já fazem parte do cardápio de cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo, são altamente proteicos e nutritivos e fazem parte da cultura de muitos povos.
Outra vantagem é a de que sua produção é muito mais sustentável para o planeta: usa-se menos espaço, menos alimentos, menos água, além de a criação de insetos emitir menos gases causadores do efeito estufa. Por isso, alimentos à base de insetos seriam uma alternativa mundial para combate à fome e à segurança alimentar.
“Esse relatório da ONU chacoalhou o mundo da ciência dos alimentos. A partir dele, passamos a olhar para essa possibilidade [de termos alimentos à base de insetos] com mais cuidado e decidi explorar o assunto mais profundamente. Qual seria a espécie que teria mais aceitação e seria mais interessante para a nossa população? A partir dessas dúvidas, montei o projeto de pesquisa”, explicou o pesquisador.
33% dos entrevistados disseram que comeriam insetos fritos;
17% afirmaram que preferiam assados;
12% relataram que só comeriam disfarçados (sem saber que havia inseto na composição do alimento);
Grilos e gafanhotos apareceram em primeiro lugar e ganharam a melhor aceitação;
Em seguida vieram as formigas, depois larvas, já indicando uma rejeição;
Por último, as baratas. Elas foram associadas à sujeira, esgoto e doenças;
“Desenvolvemos um concentrado de grilo proteico, não tem nenhum cheiro, lembra o aroma bem leve de nozes”, afirmou o pesquisador, completando que esse concentrado poderia ser usado na produção de sorvetes, suspiros, pães, biscoitos, macarrão, tortilhas, barrinhas de cereais.Continua após a publicidade
A alternativa é vista como positiva pela nutricionista Fabiana Fiuza Teixeira, do Núcleo de Saúde Mental e Bem-Estar do Hospital Israelita Albert Einstein. “O fato de termos um ‘whey protein’ à base de insetos e não a partir do soro do leite é muito interessante, porque os insetos são uma rica fonte de proteínas e de ácidos graxos importantíssimos que o leite, por exemplo, não traz”, afirmou. Ela também lembrou que esses animais são fonte de ômega 3, ômega 6 e fibras.
Informações UOL