Tecnologia é instalada na parede do estômago e, futuramente, pode se tornar alternativa a outros métodos de combate à obesidade, como balão gástrico. Estudos com animais devem seguir por 2 anos.
Dispositivo criado na Unicamp pode ajudar a controlar quadros de obesidade severa — Foto: rawpixel.com
Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram um dispositivo gástrico capaz de estimular os hormônios que promovem a sensação de saciedade e, assim, ajudar a controlar quadros de obesidade severa.
Nesta reportagem você vai ver:
Responsável pela equipe envolvida no estudo, a professora e pesquisadora Raquel Leal, do departamento de Cirurgia e Coloproctologia da Unicamp, explica que o equipamento foi desenvolvido a partir da proposta de uma empresa de Florianópolis (SC) para criar um eletroestimulador.
“O dispositivo é composto por eletrodos e gerador com bateria, e os eletrodos são instalados na parede gástrica anterior. Os experimentos ainda estão em andamento para entender por qual mecanismo o sinal elétrico deflagrado leva à perda de peso”, explica Leal.
Na prática, o aparelho faz uma conexão entre a atividade elétrica do estômago e as respostas hormonais do sistema nervoso central. Ele consegue controlar, gerar e conduzir os sinais necessários para estimular a parede gástrica do paciente.
Para a primeira fase de experimentos, os pesquisadores observaram três grupos de porcos pelo período de 30 dias, divididos da seguinte forma:
Os dois primeiros grupos passaram por cirurgias de laparotomia, nas quais os dispositivos foram implantados por meio de um corte no abdômen.
O eletrodo responsável pelos estímulos foi colocado na parede do estômago, e um cabo conetou a tecnologia a um gerador de energia sob a musculatura.
Durante a fase de testes, a equipe observou que os porcos do primeiro grupo deixaram de ganhar peso dentro da curva de crescimento, mesmo recebendo a mesma alimentação que os demais.
Parte da equipe responsável pelo desenvolvimento do dispositivo: Elinton Chaim, à esqueda; Raquel Leal, ao centro; e Fábio Chaim, à direita. Pesquisadores estão em frente ao Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades, coordenado por Lício Velloso. — Foto: Pedro Amatuzzi/Inova Unicamp
Segundo Leal, o desenvolvimento da tecnologia partiu da observação do aumento da incidência e prevalência da obesidade em quase todo o mundo, inclusive em pessoas mais jovens, impactando em todos os serviços de saúde.
“Além das comorbidades que acompanham a obesidade como hipertensão arterial, diabete, problemas osteoarticulares, os indivíduos com alto índice de massa corpórea têm maior risco de desenvolver câncer, principalmente do trato gastrointestinal”, afirma.
A partir disso, os pesquisadores criaram um dispositivo que pode ser uma alternativa para casos de obesidade grave e que não respondem a tratamentos convencionais, como reeducação alimentar, atividade física e acompanhamento nutricional para perda de peso.
A pesquisadora afirma que, para alguns pacientes, seria possível. “A ideia é que ele seja menos invasivo que a cirurgia bariátrica, e mais eficiente que o balão gástrico”, complementa Leal.
No futuro, a expectativa do grupo é que o eletroestimulador seja implantado em pacientes por meio de videolaparoscopia, um procedimento pouco invasivo realizado com a ajuda de uma pequena câmera no abdômen.
Vista aérea da Unicamp, em Campinas — Foto: Antoninho Perri/Ascom/Unicamp
“Neste momento estamos fazendo uma segunda rodada de experimentos, principalmente para entendermos se a eletroestimulação gástrica modula os hormônios da fome e da saciedade, e se tem outros mecanismos envolvidos neste processo”, destaca a professora.
Leal reforça que o estudo segue na fase de testes experimentais em animais, e que a tecnologia “demanda grande tempo” até chegar a ser aplicada em seres humanos. A patente da tecnologia, porém, já foi obtida e depositada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
A nova fase de estudos deve durar pelo menos dois anos. Agora, os testes serão aplicados em porcos adultos, com cerca de 50 kg. Na primeira etapa, os animais estudados ainda estavam em fase de crescimento e pesavam cerca de 15 kg.
Informações G1