Não foi apenas rachadinha para pagar suas despesas pessoais. O deputado federal André Janones também pediu que assessores de seu gabinete na Câmara dos Deputados contribuíssem com parte do salário para financiar futuras campanhas de seu grupo político.
“Eu pensei de a gente fazer uma vaquinha entre nós, e aí nós vamos decidir se vai ser R$ 50, se vai ser R$ 100, R$ 200, se cada um dá proporcional ao salário. Se cada um der R$ 200 na minha conta, vai ter mais ou menos R$ 200 mil para a gente gastar nessa campanha”, detalhou o segundo parlamentar mais votado de Minas Gerais em 2022.
Ou seja, além de cobrar parte do salário dos funcionários para comprar casa, carro e pôr dinheiro na poupança e previdência, Janones quis institucionalizar uma “vaquinha” mensal entre servidores de seu gabinete, remunerados com dinheiro público, para tirar proveito eleitoral.
A proposta, gravada em áudio ao qual a coluna teve acesso, foi feita na mesma reunião em que Janones cobrou parte dos salários dos servidores para “reconstruir seu patrimônio” após as eleições de 2016, quando disputou a Prefeitura de Ituiutaba (MG) e foi derrotado.
“Como nós não vamos ser corruptos, não vamos aceitar cargos, como a gente não vai ceder a essas coisas e a gente precisa de dinheiro pra fazer campanha, qual é a minha sugestão?
E aí nós vamos dividir o valor entre nós, inclusive eu. Isso é, todos. E isso é legal. Às vezes, você confunde isso com devolver salário. Devolver salário é você ficar lá na sua casa dormindo, me dá seu cartão, todo mês eu vou lá e saco e deixo só um salário pra você. Isso é devolver salário.
Dois mil e vinte [ano eleitoral] tá aí. Eu pensei de a gente fazer uma vaquinha entre nós, e aí nós vamos decidir se vai ser R$ 50, se vai ser R$ 100, R$ 200, se cada um dá proporcional ao salário. Isso a gente vai decidir entre nós”, afirmou Janones.
“A gente começa uma vaquinha já no primeiro mês do salário para a gente disputar as eleições de 2020 com o básico pelo menos”, disse o deputado. No áudio, é possível ouvir um dos assessores argumentando que essa seria “a única saída para Janones disputar a eleição sem ceder ao sistema”, ou seja, sem receber doações de empresas ou desviar verba de emendas parlamentares.
O deputado chegou a apresentar um cálculo de quanto teria à disposição para a campanha a partir da vaquinha. “Se cada um der R$ 200 na minha conta, vai ter mais ou menos R$ 200 mil para a gente gastar nessa campanha. [São só] R$ 200 [por mês]”, disse Janones.
O parlamentar acabou não concorrendo em 2020, pois seu partido, o Avante, decidiu apoiar a candidatura de Alexandre Kalil, do PSD, atual prefeito de Belo Horizonte. Seu grupo político, porém, teve candidatos. O deputado conseguiu eleger sua ex-assessora Leandra Guedes para comandar a Prefeitura de Ituiutaba, a mesma cidade na qual Janones havia amargado derrota em 2016.
A atual prefeita é apontada por um ex-assessor de Janones como a responsável por coletar dinheiro oriundo de rachadinha no gabinete do deputado. Ela nega e afirma que jamais cometeu qualquer irregularidade.
O pedido de parte dos salários feito por Janones a seus servidores foi revelado pela coluna nesta segunda-feira (27/11). A prática da “rachadinha” configura crimes de enriquecimento ilícito e dano ao patrimônio público. A oposição já anunciou que pretende acionar a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Conselho de Ética da Câmara para buscar a cassação de Janones.
Por meio de nota, o deputado negou a prática da rachadinha e disse estar sendo vítima de perseguição da extrema direita. Pediu ainda que o áudio fosse disponibilizado na íntegra e sem edições.
“Hoje saiu uma matéria, que está sendo espalhada pela extrema direita, que me acusa de rachadinha, coisa que eu nunca fiz. Pra isso eles usaram uma gravação clandestina e criminosa, um áudio retirado de contexto e para tentar me imputar um crime que eu jamais cometi”, diz a nota de Janones.
“Aproveito para solicitar que o conteúdo criminosamente gravado seja disponibilizado na íntegra, e não edições manipuladas, postada quase simultaneamente por todas as lideranças de extrema direita. É a segunda vez que trazem esse assunto para tentar me ligar a crimes. Em 2022, já fizeram isso durante a campanha, também com áudios fora de contexto. Essas denúncias vazias nunca se tornaram uma ação penal ou qualquer processo, por não haver materialidade. Não são verdade, e sim escândalos fabricados”, alegou.
Metrópoles/Paulo Cappelli