‘Acerto de contas Parte 1’ deixa franquia mais absurda e clichê do que deveria, mas Tom Cruise e Hayley Atwell garantem bons momentos. Filme estreia no Brasil na próxima quarta-feira (12).
Inteligência artificial é a grande vilã de “Missão: Impossível – Acerto de contas Parte 1”, sétimo filme da saga (que outrora foi) de espionagem estrelada por Tom Cruise – algo que até soa muito contemporâneo, mas que nunca consegue passar do superficial e do clichê.
Tanto que o próprio roteiro, que apresenta uma entidade digital semi onisciente como o antagonista da vez, parece ter sido escrito por um ChatGPT da vida. O novo filme estreia nos cinemas brasileiros na próxima quarta-feira (12), com sessões especiais já no sábado (8) e no domingo (9)
Tudo bem, ninguém assiste às estripulias do ator de 61 anos – que mais uma vez, para variar, dispensa dublês em suas cenas – por causa de um enredo complexo.
Mas nem sempre foi assim. 24 anos depois, é fácil esquecer que a franquia cinematográfica, uma adaptação da série de mesmo nome dos anos 1960, começou como uma belíssima história de espião, intrigas e reviravoltas.
Os últimos dois filmes, “Nação secreta” (2015) e “Efeito Fallout” (2018), eram os melhores desde o primeiro exatamente por equilibrarem melhor a espionagem com a ação.
Para os fãs do gênero, é triste ver o lado descerebrado voltar à tona – mas quem prefere tiros e peripécias não tem do que reclamar.
Missão: Impossível – Acerto de contas parte 1
“Acerto de contas Parte 1” é, como o nome deixa claro, a primeira metade de uma história dividida em duas. A conclusão tem estreia prevista para junho de 2024.
Nessa metade, o espião infalível Ethan Hunt (Cruise) aceita a missão impossível de encontrar uma chave, que pode controlar ou destruir uma inteligência artificial rebelada.
Em seu caminho estão, além da própria interessada na autopreservação, os governos de todo o mundo, interessados em conseguir uma arma tão poderosa para si.
No meio do caminho, ele ainda encontra tempo para salvar a antiga namorada (Rebecca Ferguson), cruzar com um antigo inimigo (Esai Morales) e conhecer uma possível nova aliada (Hayley Atwell).
Esai Morales e Tom Cruise em cena de ‘Missão: Impossível – Acerto de contas Parte 1’ — Foto: Divulgação
O enredo, que parece meio bobo assim na superfície, fica pior a cada novo detalhe. A vilã digital é batizada de A Entidade – e seria menos tosco se a chamassem logo de Skynet.
Afinal, com uma trama dessas, o novo episódio de “Missão: Impossível” mais parece uma introdução ao clássico “O Exterminador do Futuro” (1984) – que pelo menos soube fazê-lo com muito mais classe há quase 40 anos.
Se isso não fosse o bastante, a cena em que o conceito é apresentado é tão mal escrita que mais parece uma paródia.
Enquanto líderes militares e da inteligência americana discutem a existência desse novo e formidável inimigo em uma sala branca, o público espera pelo momento em que a câmera se afastará para revelar que tudo não passa de um filme dentro de um filme.
Infelizmente, esse momento nunca acontece. Depois disso, o roteiro do diretor Christopher McQuarrie – que repete suas funções dos últimos dois capítulos – com Erik Jendresen (“Band of brothers”) desiste de qualquer busca pelo novo ou surpresas.
Enquanto “Nação secreta” e “Efeito Fallout” se destacaram por dar a Cruise oportunidades de fazer cenas de ação absurdas dentro de histórias intrigantes, “Acerto de contas Parte 1” se contenta em fazer um pouco apenas do primeiro – e nem tanto assim também.
Tom Cruise e Hayley Atwell em cena de ‘Missão: Impossível – Acerto de contas Parte 1’ — Foto: Divulgação
O astro pelo menos aproveita seus grandes momentos e prova que não será o tempo a pará-lo.
Seja com um salto de paraquedas em cima de uma moto no topo de uma montanha para pousar sobre um trem, ou uma luta com capangas em um beco de menos de um metro de largura em Veneza, Cruise continua imbatível.
Ao lado da novata na série Atwell (a Peggy Carter, de “Capitão América”), ele consegue revitalizar o personagem, que nunca encontrou um equilíbrio lá tão bom com a igualmente competente Ferguson (“Silo”).
Mesmo assim, seu gosto claro por cenas em que aparece correndo ou sequências exageradas também podem ser um obstáculo sem um roteiro consistente.
Suas correrias sem sentido no topo de um aeroporto com uma trilha sonora descontrolada são inexplicáveis (apesar de muito bem filmadas) e só são superadas (negativamente) pelos momentos de apuros dentro de um vagão pendurado em uma ponte.
Henry Czerny, Rob Delaney, Indira Varma e Cary Elwes em uma das cenas mais inexplicavelmente bizarras de toda a franquia — Foto: Divulgação
A cena em si seria excelente, não tivesse sido bizarramente colocada depois da resolução de toda a trama – em que simplesmente não há qualquer risco. A não ser que você acredite que alguém vai de fato deixar Hunt morrer em algum “Parte 1” da vida.
“Parte 2” ainda pode salvar “Acerto de contas”. Basta que a Entidade tire sua máscara e revele que todo esse tempo sempre fora na verdade o personagem de Jon Voight, o primeiro vilão, com um grande plano mirabolante – ou qualquer coisa do tipo.
Sim, esta parece uma missão ainda mais impossível, mas os fãs da série ainda podem sonhar.
Informações G1