A primeira mulher a liderar a Câmara de Representantes dos EUA anunciou que não se recandidata à liderança do grupo democrata.
Aquela que foi a primeira mulher a liderar a Câmara de Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, anunciou esta quinta-feira que não se recandidata, mas prometeu manter-se no Congresso e defender novas causas com o seu espírito combativo de sempre.
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Nancy Pelosi — a congressista Democrata, líder cessante da Câmara de Representantes dos EUA — tornou-se uma das mais influentes figuras da política norte-americana, sobretudo depois de os Republicanos a terem nomeado como o principal rosto da oposição durante o mandato presidencial de Donald Trump (2017-2021).
Para a História, ficará a imagem de Pelosi a rasgar o discurso do Estado da União de Trump, em fevereiro de 2020, depois de o então Presidente ter recusado cumprimentá-la, à entrada da sala do Congresso, deixando-a de mão estendida.
Aos 82 anos, Pelosi afasta-se do cargo, após os Republicanos terem garantido a maioria na Câmara de Representantes nas recentes eleições intercalares, anunciando que também deixa a liderança da bancada Democrata para “gerações mais jovens”.
Pelosi abandona o lugar que ocupou pela primeira vez em 2007, quando se tornou a primeira mulher “Speaker of the House”, afirmando-se como uma figura em ascensão no Partido Democrata, a cuja direção tinha chegado em 1976.
Uma década mais tarde, em 1987, entrou pela primeira vez no Capitólio dos EUA, na qualidade de congressista, depois de ter vencido facilmente a eleição pelo círculo de São Francisco — um lugar que vai continuar a ocupar.
Nancy Pelosi nunca foi uma figura consensual, nem dentro do Congresso, nem dentro do seu partido, onde preferia ser vista como uma política da ala moderada, apesar de o ex-Presidente Trump a ter classificado como a porta-voz de uma “agenda radical de esquerda”.
Na era de Barack Obama, serviu de ‘locomotiva’ parlamentar para a reforma Democrata na área da Saúde, que ficaria conhecida como Obamacare, e, no atual mandato do Presidente Joe Biden, outro Democrata de quem é muito próxima, tornou-se uma defensora do volumoso plano de investimento em infraestruturas.
Os seus apoiantes elogiam a sua capacidade de diálogo e os seus adversários temem a sua capacidade de combate, como quando, no dia da invasão do Capitólio, em 06 de janeiro de 2021, ao ouvir que Donald Trump se iria misturar com a multidão que se aproximava do Congresso, prometeu receber o Presidente a soco.
“Se ele vier, vou derrubá-lo com os meus próprios punhos. Há muito que espero por esse momento”, prometeu Pelosi, cujo gabinete no Capitólio foi invadido e destruído, sendo um dos principais alvos dos extremistas radicais que apoiavam Trump e as suas teses de fraude eleitoral nas presidenciais de 2020.
Trump nunca chegou a dar esse prazer a Pelosi, a quem apelidava de “crazy Nancy” (“Nancy louca”), mas a congressista apenas assumiu uma postura mais agressiva nos últimos anos, tendo cultivado preferencialmente a imagem de uma líder dialogante, contra as acusações dos Republicanos, que a viam como a “arrogante” mulher de um empresário milionário e filha de uma família abastada de Baltimore, onde nasceu em 26 de março de 1940.
Mãe de cinco filhos, Pelosi sempre tentou conciliar a vida política com a familiar, mas numa recente entrevista confessou que, durante a guerra do Iraque, em 2003, quando assumiu o papel de congressista opositora dos planos do ex-Presidente George W. Bush, deixou de ter tempo para se ocupar da casa.
Mas Pelosi encontrou tempo para liderar dois processos de ‘impeachment’ contra Trump e apostou numa liderança da bancada Democrata para tentar reforçar o peso do seu partido no Congresso, nas eleições intercalares de 2018, acabando por reconhecer que tinha falhado no seu plano, quando a sua bancada perdeu lugares e, sobretudo, alguns dos rostos que se identificavam com o seu projeto político.
“Pelosi nunca está sob pressão. Pode ter toda a gente a gritar à sua volta, mas nunca perde a compostura”, comentou recentemente um dos seus assessores mais próximos, recordando que a congressista manteve o mesmo sangue-frio quando o seu marido, Paul Pelosi, foi atacado recentemente na casa de famíla por um intruso munido com um martelo.
Nas últimas semanas, Pelosi ainda acreditava que os Democratas manteriam o controlo da Câmara de Representantes, apesar de indicações contrárias de quase todas as sondagens, mas recebeu a confirmação da derrota com a promessa de que continuará a desempenhar funções no Congresso, garantindo que ficará agora com mais disponibilidade para futuras causas, nomeadamente a proteção de ativistas contra o regime da China.