Os chamados ministros palacianos criaram dificuldades para o presidente Lula (PT) neste primeiro ano de governo. A cúpula ministerial foi o principal alvo de críticas e reclamações de aliados, centrão e oposição.
Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Paulo Pimenta (Secom) e Rui Costa (Casa Civil) têm a confiança do presidente, mas são, paradoxalmente, os maiores alvos do governo. Entre aliados há, inclusive, a preocupação de que a insistência neles possa prejudicar a governabilidade de Lula.
A maior insatisfação acontece por parte do Congresso. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chegou a reclamar publicamente da interlocução com o Planalto e fez Lula ‘entrar em campo’ para a articulação.
Do lado dos ministros, auxiliares argumentam que as críticas fazem parte do jogo político.
Alguns admitem que os cargos palacianos são almejados e há quem pense em dar “puxão de tapete” nos titulares. Na defesa dos palacianos, o discurso é de que o governo conseguiu os resultados almejados, como a aprovação de reformas, e que o presidente Lula segue confiando no trabalho de seus ministros.
A relação distante de Padilha com a cúpula do Congresso ficou evidente durante a promulgação da reforma tributária no Congresso. O ministro não teve lugar na mesa e foi ‘esquecido’ nos discursos das autoridades.
Lula, Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, não citaram Padilha nos agradecimentos.
O cargo de Padilha é alvo do centrão, que, nos corredores, diz contar mais com o deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara. O cearense é visto como o “homem de Lira no Planalto” e costuma ter mais entrada com — assim como atender mais aos anseios dos — parlamentares ao centro.
No Congresso, a reclamação é que muitas vezes as promessas feitas e prazos estipulados pelo ministro acabam não se cumprindo, o que já gerou desentendimento com Guimarães. No Planalto, sabe-se que isso se dá, na maioria das vezes, por demora ou escolha do próprio Lula —o que Padilha, fiel ao chefe, evita expor.
Rui Costa é visto como um bom nome técnico, mas fechado demais, segundo aliados.Chamado até por Lula de “Dilma de calças”, em referência à ex-presidente, que também foi sua ministra-chefe da Casa Civil, dizem que Rui é um bom executor e, por isso, coube a ele tocar o Novo PAC.
A reclamação sobre o ministro da Casa Civil é que ainda teria dificuldades para se ‘adequar’ a Brasília. De aliados a opositores, a reclamação é que sua agenda está sempre lotada e que ele abre pouco espaço para os ‘cafezinhos’ de articulação, tradicionais na política de Brasília.
Rui já argumentou publicamente que cumpre o papel da Casa Civil e que não cabe a ele debater com o Congresso, por exemplo.Parlamentares, por sua vez, afirmam que ninguém na capital federal, que ele já chamou de “ilha da fantasia”, está “salvo” do convescote e que portas fechadas não ajudam.
Eu chamo aquilo [Brasília] de ilha da fantasia. Aquele negócio de botar a capital do país longe da vida das pessoas, na minha opinião, fez muito mal ao Brasil. […] Era melhor [a capital] ter ficado no Rio de Janeiro, ou ter ido para São Paulo, para Minas ou Bahia, para que quem fosse entrar num prédio daquele, ou na Câmara dos Deputados ou Senado, passasse, antes de chegar no seu local de trabalho, numa favela, embaixo de viaduto, com gente pedindo comida, vendo gente desempregada”
Rui Costa, em junho, durante evento na Bahia
Desde o início do governo, Lula reclama — em reuniões e publicamente — que os feitos do governo não chegam à população. Ele cobra de Paulo Pimenta e outros assessores que as coisas sejam mas expostas e atinjam o público final.
O próprio ministro da Secom tem feito mea-culpa sobre sua atuação. Em entrevista na última sexta (29), ele falou que a comunicação foi o “erro principal do governo” neste ano e que para 2024 vai “melhorar bastante”.
Entre os planos apontados por Pimenta está maior regionalização das iniciativas e investimento em redes sociais. Também há uma cobrança dentro do Planalto que seja repensado o formado da live “Conversa com o Presidente”, encabeçado por ele e pelo o fotógrafo Ricardo Stuckert, que, mais de seis meses depois, não tem atingido a repercussão almejada.
Mesmo com as reclamações, segundo interlocutores do presidente, a chance de haver uma mudança entre os palacianos na possível reforma ministerial do começo do ano é mínima. Não é segredo que Lula faz grande parte de suas indicações próximas pelo critério da lealdade, e ele confia nos três.
Dentro do Planalto, interlocutores lembram ainda que, como é comum em qualquer governo, mas também muito forte no PT: sempre há pressão para derrubar os principais ministros. Eles atribuem o famoso ‘fogo amigo’ a ‘picuinhas’ inclusive de aliados que gostariam de ganhar uma cadeira ministerial.
Informações UOL