UOL Carros- O encerramento da produção de veículos da Ford no Brasil ganhou mais um capítulo hoje. Dez dias após anunciar o fim da fabricação de carros no país, a empresa foi notificada extrajudicialmente por sua rede de concessionários. A Associação Brasileira dos Distribuidores Ford (Abradif), que representa as revendas, não aceitou o acordo inicial de indenização proposto pela marca do oval azul.
A rede atual, com 283 concessionários, tem valor estimado de R$ 1,5 bilhão, segundo a Abradif. E a expectativa dos concessionários é receber um valor superior a esse como indenização pela rescisão.
Eles exigem que o ressarcimento siga moldes previstos em lei, como a recompra de todo ferramental e também do estoque de veículos zero-km e gastos com reformas, aluguéis, material de PDV, treinamentos e propaganda, entre outros – itens que ficaram fora da primeira proposta apresentada pela Ford.
Outros pontos exigidos pela rede é que a indenização de 24 meses de faturamento seja contado em período anterior ao da pandemia do novo coronavírus. Isso significa período anterior a março de 2020, quando o novo vírus chegou ao País e obrigou o fechamento de concessionárias. Outra reclamação é sobre as vendas diretas: a Ford não quer incluir tais números na conta.
Dos atuais 283 distribuidores, a estimativa é de que a Ford mantenha entre 120 e 130. Esse é o número de revendas que a marca pretende trabalhar em sua nova fase como importadora de veículos. Quem restar, segundo distribuidor consultado por UOL Carros, terá um faturamento de cerca de 20% do que tinha até agora, ao trabalhar apenas com produtos importados, com preço elevado.
Outro temor da rede é que em dois anos a Ford encerre até as operações como importador do Brasil. Isso afetaria concessionários que mantiverem as lojas e que, por isso, receberiam indenização 80% menor o que receberia agora. Por isso, a Abradif exige que mesmo as revendas que permanecerem abertas tenham um encerramento de contrato e a criação de um novo, já com a “Ford Importadora”.
“Ford está com um vira-lata na mão e quer brigar com pitbull”, diz o concessionário, sob condição de anonimato, sobre a intenção da montadora de concorrer com as marcas alemãs e a Volvo. Apenas com carros importados, o ticket médio dos veículosvai situar a Ford na mesma categoria de marcas premium. O temor é que os clientes prefiram pagar o mesmo valor em um carro de luxo.
A fonte diz também que os US$ 4,2 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões) que a Ford tem alocados para pagar as indenizações de todos os envolvidos já estão no Brasil. “Não queremos embate judicial, isso é muito demorado, mas pretendemos travar esse dinheiro e a venda de qualquer ativo pela Ford do Brasil até que todos os distribuidores sejam indenizados”.
“Os executivos querem se aproveitar da crise econômica para pagar menos e embolsar o bônus. Não é justo tratar assim distribuidores que alavancaram a marca, investiram. Há concessionários que estão há quatro gerações no negócio. Teve funcionário desligado de fábrica na Europa que ganhou 190 mil euros de indenização”, finalizou.
O UOL Carros procurou a Ford para questionar sobre a notificação extrajudicial e as críticas dos concessionários. A montadora respondeu que “não irá se manifestar sobre o assunto”.