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iStock

Em tempos de telas, movimentos rápidos e inúmeros estímulos, é possível se concentrar? O pesquisador em neurociência Jean-Philippe Lachaux, autor de quatro livros sobre o assunto, diz que sim, desde que se exercite no dia a dia. Em seu livro mais recente, “A Magia da Concentração”, ele explica como podemos “educar a concentração” para tirar proveito de cada momento da vida.

Diretor de pesquisa no Instituto Nacional de Pesquisas Médicas (Inserm), Lachaux abre o seu livro com uma citação do tenista Novak Djokovic: “Você precisa se isolar de todas as distrações e se concentrar inteiramente no que está fazendo. Para chegar a este nível de concentração, você precisa de bastante experiência e bastante força mental. A gente não nasce pronto, a concentração é algo que a gente precisa construir”.

Lachaux comenta a frase do seu ídolo: “O que eu retenho da citação de Djokovic é que podemos aprender a nos concentrar. A concentração é algo que podemos construir. Depois, a boa questão é como”.

Segundo o pesquisador, como na prática esportiva, é importante reunir as condições favoráveis para toda e qualquer atividade que realizemos.

“Aprender a esquiar leva tempo, fazer judô, aprender a ficar estável, tudo isso leva tempo. E leva tempo também porque são necessárias as boas condições. É preciso estar numa montanha com os esquis nos pés para esquiar, é preciso estar numa sala com tatame para treinar judô. A gente pode aprender a se concentrar o tempo todo; não importa qual atividade da vida cotidiana permite aprender a se concentrar. A gente tem mais satisfação de fazer as coisas, estar com as pessoas, quando estamos concentrados. Não é um calvário, não é um trabalho”, explica.

“Mentalimentação”

O pesquisador, que se dedica ao tema da concentração há mais de 20 anos, acredita que devemos alimentar o cérebro de atenção.

“Na França, principalmente, tomamos tanto cuidado com os alimentos que damos às crianças, verificamos se é orgânico, se não é muito gorduroso ou açucarado, mas na verdade a atenção é o que guia e alimenta o nosso mental. Então precisamos também nos interessar sobre o que damos de alimentação mental aos nossos filhos, é isso o que chamo de mentalimentação”, recomenda.

Lachaux é criador do “Atole”, um programa para descobrir e aprender a atenção no ambiente escolar. “O objetivo é ajudar os alunos a compreender melhor o seu cérebro e as forças que atropelam a sua atenção no dia a dia, e aprender a responder melhor a eles, não só na aula mas também fora”, diz o site do programa.

Estresse é prejudicial à concentração

Os estudantes Norah Gordon, de 10 anos, e Gabriel Demetrescu, de 15, contam, que têm mais dificuldade de se concentrar quando estão estressados.

“Com certeza é quando eu estou menos estressada que eu consigo me concentrar melhor. Fora da escola, é principalmente na yoga que eu fico bem concentrada. E nas aulas de violão um pouco menos, é mais complicado. A yoga ajuda a relaxar, mas no violão são muitos acordes pra aprender… E, para fazer os deveres de casa, eu também fico meio estressada e isso me desconcentra”, conta Norah.

Gabriel Demetrescu explica como a ansiedade o atrapalha: “Normalmente, nas aulas eu consigo prestar atenção, mas, muitas vezes durante as provas de Matemática eu acabo me desconcentrando por nervosismo e ansiedade, por medo de errar”.

Jean-Philippe Lachaux explica que isso acontece porque o cérebro reage mal ao estresse. Ele diz o que deve ser feito neste caso.

“O que se passa com o estresse é que ele vai mudar o equilíbrio químico no córtex pré-frontal, na parte dianteira do cérebro, que rege justamente a concentração. Quando estamos estressados, estamos menos concentrados. Então, neste caso, a primeira coisa a fazer é desacelerar, tentar respirar e se acalmar um pouco. Porque a gente não consegue se concentrar quando está estressado”, afirma.

“Sem atenção não há aprendizagem possível. Se as novas gerações não têm uma atenção estável, eles não conseguem aprender nada. Imagine que tipo de adulto eles serão”, reitera.

O que fazer, então, para que o aprendizado ocorra? “Coisas simples, como dar instruções bem claras, não dar três instruções ao mesmo tempo, apenas uma. Explicar ao aluno o que se espera que ele faça, para que ele saiba, antes de começar uma tarefa, qual é a intenção deste exercício que ele tem de fazer. Tudo isso vai ajudá-los a se concentrar, é evidente”, explica.

Saúde mental

O pesquisador mostra também que há uma ligação entre o controle da atenção e a saúde mental .

“Se você controlar a sua atenção, por exemplo, ela não vai lhe deixar levar por pensamentos depressivos. O fato de pensar o tempo todo em coisas negativas, é a sua atenção que está presa. Então, se você consegue controlar a sua atenção, você pode dirigi-la para uma outra coisa. Isso se aplica também à dor e à sobrecarga mental. A atenção está no foco da saúde metal”, defende.

Para terminar, o cientista comenta que, em tempos de pandemia e de home office, é compreensível que o nosso nível de atenção caia. O segredo, segundo ele, é definir prioridades.

“É um problema ligado ao lockdown, a presença das crianças em casa, enquanto trabalhamos. Temos de conhecer nossos limites, quer dizer, tem coisas que a gente não consegue fazer num ambiente com muita distração. É melhor nem tentar fazer atividades que requerem muita reflexão”, recomenda.

“Meu conselho prático é que a primeira parte do dia é uma situação de guerra, com as crianças pedindo coisas, pedindo atenção. Tudo o que exige reflexão deve ser feito de manhã cedo, quando eles ainda dormem, ou no final do dia. Fazer uma lista do que precisa ser feito e separá-la em partes, anotar tudo nos mínimos detalhes. E, quando você estiver no meio do dia, pegar da lista uma pequena missão e fazê-la, uma por uma”, conclui o pesquisador.

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