Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv sugerem que, para caçar animais de menor porte, foi necessário que os seres humanos desenvolvessem habilidades mais complexas
Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, em Israel, elaboraram uma nova teoria para explicar a evolução fisiológica, comportamental e cultural da espécie humana desde sua primeira aparição, cerca de 2 milhões de anos, até a Revolução Agrícola, por volta de 10 mil a.C. Evidenciado pelo aumento do volume cerebral de 650 centímetros cúbicos (cc) para 1500 cc, esse fenômeno tem como ponto central a extinção de animais de grande porte e, como motor, a própria humanidade.
Nos últimos anos, cada vez mais evidências têm sugerido que a espécie humana foi um fator significativo para o desaparecimento desses animais, aponta o estudo publicado em fevereiro no Quaternary Journal. Quando os seres humanos surgiram na África, há 2,6 milhões de anos, o peso médio de mamíferos terrestres era cerca de 500 kg. Pouco antes do surgimento da agricultura, esse número caiu e chegou a dezenas de quilogramas.saiba mais
Com a diminuição da disponibilidade de presas grandes, os humanos tiveram que desenvolver habilidades cognitivas mais complexas para caçar animais de menor porte. “Nós relacionamos o aumento do volume do cérebro humano com a necessidade de se tornar um caçador mais esperto”, declara, em nota, o especialista Miki Ben-Dor, do Departamento de Arqueologia da universidade israelense.
Os pesquisadores afirmam que, diante de presas menores e mais velozes, os humanos foram forçados a apresentar astúcia e ousadia. Esse processo evolutivo exigiu o aumento do volume do cérebro e, posteriormente, resultou no desenvolvimento de uma linguagem que possibilitava a troca de informações sobre locais onde os animais poderiam ser encontrados. O objetivo principal dessas transformações era apenas um: conservar energia corporal.
“A necessidade de caçar uma dúzia de gazelas em vez de um elefante gerou uma pressão prolongada nas funções cerebrais humanas, que estavam usando muito mais energia para pensar e se movimentar”, explica Ben-Dor. “Caçar animais pequenos, que estão constantemente ameaçados por predadores e são muito mais rápidos para fugir, requer uma fisiologia adaptada para persegui-los, assim como ferramentas mais sofisticadas”, complementa. Houve também a elevação da atividade cognitiva, uma vez que era preciso tomar decisões rápidas e conhecer o comportamento dos animais — informações que demandavam uma maor capacidade de memorização.
A adaptação humana, avalia Ben-Dor, foi bem-sucedida. “No fim da Idade da Pedra, com animais ainda menores, os homens gastavam mais energia do que ganhavam ao caçar. Foi nesse momento que houve a Revolução Agrícola, envolvendo a domesticação de animais e plantas”, afirma o especialista. “Conforme se mudaram para assentamentos permanentes e se tornaram fazendeiros, o tamanho do cérebro diminuiu para o volume atual de 1300-1400 cc. Isso porque, com plantas e animais domesticados que não voavam, não havia mais necessidade de utilizar habilidades cognitivas excepcionais para a tarefa de caça”.saiba mais
De acordo Ran Barkai, que também assina o estudo, enquanto o cérebro de chimpanzés, por exemplo, permaneceu estável por 7 milhões de anos, o de humanos triplicou e alcançou seu maior tamanho há 300 mil anos. “Seres humanos criaram esse problema para eles. Ao focar em animais maiores, eles causaram extinções e acabaram com a própria subsistência”, explica. “Mas, enquanto outras espécies, como os neandertais, desapareceram junto com presas grandes, o Homo sapiensdecidiu começar do início novamente, dessa vez se apoiando na agricultura”, conclui.
Revista Galileu