A cena parecia saída de alguma fantasia sexual, mas era real: no meio de 12 trios seminus, lá estava eu sendo massageado por duas “sacerdotisas” em um ritual de sacralidade do corpo. Passados alguns segundos, uma delas se levantou, sentou-se em um banco e desabou em lágrimas. Logo ao lado, em outro triângulo mais que amoroso, começaram suspiros de prazer, que transbordaram em uma gargalhada e terminaram em soluços chorosos.
Como diria Cleyton Sales, nosso guia ali, “se engana quem acredita que retiro tântrico é um surubão da p…”. Depois de quatro imersões desse tipo, devo concordar: está mais para uma maratona de terapias de grupo. Só que com pouca roupa e muita emoção e contato entre os participantes.
O retiro em uma pousada rural em Ibiúna (SP)começou na sexta à noite. Uma participante atrasada pensou até em voltar atrás depois de chegar com o primeiro exercício já em andamento. “Vi pessoas em pé com o bumbum de fora, e outras deitadas, cobertas até a cabeça e quietas. Fiquei até com medo. Achei que tinha entrado no sítio errado”, confessou para o grupo, para risada geral. Aquela era uma “cerimônia de morte e renascimento”, para estimular os integrantes a “enterrarem” antigos sentimentos e se reinaugurarem.
O mundo interior não costuma responder tão rápido assim, e o pranto ressurgiu várias vezes nos três dias de estadia. Durante esse tempo, ficou claro que a massagem tântrica pode acessar áreas erógenas tanto quanto memórias afetivas que ficaram registradas só na pele.
No grupo de WhatsApp criado para congregar os novatos tântricos, a mudança era nítida. Antes do retiro, uns teclavam seus receios, enquanto outros se diziam confiantes porque “a posição dos astros” iria ajudar na “liberação da energia sexual”.
Depois da experiência, todas as mensagens no aplicativo eram de amor incondicional a tudo e a todos. Na volta à rotina, os iniciados ficaram amorosos e aéreos nos dias que se seguiram, com uma vontade incontrolável de desabafar o que estava entalado no peito para parentes, parças e peguetes.
Para um jornalista, o mais difícil em uma situação dessas é seguir o princípio oriental do “não-julgamento”, afinal, o ofício obriga a observar, comparar e descrever. Para muitas filosofias vindas da Ásia, qualquer juízo representa uma repressão e impede a consciência plena — é só pensar nos típicos posts e comentários da internet e fica fácil concordar com essa ideia.
Esse conceito ainda ajuda a se abrir para o tempo presente. Portanto, devia domar meu monstro do “senso crítico”. Outros integrantes do retiro enfrentaram desafios maiores. “Eu nunca tinha rebolado na minha vida”, testemunhou o rapaz de ascendência japonesa depois de sessão de movimentos para liberar a energia pélvica criativa, ao som de samba, salsa e música indiana. A sessão se chamava “kundalini up” — pelas crenças indianas, kundalini é uma força que sobe em espiral do cóccix até o topo do crânio e pode levar ao nirvana.
Enquanto a rotação dos quadris ajudava a liberar o lado feminino nos homens, uma bateria de sarradas no ar e urros trazia o lado masculino das mulheres à tona. Elas se empolgaram tanto na prática que o tapete de borracha desencaixou todo, e o piso parecia mais um chão cheio de fissuras após um terremoto.
Nas conversas, o casal de mentores, Cleyton e Bia, explicou os cinco pilares do prazer: desejo, presença, movimento, respiração e som. A trilha sonora do retiro ia da música mais mística à mais meiga. No meio delas, por vezes, dava para escutar o barulho da louça vindo da cozinha, afinal, só uma cortina separava a nudez dos hóspedes das funcionárias uniformizadas que garantiam a energia para o chacra da barriga deles.
Depois de muitas conversas, exercícios de respiração e meditações ativas, chegou a hora da massagem. A primeira e principal instrução era que tudo devia ser comunicado e consentido, para que não houvesse qualquer mal-entendido ou abuso. “Eu vou passar minha barba sobre sua coxa e deslizar minha mão delicadamente até seus pés”, anunciava o massageador. A massageada repetia as coordenadas e concordava antes da ação.
Para quem recebia a massagem, a sensação era que os deuses abandonaram o céu e pousaram naqueles colchonetes. Mas a história era outra para o massageador calouro: ao pouco tempo os joelhos ficavam desconfortáveis, as pernas bambeavam, as costas doíam de tanto se curvar, e você tinha que se manter inclinado e equilibrado para que só a ponta de seus dedos tocassem o corpo alheio. E ainda torcendo para que não aparecesse mosquito ou mosca e atrapalhasse “todo o processo”.
Embaixo da pele arrepiada, ondas de energia fluiam e, nos picos de eletricidade, emitiam espasmos e gemidos. Os professores passeavam pelo salão orientando. “Pessoal, vamos respirar para o orgasmo se espalhar pelo corpo”, avisava Bia. “Coloca mais Eros nesse movimento, gente”, aconselhava Cleyton.
Naquele grupo, majoritariamente de solteiros e novatos, o limite eram os genitais. Em cursos mais avançados ensina-se manobras no lingam e na yoni, palavras em sânscrito para o órgão sexual masculino e feminino, respectivamente. O nível seguinte inclui o maithuna, o tal sexo tântrico, mas só casais podem se matricular nessa liturgia carnal.
Um esoterismo a la carte ronda os cursos tântricos. Imagens e livros do polêmico guru indiano Osho ficam lado a lado nos altares com símbolos orientais e cristãos. Nas formações da terapeuta Carol Teixeira, por exemplo, sempre há esculturas de Kali, deusa da mudança segundo o hinduísmo. Já no curso de Ibiúna havia uma mesa com imagens de São Francisco e Buda.
“A gente pega um pouco de cada escola e tenta simplificar os conhecimentos, sem muito misticismo. Queremos provocar, chacoalhar as pessoas e não ficar passando muitos termos para decorar”, afirma Cleyton.
Dos participantes, a maioria teve uma formação religiosa tradicional. O tantra ganha uma força libertadora para eles, porque, ao contrário do cristianismo, apresenta as sensações físicas como um dos caminhos para o sagrado.
A opção por esse sincretismo é esclarecida por Cleyton, que vem de uma família mórmom: “Os extremismos, as dualidades e as polarizações nos afastam de nós mesmos. Quando percebemos que tudo é sagrado, inclusive o corpo, nossa percepção muda.” Os polos são importantes, porém, durante a massagem: uma das recomendações é tocar ao mesmo tempo costas e ventre ou pernas e cabeça para aumentar a sensibilidade.
Segundo o terapeuta, a popularização do tantra é difícil porque se requer um ambiente de segurança e cuidado para tatear corpos e almas. “Muitas pessoas precisam mais de um abraço do que de uma massagem. Outras necessitam um cantinho para chorar, quietas, sem que ninguém fique consolando. O elemento essencial do tantra é a água, vertendo em lágrima, suor, secreção e ajudando a extravasar os sentimentos”, sintetizou Cleyton.
O retiro começou e terminou com fogueiras. Na primeira delas, se jogou sobre as chamas papéis em que os alunos escreveram uma emoção negativa a ser eliminada. Diante do fogo da despedida, os participantes, vestidos de branco, celebraram um “autocasamento”, com juras de amor próprio. Depois de proferido, o discurso era incinerado. Uma das participantes se empolgou nos agradecimentos ao casal de mentores: “Vocês mostraram que Deus é uma delícia. Obrigado, seus tesudos.”
Assim como o amor romântico dominou o século 19 e o amor livre deu as caras no século 20, nesse início de milênio é o amor próprio o sentimento preponderante, o que fica claro no narcisismo das redes sociais e na miríade de cirurgias e tratamentos estéticos. A auto-aceitação, como o curso preconiza, consegue entrar também nessa lógica, por outro caminho.
“Olha o infiltrado aí. Vê lá o que você vai escrever, hein?”, brincava, quando cruzava por mim, uma das organizadoras que sabia minha identidade secreta. Enquanto meus companheiros só precisavam se preocupar em tocar o impalpável, eu tinha que apalpar meu bolso, tirar de lá discretamente meu caderninho de anotações e rabiscar palavras e percepções que não podia deixar que fugissem. Afinal, minhas mãos deviam cumprir outra missão saindo dali: dedilhar esse texto.
Informações Tab UOL
O transtorno de acumulação compulsiva costuma causar muito sofrimento para o paciente e sua família. Na maior parte das situações, mesmo vivendo entre lixo e bichos, a pessoa não consegue se dar conta da gravidade do problema.
Saber por que alguém age assim é fundamental para ter uma compreensão mais ampla dessa enfermidade e, assim, ajudar. A seguir, tire oito dúvidas sobre o transtorno.
As pessoas com transtorno de acumulação têm uma dificuldade persistente de descartar ou de se desfazer de suas coisas, independentemente do valor real que os objetos tenham. A simples ideia de jogar ou doar algum desses objetos gera muito sofrimento e ansiedade. Para ser considerada um transtorno psiquiátrico, a acumulação precisa causar prejuízos na vida da pessoa, como, por exemplo, ela viver entre cômodos entulhados de coisas, afetando a movimentação e até a própria higiene.
Alguns acumuladores podem chegar a comprar itens que não usam nunca e se endividarem por isso, ou até mesmo roubar, pois sentem que “precisam” ter tal objeto. A diferença entre um acumulador e um colecionador é que o segundo organiza e mostra, geralmente com satisfação e orgulho, toda sua coletânea. Para o acumulador, tudo é desorganizado, amontoado e causa desconforto a ele próprio.
A genética, o funcionamento do cérebro e os eventos estressantes da vida têm sido alvo de pesquisas como possíveis causas. O transtorno geralmente começa na adolescência e tende a piorar com a idade. Ele afeta, em pelo menos 50% das vezes, pessoas cujos familiares próximos —pais, por exemplo— também são acometidos pela doença. Outras desenvolvem o problema depois da morte de um ente querido, divórcio, despejo ou perda de bens em um incêndio.
Entre as características comportamentais comuns de quem sofre com o transtornos estão a indecisão, o perfeccionismo, a procrastinação, a dificuldade de planejar e organizar tarefas, o evitamento de situações que consideram ansiogênicas e a distraibilidade, que significa dificuldade ou incapacidade para se fixar ou se ater a qualquer coisa que implique esforço produtivo. Em geral, essas pessoas vivem sozinhas e escondem dos amigos e familiares a própria condição.
Um dos fatores é a chamada dissonância cognitiva, uma discrepância entre as atitudes ou comportamentos que a pessoa acredita serem certos e o que realmente é praticado. Quando isso acontece, há um dilema existencial que produz muito sofrimento. A distorção faz com que o acumulador não perceba a gravidade do próprio problema, já que a ideia de se livrar de quaisquer objetos é angustiante, maior do que as dificuldades de viver no ambiente insalubre que criou.
Os acumuladores percebem o excesso, mas podem acreditar na real necessidade da acumulação: “e se eu precisar disso amanhã por algum motivo?”, “e se eu jogar fora e o lixo acumulado fizer mal ao meio ambiente?”, “e se minha mãe me pedir algo desse tipo”, e demais pensamentos do tipo. Em certas situações, a limpeza não ocorre porque os objetos tomam todo o espaço e limpar se torna impossível. Às vezes, as condições de saúde mental nem permitem perceber a sujeira ou que a pessoa seja incomodada por ela.
Cientificamente, não existe nenhuma correlação entre os dois transtornos, mas as compras compulsivas podem ocorrer junto da acumulação. Entretanto, um comportamento não está necessariamente vinculado ao outro e as compras compulsivas podem vir como sintoma de outros transtornos.
O grau varia de leve a grave. Em alguns casos, pode não ter muito impacto na vida da pessoa, enquanto em outros casos afeta seriamente seu funcionamento diário. Nos quadros extremos, em que o acúmulo de objetos soterra os móveis da casa, as pessoas podem dormir ou cozinhar em meio à sujeira e usar potes e garrafas para guardar fezes e urina.
Um dos maiores malefícios é quando a pessoa se vê também refém da síndrome de Diógenes, um conjunto de sinais e sintomas ligados a alterações comportamentais como negligência extrema no autocuidado, desorganização do ambiente doméstico, retraimento social e ausência de percepção sobre a situação, o que leva os indivíduos a recusarem ajuda.
Com o decorrer do tempo, o acúmulo passa a ser tão extremo que compromete a higiene local, atraindo a presença de bichos, e isso também pode desencadear algumas doenças de pele e infecções. Isso gera atritos com vizinhos que reclamam do odor e dos bichos e também com as autoridades. Consertos de água e luz da casa podem ficar impossibilitados. A sujeira se acumula e pode atrair bichos e a higiene e a saúde ficam ainda mais comprometidas. Em quintais, por exemplo, pode ocorrer acúmulo de água em vasilhames ou latas e resultar em criadouro de transmissores de doenças como a dengue. Há um comprometimento total da qualidade de vida e das relações interpessoais e familiares.
O tratamento mais conhecido e adotado é a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental), no qual o psicoterapeuta ajuda o paciente a ter diferentes modos de pensar sobre os objetos acumulados, além de treinar a motivação e a modificação de comportamentos em termos de aquisição, acúmulo, descarte e organização, tanto do espaço físico quanto dos objetos. O uso de medicamentos também pode ser recomendável, uma vez que permitem que o indivíduo seja mais capaz de se envolver no processo de tratamento, seja melhorando seu humor ou reduzindo sua ansiedade.
O acompanhamento para qualquer transtorno de impulso é de longo prazo e contínuo. Em vez de cura, o ideal é falar em remissão ou diminuição dos sintomas. A frequência dos atendimentos é revista, dependendo da necessidade do paciente. De forma geral, porém, quanto mais precocemente se iniciam os tratamentos, mais chances de sucesso. O apoio da família, vale frisar, é fundamental, principalmente se for livre de julgamento e tiver um viés prático, como auxiliar no descarte das coisas e na checagem constante das condições de vida da pessoa.
Fontes: Bruno Mendonça Coêlho, psiquiatra de adultos e da infância e adolescência, doutor em ciências pela USP (Universidade de São Paulo) e pesquisador do Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP); Daniela de Oliveira, psicóloga clínica e integrante do Ambulatório de Medicina e Estilo de Vida do HCFMUSP ; Henrique Bottura, diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista, em São Paulo (SP), e colaborador do ambulatório de impulsividade do IPq-HCFMUSP,; Suely Sales Guimarães, doutora em psicologia pela University of Kansas (EUA) e docente do Centro Universitário Brasília (DF).
Informações UOL
“Não queremos anular a rapidinha da sua vida, mas provar que sexo não é só um ato de alívio físico.”
É fim de tarde e cerca de 50 pessoas dispostas em círculo ouvem atentas os ensinamentos de uma terapeuta sexual, que mostra técnicas para “alcançar o êxtase” através da “arte do prazer próprio”. Primeiro passo: respiração. Os participantes inspiram lentamente o ar e soltam um gemido orgástico enquanto expiram. “A arte do autoprazer começa pela respiração, mas o toque, o som e o movimento também são importantes”, garante.
Depois de 20 minutos compartilhando suas experiências e explicando o significado de sexualidade sadia, ela lança: “Agora, vamos para a prática”. É nessa hora que pede aos presentes que fiquem de quatro. A nudez está liberada.
“Simulem um círculo com o ‘rabo’ de vocês. Vamos! Quero ouvir a respiração, mais alto”, estimula a terapeuta. O movimento tem que partir do cóccix e seguir até o pescoço. “Tocar-se é um exercício de meditação.”
A palavra “masturbação” não é mencionada. “Fomos condicionados a achar que autoprazer é algo feito rápido, por puro tesão. Aqui, vamos desconstruir esse conceito juntos. “Quem se sentir à vontade, pode deitar no chão.” Imediatamente, o círculo se fecha e corpos nus se espalham pelo espaço. Os toques nas genitais são lentos.
O workshop de quase duas horas culmina com alguns alcançando o clímax e dá uma prévia do que está por vir.
No início de fevereiro, Universa passou quatro dias no “Sexsibility Brasil”, primeira edição nacional do festival de sexualidade positiva que acontece há 12 anos na Suécia. “Comecei esse trabalho porque eu era neurótico com relação à sexualidade”, conta o sueco Lorenzo Stiernquist, de 50 anos, fundador do movimento.
Ele relembra: “Terminei um casamento de 14 anos, perdi o emprego e tinha dois filhos para criar. Fiquei perdido. E resolvi olhar para a minha vida sexual”. Depois de ler um livro que falava sobre o “poder do orgasmo no empoderamento feminino”, decidiu criar eventos que exploravam a temática. Logo se tornou professor de tantra, coach de sexualidade e fundou o Sexsibility Festival.
Trazido por um brasileiro que participou do festival sueco em 2019, ele pede para não ser identificado por trabalhar no mercado financeiro. Ainda assim, na abertura do evento, sobe ao palco e declara: “Para mim, é um sonho sendo realizado. Nesses dois anos e meio eu descobri meu propósito de vida: fomentar a sexualidade saudável no mundo”.
As condutas e normas são claras: é vetado o uso de qualquer substância de expansão de consciência (drogas, álcool ou cigarro) e a prática da nudez fica restrita a algumas áreas por causa de desavenças com a comunidade da vila ecológica da Bahia escolhida para receber o evento.
Quanto à camisinha, uma regra básica: o usuário deve jogar o “fluído sagrado” (sêmen) na natureza, lavar o objeto e descartá-lo em caixas de papelão disponíveis. A promessa era a de que o lixo produzido viraria material para bioconstrução.
O evento de abertura se encerra sob um forte coro de respiração orgástica e um pedido de Lorenzo: colocar uma das mãos sobre a genitália e a outra sobre o coração. “Das genitais vêm o poder do coração.”
Encravada entre o rio e o mar, a área do festival é composta por três “ocas” temáticas, onde acontecem as palestras e workshops, além dos espaços reservados para a troca sexual: um playroom e um centro tântrico que só funcionam à noite. As atividade são classificadas por desenhos de “chillis” (pimentas), que variam de acordo com sua intensidade.
Entre as opções, palestra sobre “sexo sagrado solo com respiração”, aula sobre “cordas (shibari) tântricas” para casais e um workshop sobre pornografia pessoal. Em comum, a abordagem espiritual do assunto. “Vim para um processo de cura”, conta a consultora de projetos digitais Kamila Camillo, de 29 anos, que estava havia três anos sem transar. Depois de uma desilusão amorosa, decidiu “focar” a energia sexual em outras áreas, como a profissional.
O celibato, segundo ela, funcionou. Só que tinha chegado a hora de quebrar o jejum de sexo. “Não vim para cá esperando nada do festival, mas sim de mim. Acho que aqui consigo ser quem eu sou e viver a sexualidade da maneira que quiser”, afirma.
Acredito que só dá para alcançar a cura através da liberdade. E a verdadeira liberdade só a sexualidade pode trazer Kamila Camillo
A carioca Vanessa também chegou atrás de um tratamento espiritual para a própria sexualidade. “É uma área que venho curando dentro de mim. Entrei nesse mundo porque descobri que tinha o chacra da sexualidade bloqueado. Queria aprender ferramentas e atividades para me curar”, explica.
Ela, que é massoterapeuta tântrica e tem 22 anos, descobriu esse descompasso entre o “yin and yang” por causa de relacionamentos passados. “Era muito dominadora com meus parceiros. Sentia que os caras não eram suficientes para mim. Não sabia comunicar como gostava de ser tocada, era traumatizada por causa da minha infância violenta”. No festival, ela garante estar sendo tratada.
Para receber o “tratamento”, Vanessa desembolsou R$ 1.900 pelo ingresso do festival, que chegava a R$ 5 mil para quem optasse por uma suíte particular (com refeição inclusa).
Uma meditação abria os dias, às 7h. Quem se sentisse confortável, podia fazer as práticas despidos. Um time de facilitadores oferecia atendimento emocional aos participantes — o “emoteam”. Diariamente, também aconteciam as “partilhas”, momento em que um grupo de participantes conversava sobre suas vivências no festival.
Para a pornógrafa e educadora sexual Luiza Tormenta, de 30, sexualidade nunca foi um problema. Pelo contrário: “Claro que a sexualidade pode ser doentia, mas os debates que o festival levanta vão além do sexo, como é o caso das rodas e palestras sobre consentimento que acontecem aqui”.
Existe algo de espiritual no prazer. No ápice do orgasmo é quando me sinto mais próxima de Deus Luiza Tormenta
Foi em busca dessa plenitude espiritual que a americana Kristina Caltabiano aterrizou no litoral sul da Bahia. “Meu propósito é repensar a maneira como vejo a minha sexualidade. Em uma relação com homens, me entrego demais e esqueço de olhar para mim. Aqui, estou buscando redefinir meus limites com o outro”, desabafa. Para ela, participar do evento é um “ato de amor próprio”.
Solteira aos 32 anos, nômade digital e com uma vida sexual ativa, Kristina revela ter dificuldades em algumas atividades. “Quando estou em um grupo só de mulheres, me sinto segura. Com homens, meu corpo responde instantaneamente”, reflete.
Dos 120 participantes do evento, cerca de 80 são mulheres. Ainda assim, a presença masculina é marcante. A maioria héteros, brancos e cisgêneros, traziam barba no rosto, usavam coque, falavam sobre poliamor e praticavam yoga.
O desconforto de Kristina é compreensível. Apesar das palestras sobre consentimento e a importância de respeitar a vontade alheia, alguns homens dirigiam seus olhares para os corpos das mulheres de maneira possessiva.
Em workshops que envolviam toque físico — ainda que limites fossem traçados — participantes insistiam para romper esses pactos. “Não estou te abraçando, este é — na verdade — um exercício do tantra”, ouvi de um deles.
Só foi possível experimentar o tesão coletivo ao escolher uma parceira do sexo feminino para realizar oficinas. “Olhe para ela como se fosse uma deusa. Trate-a como algo inalcançável, sinta desejo, dance para ela, honre-a”, instigava a facilitadora. E assim foi feito.
A prática da penetração não era estimulada em oficinas nem workshops; só era permitida no “playroom”, uma cabana temática formada por folhas de bananeira, luz neon e corpos nus. No ar, o cheiro de incenso. Gemidos e barulhos de tapa contrastavam com o som do forró que vinha do fundo da casa.
“Vá para o playroom mesmo que não faça nada; vá e fique olhando. Ainda que você se ache um estranho no ninho, é importante se habituar. Com o tempo, ficará mais confortável com o ambiente”, pregavam os facilitadores. Foi o que fiz. Para tentar entrar no clima, deixei me levar pelo ritmo do forró enquanto, no quarto ao lado, casais transavam. A sintonia com o parceiro de dança não foi das melhores — a energia não bateu. Naquela noite, fui para a cama sozinha.
Embora não tenha gozado do festival na sua plenitude, a experiência foi positiva. Nunca imaginei participar de uma oficina sobre “penetração energética”, em que um grande pênis dourado e imaginário “ocupava” a sala.
Ver tantas mulheres em um só lugar celebrando a própria sexualidade, questionando padrões, se tocando, foi libertador. As palestras e rodas de conversa sobre consentimento também foram importantes — olhar para si mesma e questionar os próprios limites é enriquecedor.
Sem dúvidas, aproximei ainda mais o coração da genitália, como ensinou Lorenzo. “Ano que vem queremos realizar o festival novamente”, planeja ele.
Informações Universa UOL
Comece o planejamento do último mês do ano para vencer a ansiedade e antecipar possíveis imprevistos comuns nesta época do ano
Com o ano chegando ao fim, é tempo de descansar, sair da rotina, viajar, celebrar a vida e trocar presentes com quem se tem afeto. E todo o cansaço de um ano tão desafiador, que foi 2021, faz com que as pessoas se desliguem das atividades que envolvem o seu lado profissional, o que pode ser um risco para seus objetivos. Algumas empresas têm o famoso “recesso de final de ano”, trata-se de um período de 5 a 10 dias que envolve o descanso aos colaboradores. Outros negócios funcionarão no esquema de plantão em que os funcionários se alternam nos dias de trabalho entre o natal e ano novo.
Seja lá qual for o modelo de trabalho neste mês de Dezembro, trata-se de um mês desafiador, já que os profissionais estão preocupados com a entrega final de resultados do ano que se encerra, com o fechamento do balanço da empresa, com as festas de final de ano, com as férias dos filhos, entre outras questões.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil lidera o ranking mundial de pessoas com ansiedade, com quase 19 milhões de pessoas com a doença. Vale ressaltar que esses índices, apesar de terem aumentado por conta da pandemia, são muito parecidos com os do período anterior ao surgimento da Covid-19. E essa ansiedade tende a aumentar, ainda mais, neste último mês do ano. Afinal, entre o que será cozinhado na festa de natal, e todo o trabalho que precisa ser entregue, antes de encerrar o ano, a mente dos brasileiros tornam-se inquietas. E esse cenário pode favorecer o aumento do estresse e levar a prejuízos na carreira profissional em 2022.
“Uma das técnicas que o profissional pode usar, neste último mês do ano, é o Mindfulness. Trata-se do ato de se manter no presente, ou seja, ter foco na atividade laboral que está desenvolvendo. Não é errado pensar no planejamento das festas e/ou o que fará no recesso de trabalho. Mas, é necessário delimitar um horário para esse planejamento pessoal, de lazer e atividades que não envolvam o trabalho de fato. Desde que o indivíduo planeje a sua rotina do mês, no início de Dezembro, a chance de conter os imprevistos é maior”, disse Jefferson Vendrametto, Diretor do Cebrac, e especialista em carreiras.
Para ajudar a você, a vencer a ansiedade deste final de ano e planejar o seu 2022, Jefferson Vendrametto, Diretor e especialista em carreira do CEBRAC , lista 5 dicas para começar planejar mês de Dezembro
1) Comece pelas atividades mais difíceis
Para que seja possível programar os caminhos do novo ano, é importante que você consiga entregar um bom trabalho neste mês. Não adianta pensar em 2022, quando,no último mês é quando entregamos os resultados finais no trabalho. Por isso, comece com as atividades laborais mais intrincadas e após cumpri-las, siga para as operacionais. Dará uma sensação de tranquilidade, no dia a dia, quando você notar que já cumpriu com as atividades mais difíceis e o dia fkuirá melhor.
2) Crie um plano de ação para 2022
Para programar um novo ano, é importante que você reconheça e liste seus objetivos profissionais, aonde quer chegar e o porquê. A principal função das metas é ter um norte. Quando uma pessoa sabe o que quer, ela se torna mais comprometida com o plano de ação que irá criar e com todas as metas estabelecidas. Estruturar um plano de ação estratégico é um desafio para muita gente. Afinal, muitas questões precisam ser consideradas durante o planejamento, incluindo as tarefas a serem realizadas, data de início e fim para cada meta, quais os possíveis caminhos e adversidades que encontrará durante o processo e tudo que precisa priorizar para que o objetivo seja alcançado. Estabeleça todos os degraus e quanto tempo levará para chegar no final. Com calma, estratégia e inteligência, você conseguirá criar o melhor cenário para essa realização.
3) Estabeleça prazos para a vida pessoal e profissional
Estabelecendo prazos, você fica ciente de quais são as suas tarefas e de quanto tempo vai demorar para completá-las. Isso ajuda a organizar o processo e a manter tudo funcionando conforme o planejamento, sendo até mais fácil identificar possíveis falhas. Com isso, vai conseguir visualizar a realização dos seus objetivos e as progressões de médio e curto prazo. E o mais importante: sempre tenha as metas pessoais alinhadas aos profissionais.
4) Se prepare
Visualizando seu futuro, analise quais preparações devem ser feitas, quais qualificações deverá buscar e todas as mudanças de comportamento necessárias. Considere se qualificar para se preparar tecnicamente para as funções e atribuições profissionais desejadas. Buscar uma nova posição dentro do mercado de trabalho cada vez mais exigente requer uma boa preparação. O CEBRAC (Centro Brasileiro de Cursos), possui diversos cursos que podem te ajudar a traçar com mais segurança e propriedade os caminhos da sua busca profissional.
5) Divida as responsabilidades
Envolva os seus amigos,e familiares nos preparativos das festas de final de ano. Compartilhe no trabalho atividades que possam ser executadas em conjunto. Lembrem-se: não precisamos dar conta de tudo sozinhos(a).
Informações Bahia.ba
Entidade britânica diz que donos abandonam seus próprios cães em abrigos fingindo que encontraram os animais na rua.
Um dia depois de receber a cachorrinha Maggie, de um ano idade, a equipe do abrigo Hope Rescue Center, no Reino Unido, encontrou um anúncio na internet em que os donos tinham tentado vendê-la por 500 libras (quase R$ 3,9 mil).
Como não conseguiram vendê-la, os donos abandonaram a cachorra – da raça English Sheepdog (Cão Pastor Inglês) – no abrigo dizendo que ela tinha sido encontrada na rua.
“Nós não podemos recusar cães de rua, então cães que tinham donos estão entrando na fila à frente dos cães que realmente estavam abandonados”, diz Sara Rosser, chefe de bem-estar animal do Hope Rescue Center. “É um número sem precedentes no momento”, afirma.
O caso de Maggie não é único. Funcionários da instituição de caridade dizem que diversos donos de cães têm fingindo que seus próprios animais de estimação são vira-latas encontrados na rua e deixado os bichos em abrigos.
O Hope Rescue diz que o número de cães deixados em seu centro de resgate foi o maior em seus 15 anos de história.
A instituição de caridade acredita que a tendência é que o número continue alto. Mais de 3,2 milhões de animais de estimação foram comprados no Reino Unido durante o lockdown decretado para combater a pandemia de coronavírus, segundo números do governo.
Rosser afirma que só na semana passada cinco pessoas foram ao centro com cães que claramente eram seus próprios animais de estimação, mas o número “pode ser muito maior”.
O centro agora tem 150 animais abandonados – o maior número que já teve. “Todos os abrigos estão lotados e os veterinários ligam para nós contando que pessoas abandonaram bichos na clínica”, diz Rosser.
“Eles dizem ‘há alguma chance de vocês abrigarem os animais? Porque estamos preocupados que eles acabem tendo que ser sacrificados’.”
O Hope Rescue disse que recebeu mais de 7 mil pedidos de adoção de cães em 2021, durante a pandemia e teve que suspender os pedidos por causa do volume. Mas mesmo assim os centros estão lotados por causa do aumento de pessoas que receberam cães durante o confinamento da pandemia e depois perceberam que não podiam cuidar deles quando a vida voltou ao normal.
“No momento, estamos ouvindo de todos os centros de resgate com que trabalhamos que eles também estão lotados e que estão sob enorme pressão”.
Os cães que chegam aos centros de resgate pós-pandemia têm uma incidência maior de problemas de saúde ou de comportamento, ou ambos, tornando mais difícil encontrar um novo lar para eles.
Frequentemente os cães não podem ser transferidos para outros centros de resgate porque eles também atingiram a capacidade máxima.
“Achamos que isso vai durar de dois a três anos, talvez até mais”, diz Meg Williams, gerente de desenvolvimento da Hope Rescue.
O Brasil também tem sofrido com o abandono de animais de estimação durante a pandemia. Não há dados oficiais sobre o tema.
ONGs e entidades que cuidam de bichos abandonados relatam que a onda de adoções em 2020 foi seguida por um grande aumento nos números de bichos deixados desamparados por seus donos neste ano.
No início de 2021 a entidade Ampara Animal divulgou um levantamento com a estimativa de que o abandono cresceu 60% entre julho de 2020 e fevereiro de 2021 em comparação com o mesmo período nos anos anteriores.
Outras entidades, como a Associação Protetora dos Animais do Distrito Federal, e abrigos vêm relatando o mesmo problema.
Informações UOL
Pesquisa avaliou relação entre as taxas de suicídio, desemprego e relações familiares na população masculina de 20 países, incluindo Estados Unidos, Espanha, Japão, Reino Unido e Áustria
Homens que se dedicam mais aos cuidados familiares têm menor risco de cometer suicídio quando se veem diante de um cenário de desemprego ou instabilidade econômica. É o que conclui um estudo publicado em maio na revista médica Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology.
A pesquisa avaliou a relação entre as taxas de suicídio, desemprego e relações familiares na população masculina de 20 países-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), incluindo Estados Unidos, Espanha, Japão, Reino Unido e Áustria.
O levantamento multinacional aponta que, ao contrário do que predizem a maior parte das teorias que tentam explicar por que as taxas globais de suícidio são maiores entre a população masculina, as adversidades econômicas e a consequente ameaça ao papel de “provedor” – historicamente atribuído aos homens – não são capazes de explicar totalmente a vulnerabilidade desse grupo ao ato de tirar a própria vida.
Os resultados foram obtidos a partir de uma investigação multidisciplinar dos dados de assistência familiar reunidos pelo Banco de Dados de Famílias da OCDE, que contém informações sobre 70 indicadores divididos em quatro categorias principais, incluindo estrutura das famílias dos países-membros e sua posição no mercado de trabalho.
Participaram do mapeamento cinco pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento: Ying-Yeh Chen, do Departamento de Saúde Pública da Universidade Nacional Yangming Jiaotong, em Taiwan; Silvia Sara Canetto, do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual do Colorado, nos Estados Unidos; Qingsong Chang, da Escola de Sociologia e Antropologia da Universidade Xiamen, na China; ZiYi Cai e Paul S. F. Yip, ambos da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Hong Kong.
De acordo com a análise, nos países onde os homens relataram ter maior envolvimento com os cuidados à família, taxas de desemprego mais altas não foram associadas a índices mais elevados de suicídio. O oposto, no entanto, foi observado onde esse grupo alegou participar menos dos cuidados familiares: índices de desemprego mais altos foram relacionados a taxas superiores de suicídio, independentemente do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da nação.
Para os pesquisadores, esses dados sugerem que o maior envolvimento dos homens nas atividades familiares pode atuar como um fator protetor contra o suicídio, particularmente em circunstâncias financeiras menos favoráveis. “O trabalho de cuidar da família seria uma forma de o homem diversificar suas fontes de sentido e propósito, bem como seu capital social e redes [de socialização]”, avalia, em comunicado, Silvia Sara Canetto, psicóloga conhecida por suas pesquisas sobre padrões e significados do suicídio em diferentes culturas.
Igualdade de gênero e saúde
Ao mapear se haveria alguma relação entre os índices de seguro-desemprego da OCDE e as taxas de suicídio entre homens, o estudo constatou, ainda, que a disponibilidade do benefício não esteve associada a uma redução desse índice. Por isso, os especialistas sugerem que incorporar programas de apoio mais diversificados às políticas públicas de prevenção ao suicídio focadas nesse público pode ser mais eficaz do que limitá-las a projetos associados a busca por emprego, por exemplo.
Os achados reforçam a relação entre igualdade de gênero e saúde. “Esses resultados são consistentes com a evidência de que onde a igualdade de gênero é maior, o bem-estar, a saúde e a longevidade de homens e mulheres são maiores”, escreveram os cientistas no estudo.
Informações Revista Galileu
Governo Municipal inaugura o Centro de Controle Operacional (CCO), nesta terça-feira, 1º de junho. O ato será transmitido, a partir das 8h, no canal Youtube e nas redes sociais da Prefeitura de Feira.
O equipamento é um grande investimento da administração municipal contribuindo com os órgãos de segurança pública. No local vai funcionar a Central de Videomonitoramento, onde imagens captadas em tempo real, por câmeras posicionadas em pontos estratégicos da cidade e zona rural, poderão ser acompanhas pela Guarda Municipal.
A Central de Atendimento Fala Feira 156 também vai integrar os serviços oferecidos pela unidade. O CCO está instalado na avenida Francisco Pinto, bairro Pedra do Descanso.
Secom
Para além das brincadeiras tradicionais de 1º de abril, o hábito de mentir cotidianamente pode constituir um distúrbio psicológico
Em 1º de abril é comemorado o Dia da Mentira. A data é dedicada a brincadeiras divertidas (ou nem tanto) entre amigos e familiares. No entanto, quando alguém cultiva o hábito de contar histórias fantasiosas é necessário investigar se não se trata de um caso de mitomania – transtorno psicológico em que a pessoa possui uma tendência compulsiva por mentir.
Uma das grandes diferenças do mentiroso esporádico ou tradicional para o mitômano, é que, no primeiro caso, a pessoa mente para ter proveito ou tirar vantagem em alguma situação, enquanto o mitômano mente com o objetivo de aliviar alguma dor psicológica.
Nos casos de mitomania, o ato de mentir é praticado para que a pessoa se sinta confortável com a própria vida, pareça mais interessante ou tenha assuntos que se encaixem em um grupo social na qual ela não se sente capaz de entrar. O problema, frequentemente, prejudica a vida de quem o apresenta, pois sentimentos de culpa e vergonha por enganar os outros ou de medo em ser descoberto são constantes.
“A mitomania é muito mais praticada pela classificação de pessoas psicopatas do que necessariamente pelas pessoas com veemência mental neuróticas. É uma condição orgânica e por isso de ordem psiquiátrica, mas constante e perene. Envolve frieza na mentira, adulação, bajulação e falsidade, onde todas são integralmente intencionais”, afirma o psicólogo Alexander Bez.
Para perceber se uma pessoa é mitômana, é possível observar alguns sinais como: o mitômano sente culpa ou medo de ser descoberto; as histórias tendem a ser muito felizes ou muito tristes; conta grandes casos sem motivo aparente ou ganho; respondem de forma elaborada a perguntas rápidas; fazem descrições extremamente detalhadas dos fatos; as histórias o fazem parecer herói ou a vítima e, muitas vezes, repetem versões diferentes das mesmas histórias.
Tratamento
O tratamento da mitomania é feito por meio de sessões psiquiátricas e psicológicas, nas quais o profissional que acompanha o caso ajuda a pessoa a entender quais são os motivos que levam à criação das mentiras. Busca-se esclarecer e entender o porquê desta vontade surgir para que o paciente possa iniciar uma mudança de hábitos. Em alguns casos, cabe também cabe o tratamento com antidepressivos e ansiolíticos.
Distúrbio faz que pessoas se interessem apenas por conquistar o outro, sem se engajar verdadeiramente em relacionamentos
“Outro dia um amigo meu me perguntou quantas mulheres eu tinha amado. Foram 234, fora as minhas professoras do curso primário”. A frase é do arquiteto Paulo, protagonista da série “Todas as Mulheres do Mundo”, que estreou no ano passado no serviço de streaming Globoplay e que atualmente está na grade de programação da Rede Globo. Inspirada e prestando homenagem à obra do dramaturgo Domingos de Oliveira, em cada um dos 12 episódios da produção, o personagem se relaciona com uma figura feminina, sendo que, em geral, as narrativas são sobre novos enlaces amorosos. Galanteador e um convicto apaixonado pelo próprio ato de se apaixonar, Paulo, interpretado pelo ator Emílio Dantas, não apenas seduz, como também se deixa seduzir. “Deus inventou o sexo e a paixão. O amor é um delírio para compensar a morte, e quem o inventou foram os homens”, diz a certa altura.
Diante do enredo, é tentador classificar o personagem dentro do arquétipo de “Don Juan”, como são chamados os personagens sedutores, em alusão à obra do espanhol Tirso de Molina, que registra esse traço de comportamento em um livro ainda no século XVII. Contudo, aos olhos da psicologia, Paulo é apenas evidência de como fatores socioculturais podem dificultar o diagnóstico preciso de uma síndrome que vem sendo investigada há anos e que tem como principal característica “a compulsão por seduzir outra pessoa em um jogo repetitivo e sem o propósito de uma construção de relação”, como explica o psiquiatra Rodrigo D’Angelis.
“Apesar de (na série) haver essa busca por novas relações, esse prazer pela paixão, que são características da síndrome de Don Juan, o personagem também se engaja na construção de relacionamentos, tanto que, em alguns, ele até cresce com aquela troca e, em outros, se frustra. Nisso, ele se difere de pessoas com o diagnóstico, pois, para elas, apenas o prazer pela conquista interessa, e o que vem depois perde o sentido”, observa.
Nesse sentido, D’Angelis adverte que é preciso cuidado para não se banalizar o termo. Ele situa que a sedução e o flerte, quando partem de uma pessoa com donjuanismo, possuem particularidades. No caso desses indivíduos, os mecanismos de conquista não estão associados a um desejo legítimo de troca e de construção com o outro, mas sim pela ânsia de suprir demandas relacionadas a traços de egocentrismo, à necessidade de autoafirmação, às alterações de autoestima e à compulsão. O psiquiatra lembra que a troca de parceiros e a infidelidade são comuns a esses sujeitos, “já que, ao seduzir e conquistar o amor do outro, perde-se o sentido da relação, assim como a motivação (para se manter nela). A partir disso, a necessidade de buscar aquele prazer novamente acomete o portador da síndrome”, expõe.
Em resumo: “O foco não é o outro mas o efeito psicológico compulsivo de troféu a partir da concretização da sedução”, assinala D’Angelis, acrescentando que, “em ações compulsivas e na busca de prazer, há fatores neuroquímicos envolvidos”. Outra característica dos portadores da síndrome é que estes, comumente, parecem mais motivados se a vítima oferece alguma dificuldade para a relação, como quando ela está em outro relacionamento ou se tem uma postura independente.
Tratamento. Na avaliação de Rodrigo D’Angelis, a psicoterapia é a melhor indicação de tratamento para essas pessoas. Mas, para que o processo seja efetivo, “é muito importante que o sujeito perceba o sofrimento causado por um prazer fugaz que não lhe promove construções saudáveis”. O apelo, portanto, está associado ao desejo de conter danos causados a si próprio, pois “não se pode contar com a possibilidade de motivação para a psicoterapia daquele com donjuanismo, a partir de uma preocupação com o sofrimento que ele promove nos outros”, avalia.
Origem. O mito de Don Juan baseia-se em três principais obras literárias: a peça El Burlador de Sevilla, de 1620, do espanhol Tirso de Molina; a peça Don Juan, de 1665, do dramaturgo francês Moliere; e a ópera Don Giovanni, de 1787, do compositor austríaco Mozart.
Mais frequente em homens, síndrome também acomete mulheres
“O Don Juan é visto como alguém com uma dependência patológica, semelhante ao alcoolismo”, indica a psicóloga social Heloísa Bárbara Cunha Moizéis em um dos artigos que compõem a sua dissertação de mestrado. No texto, apresentado à Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em março do ano passado, ela expõe que o distúrbio é mais vezes associado a homens, mas que também pode ocorrer em mulheres, quando o desvio comportamental passa a ser chamado de síndrome de Afrodite. A estudiosa também informa que, segundo a literatura científica disponível até agora, o distúrbio está associado predominantemente a relações heterossexuais.
“O sedutor ama todas as mulheres e, portanto, não ama nenhuma mulher; ele seduz para destruir o poder da figura materna que projeta nas mulheres. Por isso, seu comportamento sedutor é uma verdadeira estratégia contraposta, que visa negar seus aspectos femininos”, escreve, completando que estudiosos também têm procurado demonstrar uma extensa tradição donjuanesca feminina, que é raramente estudada. “Assim, levando em consideração o que já foi exposto, essas mulheres são aquelas que rompem com o estereótipo do virtuoso feminino, indo contra os comportamentos a exemplo da pureza, castidade, fidelidade, pudor e inércia erótica”, anota a autora.
Heloísa observa que o único traço aparente que diferencia o donjuanismo feminino do masculino refere-se à estratégia manipuladora utilizada pela mulher para seduzir o outro. Nelas, a opção mais recorrente passa por uma conquista de forma mascarada. Já neles, em contrapartida, “o donjuanismo é praticado às claras e quase sempre é recebido positivamente no meio social, que considera esse comportamento uma prova de virilidade”, sinaliza.
Sofrimento. Embora a pessoa que tenha a síndrome possa não cometer crimes, “ela causa danos psicológicos sérios em suas vítimas, que costumam ficar traumatizadas a ponto de evitarem novos relacionamentos”, expõe Heloísa Bárbara Cunha Moizéis.
Transtornos associados. A estudiosa pontua que pessoas donjuanescas, tanto masculinas como femininas, apresentam atributos que podem estar associados a alguns tipos de transtornos de personalidade, como borderline, narcisismo e histriônico antissocial. Cabe ressaltar que a compulsão pela sedução não será necessariamente uma característica de pessoas com esses diagnósticos.
Classificação. Com relação à classificação dessa síndrome, o Manual de Diagnóstico e Estatística (DSM-V) e a Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID-10) não oferecem denominações específicas para pacientes que possam apresentá-la.
Características marcantes
Recorrendo a estudos capitaneados pelo psicólogo e psiquiatra italiano Michele Novellino, a pesquisadora Heloísa Bárbara Cunha Moizéis aponta as principais características do distúrbio em um dos artigos apresentados na dissertação “Síndrome de Donjuanismo: Conceitos, Medidas e Correlatos”.
Compulsão à conquista sexual. A vida psíquica dos indivíduos com donjuanismo gira em torno da necessidade e satisfação em seduzir, algo que é experimentado como uma obsessão.
Obtenção do prêmio. Uma vez que a satisfação tenha sido alcançada, esse sujeito toma muito cuidado para evitar que o encontro sexual se transforme em um vínculo emocional. Não se deve deixar enganar pela aparência de relações “oficiais”, como o casamento, que serve como camuflagem social.
Problemas sexuais frequentes. Essas pessoas usam suas conquistas para perseguir a ilusão da virilidade, que desaparece, no entanto, assim que o ato é consumado. Elas também costumam ter um número maior de parceiros e se expor mais a situações de risco, como o sexo sem proteção.
Recorrer ao engano. Um Don Juan usa o engano com o fim exclusivo da sedução e, se necessário, para cobrir seus rastros.
Onipotência. Suas convicções o levam a acreditar que só ele compreende plenamente a verdadeira essência de homens e mulheres, entendendo que as relações entre os sexos são apenas um exercício de conquista, sem espaço para sentimentos.
Homofobia. Em termos psicodinâmicos e psicanalíticos, eles têm secretamente medo de ser homossexuais, e isso os leva a ridicularizar e estigmatizar qualquer tipo de condição ligada à homossexualidade.
Rivalidade. O Don Juan, secretamente, sente outros homens como hostis, mas essa hostilidade está realmente situada em sua própria projeção, porque é o Don Juan quem é hostil a eles. Ele compete com todos os homens, a menos que, é claro, esse outro homem assuma o papel de admirador de suas “façanhas”.
Infantilismo. Outra característica é a dificuldade marcante em seguir com compromissos e planos para o futuro.
Estado depressivo latente. Esses indivíduos lutam constantemente com o risco de perceber sua própria inadequação e se defendem tentando constantemente confirmar seu valor como indivíduo. São mais propensos ao abuso de álcool e jogos de azar, por exemplo.
Informações O Tempo
Elas tendem a subvalorizar suas conquistas e suas capacidades e a dizer não quando recebem a oferta de espaços de representação. Muitas se autoexcluem e deixam de ocupar espaços que poderiam ser delas
A última vez que a psicoterapeuta Anne de Montarlot se sentiu paralisada pela síndrome da impostora foi justamente quando começou a redigir, com a jornalista Élisabeth Cadoche, um livro chamado A Síndrome da Impostora, que acaba de ser publicado na Espanha pela editora Península. “Mesmo tendo muita experiência e já termos feito mais de 100 entrevistas sobre o tema e muita pesquisa, imediatamente comecei a questionar minha habilidade para escrever este livro. Menos mal que nós duas conversamos e pude seguir adiante”, reflete.
No momento de procurar depoimentos para esta reportagem, surgiu várias vezes a mesma resposta: “Claro que sofro da síndrome da impostora, mas não sei se sou a pessoa mais indicada para falar. Certamente outra pessoa pode fazê-lo melhor”. Isso foi dito por mulheres de âmbitos profissionais muito diferentes e de idades diversas, alinhadas com a tese principal do livro de Cadoche e Montarlot, que afirma que essa sensação de inadequação perpétua, de sentir-se pouco preparado para assumir uma responsabilidade seja ela qual for, é feminina e transversal. “Quando uma mulher fracassa em algo pensa que não tem valor e, se triunfa, pensa que teve sorte. Quando os homens fracassam, por outro lado, têm uma lista de desculpas, seja um chefe rígido e que há uma crise mundial. Os homens externalizam o fracasso e as mulheres externalizam o sucesso”, resume Cadoche por videoconferência.
O conceito foi criado por duas psicólogas clínicas norte-americanas em 1978. Pauline Rose Clance e Suzanne Imes condensaram a ideia de que, apesar de acumular conquistas acadêmicas e profissionais, as mulheres continuam a acreditar que na verdade não são tão brilhantes e que foi tudo armado para enganar os que pensam o contrário. Mais tarde, autoras como Jessamy Hibberd e Valerie Young finalizaram a definição do conceito. Hibberd incidiu na diferença entre a falta de confiança em si mesmo e a síndrome do impostor – para quem sofre da segunda, escreveu, “a queda é inevitável. Quando atingir seu objetivo, subvalorizará seu sucesso”. A síndrome é sistêmica, opinam várias especialistas, faz parte do arcabouço patriarcal: as mulheres são condicionadas com a socialização – se espera delas menos agressividade e uma ambição menos óbvia – e por sua vez não são representadas em âmbitos de poder.
Uma consequência da síndrome é que as mulheres se autoexcluem e deixam de ocupar espaços que poderiam caber a elas. Carlos Orquín foi produtor em várias etapas em programas da Rádio Barcelona. Um de seus trabalhos é encontrar participantes nos debates. Quer fazer conversas paritárias, mas os números não batem. Quando chama homens, quase 100% dizem que sim. Elas respondem que se veem capacitadas para falar da área em que são especialistas, mas não de abordar qualquer tema de atualidades que apareça, como é exigido nas conversas generalistas. “É exigido uma opinião abalizada, impor sua visão de como deveriam ser as coisas, e os homens estão mais acostumados a fazê-lo”, opina.
Laura Gómez é uma dessas mulheres que disseram “não” muitas vezes. Gestora de redes, jogadora e especialista em videogames, costuma recusar ir a encontros de sua área, entrevistas e apresentações de livros coletivos dos quais participa. “O sentimento de não estar suficientemente preparada é uma das razões pelas que abandonei o setor de videogames. Nas esferas masculinizadas, a sensação de não ser suficiente se multiplica por mil: exigem das mulheres o triplo de rendimento e o triplo de capacidade. Exigem que sejamos pioneiras e excelentes para ganharmos o status de iguais”, diz.
A produtora de cinema Esther Fernández recebeu a oferta de dar aulas na escola em que ela mesma estudou, a ESCAC. Aceitou, mas entrou em pânico. “Tinha insônia, suava. Inventei uma desculpa para que colocassem minhas aulas para o próximo semestre. Sentia que não tinha nada a oferecer porque não havia produzido filmes de 30 milhões de euros (198 milhões de reais). Por fim, precisei falar com um coach para que me ajudasse a processar e conseguir fazê-lo”. Por outro lado, Esther Lozano, caça-talentos da Zinettica, empresa que seleciona candidatos para postos de direção que costumam superar os 100.000 euros (660.000 reais) de salário, não costuma encontrar mulheres que se autoexcluam dos processos de seleção. “O fato de que elas possam verbalizar dúvidas quando pedem conselhos em privado é outra coisa, mas quando contatamos mulheres para postos importantes, sempre expressam de maneira muito clara que se sentem capazes”. Nos últimos dois anos, diz, encontrou trabalho a 56 cargos, 27 deles mulheres. Segundo Cadoche, isso se deve a que as mulheres com a síndrome sequer chegam a estar nesse processo. “Pensam: ‘Pedem seis requisitos e só cumpro cinco. Não falo norueguês fluentemente’.
Cadoche e Montarlot incluem em seu livro citações da ex-ministra da Saúde e filósofa francesa Simone Veil – convencida de que qualquer dia a tirariam do Governo (“Vou cometer um grande erro e me enviarão de volta à magistratura”) –, Michelle Obama e Sheryl Sandberg, número dois do Facebook e autora de Faça Acontecer – Mulheres, Trabalho e a Vontade de Liderar(Companhia das Letras), considerado o manifesto fundacional do ramo mais corporativo e liberal do feminismo na década passada. A ex-chanceler alemã Angela Merkel, a atriz Meryl Streep e a escritora Margaret Atwood também confessam ter se sentido impostoras. Para as autoras de A Síndrome da Impostora, esse foi um ponto de partida: se até elas algumas vezes haviam se sentido uma fraude, o que as outras não pensariam.
Existem, entretanto, vozes que questionam a ênfase nessa questão. “A síndrome da impostora dirige nosso olhar às mulheres, em vez de centrar-se em consertar os locais de trabalho”, argumentam as ativistas e jornalistas Ruchika Tulshyan e Jodi-Ann em um artigo de fevereiro na revista Harvard Business Review. A chamada síndrome, afirmam, não é uma espécie de patologia psicológica: se deve a que o sistema está projetado para excluir as mulheres, principalmente se não são brancas, de classe média e de capacidades padrão, e é diagnosticada especialmente em entornos tóxicos que valorizam o individualismo antes das conquistas coletivas.
Fazer esforços para superar o complexo, argumenta Christina Bard, especialista em história dos feminismos, não deveria ser mais uma tarefa na longa lista de coisas por fazer que costumam atrelar às mulheres. “Elas não só sofrem discriminação como as culpamos ao insinuar que, se tivessem mais arrojo e confiança em si mesmas, não teriam esses problemas”. Talvez seja o sistema, conclui, que precisa de coaching.
Informações El País