Nada como um lançamento de filme para te arrancar do tédio e da monotonia. O cinema é gostosinho. Tem um quê de romantismo, um som envolvente e uma imagem gigantesca que te faz mergulhar na história. Mas, convenhamos, assistir no conforto de casa também tem suas qualidades. Você não precisa se arrumar todo e nem gastar dinheiro. Se não está em um dia sociável, melhor ainda. Você poderá se jogar no seu sofá macio, com um cobertor e um monte de guloseimas tóxicas para seu organismo, mas altamente deliciosas para seu prazer. Então, se a sua vibe está mais para caseira, acompanhe essa lista de estreias do catálogo da Netflix para ver no seu cafofo. Destaques para “Sem Respirar: Um Mergulho sob o Gelo”, de 2022, de Ian Derry; “O Fotógrafo e o Carteiro: O Crime que Parou a Argentina”, de 2022, de Alejandro Hartmann; e “Os Opostos Sempre se Atraem”, de 2022, de Louis Leterrier. Os títulos da Netflix estão organizados de acordo com o ano de lançamento e não seguem critérios classificatórios.
Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix
Sem Respirar: Um Mergulho sob o Gelo (2022), Ian Derry
O documentário em curta-metragem acompanha a mergulhadora finlandesa Johanna Nordblad durante uma tentativa de estabelecer um recorde mundial de distância percorrida sob o gelo. Em 2010, Nordblad havia sofrido um acidente de bicicleta que fraturou sua perna. Um médico a aconselhou a realizar tratamento com água fria. Em 2015, ela quebrou o recorde mundial feminino de natação de 50 metros sob o gelo. Em 2021, Nordblad nadou 103 metros, sem barbatanas ou roupa de mergulho, sob um gelo de 60 centímetros de espessura, no Lago Ollori, na Finlândia.
O Fotógrafo e o Carteiro: O Crime que Parou a Argentina (2022), Alejandro Hartmann
No verão de 1997, o assassinato do fotojornalista José Luis Cabezas chocou a Argentina e expôs uma rede de crime organizado que envolvia as elites política e financeira do país. As consequências foram tão graves quanto o crime em si, não só para quem o cometeu, mas para toda a nação. O documentário, que tem produção de Vanessa Ragone, filha da vítima, tenta reconstituir as circunstâncias que levaram ao assassinato de seu pai.
Os Opostos Sempre se Atraem (2022), Louis Leterrier
Os policiais Ousmane Diakité e François Monge são quase opostos polares em suas vidas pessoais e profissionais. Após trabalharem um tempo juntos, acabam separados pelas circunstâncias. Anos depois, a dupla é emparelhada à força para investigar um assassinato nos Alpes Franceses. O caso, que parecia uma simples ocorrência de tráfico de drogas, os levará para uma conspiração criminosa muito mais perigosa do que imaginavam.
Pai Nosso (2022), Lucie Jourdan
Jacoba Ballard era filho único, concebido por meio de sêmen de um doador. Ele sempre sonhou em ter irmão ou irmã. Até que um teste de DNA revelou não apenas um, mas sete meios-irmãos. A descoberta o levou a outra revelação ainda mais assustadora: o médico de fertilidade de seus pais estava inseminando seus pacientes com seu próprio esperma. Esta história perturbadora sobre uma quebra de confiança inimaginável gira em torno da busca dos irmãos por justiça.
Toscana (2022), Mehdi Avaz
Theo é um chef de cozinha dinamarquês com negócios para resolver na Toscana. Ele deve viajar até o interior da Itália para vender algumas propriedades herdadas de seu pai. Quando ele conhece Sophia, ela o apresenta uma diversidade de sabores locais e o inspira na cozinha. Enquanto isso, um amor floresce entre eles, fazendo Theo repensar sua vida.
O Soldado que não Existiu (2021), John Madden
Em meio à Segunda Guerra Mundial, as forças aliadas preparam uma tomada da Sicília pela costa sul. No entanto, os nazistas descobrem os planos. Os oficiais da inteligência, Ewe Montagu e Charles Cholmondelcy são convocados para elaborar uma estratégia para embaraçar os soldados de Hitler e fazê-los acreditar que o alvo das forças aliadas é, na realidade, a Grécia. Inspirado em uma história real.
Uma Voz Contra o Poder (2020), Clark Johnson
Nos anos 1990, em Saskatchewan, no Canadá, Percy Schmeiser é um agricultor que trabalha nas terras que são de sua família há gerações. De repente, ele se vê processado por uma empresa de sementes transgênicas por roubar sua propriedade intelectual. Percy não compra sementes, mas segue uma tradição familiar de guardar as melhores sementes de cada colheita. Surpreso e confuso pelas acusações, ele deve se defender nos tribunais, inclusive na Suprema Corte, contra a grande corporação.
O Farol (2019), Robert Eggers
Ephraim Winslow é contratado como assistente de um faroleiro, chamado Thomas Wake. O trabalho é árduo, o tempo é ruim e Wake se mostra um chefe desprezível e autoritário, que não permite a entrada de Winslow no farol superior. Quando uma gaivota aparece e começa a atormentar o recém-chegado, trazendo maus presságios, coisas sombrias e misteriosas começam a acontecer.
As Viúvas (2018), Steve McQueen
Em Chicago, Veronica perde seu marido, Harry, em um assalto que ele próprio planejou. Ele a deixa com uma dívida astronômica com um chefe do crime local, chamado Jamal. Veronica recruta as viúvas dos outros homens que morreram durante o crime. Elas devem realizar outro assalto para que possam pagar pela dívida dos esposos mortos.
Blade Runner 2049 (2017), Denis Villeneuve
K é um blade runner que descobre que replicantes podem se reproduzir biologicamente, quando encontra os restos mortais de uma fêmea grávida. O segredo poderia iniciar uma guerra entre as inteligências artificiais e humanos. Em sua investigação, K identifica a replicante como Rachel e descobre que ela tinha um relacionamento com Rick Deckard, outro blade runner. Para evitar que o segredo seja revelado, ele terá de encontrar o ex-agente e destruir todas as evidências do segredo. No meio de sua jornada, ele passa a indagar se ele próprio foi criado ou se nasceu de outra replicante.
Informações Revista Bula
Quando ‘Grace and Frankie’ chegou ao catálogo da Netflix, ninguém poderia imaginar o estrondoso sucesso que faria – nem sequer a durabilidade que teria. Afinal, o ciclo de estreia não teve uma recepção relativamente boa por parte dos especialistas internacionais, apesar de ter encantado o público. Felizmente, com o passar dos anos, os criadores Marta Kauffman e Howard J. Morris construíram uma belíssima história de amizade, aceitação, empatia e união que transformaria a comédia em um dos títulos mais adorados da gigante do streaming.
A produção não se tornou uma das queridinhas do público por qualquer motivo – e, no topo dessa mixórdia de sentimentos, temos a química inegável e apaixonante de Jane Fonda e Lily Tomlin como as personagens titulares, respectivamente. Outrora inimigas, Grace e Frankie foram arrastadas a um ponto de convergência quando seus maridos revelaram ser gays e as deixaram depois de décadas de casamento, impulsionando-as a deixar tudo para trás e recomeçar em plena terceira idade. Agora, chegando ao ciclo final, nossas adoradas protagonistas nos dão adeus ao longo de dezesseis episódios emocionantes e hilários que entregam exatamente o que esperaríamos de uma obra como esta.
A principal ideia da série sempre foi trazer ao mainstream temas que não são tratados com a naturalidade necessária – como os anseios e as preocupações dos idosos, a mudança repentina de vida, a compreensão de que nunca é tarde para seguir seus sonhos, os desejos sexuais dos mais velhos, os problemas enfrentados por idosos LGBTQIA+ (estes dois temas mostrando uma realidade que não é “bem-vinda” no cenário do entretenimento, em virtude de pensamentos tradicionalistas e retrógrados), a desconstrução da estrutura engessada da família e vários outros. E Kauffman e Morris, navegando entre enredos complexos e que quebram uma retórica estereotipada, permanecem fortes no jogo que constroem e gestam uma das melhores temporadas da série e ótimo final que deixará saudades e que, mesmo com os convencionalismos, é funcional, prática e bem envolvente.
Aqui, as duas amigas começam a se despedir e a enfrentar os últimos obstáculos de sua jornada: Grace parece desestabilizada com a chegada de Nick (Peter Gallagher) à casa de praia, ainda mais depois de ter sido preso por sonegação de impostos. Enquanto Grace se sente presa a um casamento de fachada que já acabou há muito tempo, Frankie também lida com um sentimento controverso que vem à tona todas as vezes que Nick aparece em sua frente, como um lembrete agridoce de que ele quase levou Grace embora para sempre e a arremessou em uma espiral de mentiras e conluios. Mas isso não é tudo: Nick tem um papel importante para que ambas recobrem a importância dos laços que detém entre si, entretanto, é logo deixado de lado para que outros eventos de magnitude exemplar dominem as telas.
Como é de se esperar, Fonda e Tomlin fazem um trabalho magnânimo ao revisitarem as personagens uma última vez, destilando personalidades conflitantes em diálogos frenéticos e extremamente engraçados e dramáticos que culminam em uma última dança de ressentimentos e nostalgia. Grace ainda tenta “recuperar o tempo perdido” e dar continuidade ao Rise-Up, mesmo sem a ajuda de Frankie – que lida com a iminência da morte depois que uma vidente prevê um trágico acontecimento em sua vida e a perda de habilidades motoras que a impedem de fazer o que mais ama (pintar). É nessa conflituosa e instigante linha narrativa que atravessamos um sagaz coming-of-age que se afasta dos costumeiros personagens adolescentes e jovens-adultos e mostra que, até na fase final da vida, lidamos com preocupações e crises existenciais.
É claro que a dinâmica da dupla rouba o centro dos holofotes; todavia, isso não impede que os outros personagens não mereçam conclusões tão dignas quanto. Robert (Martin Sheen) se vê obrigado a deixar a paixão pelo teatro de lado quando enfrenta problemas de memória e percebe que está à beira do abismo do Alzheimer; Sol (Sam Waterston) faz de tudo para ajudá-lo e, aceitando um destino inescapável, se lança em uma missão para criar novas memórias que ajudem ele e seu marido a passarem por uma situação muito difícil; Brianna (June Diane Raphael) perde a única coisa que sempre estimou, o controle, ao se ver numa situação com a irmã e com o noivo e se afundar em um processo de transformação radical; Mallory (Brooklyn Decker) percebe as falcatruas do mundo corporativo ao se tornar alvo de chacota de sua chefe, dando início a uma emblemática batalha consigo mesma; e por aí vamos.
Devo dizer que algumas inflexões promovidas pela iteração final não funcionam como deveriam, mas não têm força o suficiente para apagar a singela e humilde trama que se desenrola bem à frente dos nossos olhos. Há, inclusive, algumas pulsões do além-mundo e do brusco e certeiro fim da jornada humana no mundo terreno, bem como o entendimento da efemeridade da vida – apesar de não ir muito mais longe que a superfície; no final das contas, ‘Grace and Frankie’ é uma despedida digna que já nos faz querer voltar ao episódio piloto e esquecer de tudo que aconteceu para nos encantarmos mais uma vez com uma das histórias mais honestas da televisão contemporânea.
Informações CinePop
Lançar mão de construções narrativas exógenas ao que já se conhece sobre o enredo de uma série a fim de manter aceso o interesse do espectador fiel e tentar conquistar novos públicos é uma estratégia arriscada, que pode justamente desagradar quem já se acostumou à trama e não fica muito confortável ao se deparar com mudanças inesperadas e não atingir a segunda parte do plano, resultando em perda de energia, de tempo, de audiência e, pior, de receita desnecessárias. “Ashin of the North” superou o desafio com folga. Espécie de capítulo-surpresa da série sul-coreana “Kingdom”, desenvolvida pela diretora e roteirista Kim Eun-hee, o segmento, levado à tela em 2021, é visto pelos fãs sob duas óticas, mais ou menos complementares: como uma prequel, um prelúdio estendido com o propósito de elaborar melhor determinadas passagens, consideradas pouco eficazes por Eun-hee e sua equipe e, por conseguinte, as que logo caem no esquecimento, como uma sidequel, um texto adicional, explicativo, para o que já está sedimentado e não se pretende remover. A Ashin do título continua a ser a figura envolta em mistério surgida no encerramento da segunda temporada de “Kingdom”. O que muda é a maneira como os conflitos em torno da personagem de Jun Ji-hyun são trabalhados.
Kim Seong-hun opta por conduzir o roteiro de Eun-hee de modo a contextualizar os acontecimentos mais intrincados, o que ajuda a conservar o calor da história e situar quem começa nunca assistiu a nenhum episódio. “Ashin” remonta aos últimos anos do século 14, quando a dinastia Joseon teve início, em 1392, permanecendo à frente do governo da Coréia pelos cinco séculos que se seguiram, até 1897. Francamente desenvolvimentista, o reino de Joseon era composto por entusiastas da filosofia de Confúcio (551 a.C – 479 a.C), adaptava para a realidade de seu país a cultura chinesa, que considerava mais evoluída, e apoiava as artes e a ciência com o aporte financeiro necessário. Foi nessa esteira que a rivalidade com o Japão tomou corpo, materializada nos conflitos entre as comunidades tribais, representada pelos pajeowi, ou jurchen, e a gestão da monarquia Joseon. Esse início, propositalmente intrincado, serve para deixar a audiência a par dos muitos desdobramentos da trama axial, quase todos fundamentados na caudalosa história do Oriente, muito mais cheia de reviravoltas dramáticas e eventos bélicos do que supõe o público leigo.
Por muitas vezes, Seong-hun deixa esse pano de fundo político de lado e prefere concentrar-se mesmo no que “Ashin” pode ter de mais original. A protagonista, vivida por Kim Si-ah na primeira fase, é filha de Ta Hab, de Kim Roi-ha, um espião do Império coreano que monitora os pajeowi no território limítrofe ao japonês. A mãe da garota padece de uma enfermidade incurável e, como por encanto, Ashin descobre o ginseng, planta a que os asiáticos atribuem propriedades mágicas até hoje, numa região a que nem todos podem ter acesso. Inscrições antigas sobre a planta, encravadas em pedra, alertam que o ginseng pode, sim, ressuscitar os mortos, mas seu uso deve ser pontual, e o doente e seus familiares precisam estar dispostos a pagar o preço. A menção ao tal preço não é à toa. Pioneiros em muitos tratamentos de saúde, como o combate ao câncer e às hemopatias, os coreanos se valem do ginseng como um elixir para a vida longa e saudável, reforçando o aviso para que se evitem abusos, sob pena de efeitos colaterais como hipertensão, náusea e taquicardia grave, que pode degringolar em infarto. Como se constata, evitar a morte nem sempre é uma boa ideia.
A transição da personagem, que deixa de ser a menina ingênua e superprotegida e se torna uma das maiores guerreiras da Coreia, é acompanhada da inclusão de outro elemento caro aos asiáticos do século 21: os zumbis. Única sobrevivente da chacina à aldeia em que nasceu, motivada pela acusação ao pai, visto como um traidor por não concordar com a política imperialista da dinastia Joseon, Ashin, interpretada doravante por Jun Ji-hyun, tem boa parcela de sua força no desejo de vingança. À medida que a narrativa cresce, Ji-hyun imprime a Ashin a natureza predatória que as situações que encara exigem dela. Verdadeira máquina de matar, envolta numa conjuntura nebulosa que demanda toda a atenção do espectador, a anti-heroína deixa um gostinho de quero mais — e “Kingdom”, de uma próxima temporada. Cada vez mais centrada em sua enérgica protagonista, de preferência.
Kingdom: Ashin of the North
Direção: Kim Seong-hun
Ano: 2021
Gêneros: Fantasia/Suspense/Ação
Nota: 9/10
Informações Revista Bula
Já assistiu todas as novidades do ano que chegaram na Netflix? É impossível, né? Muita coisa nova, séries, documentários, reality shows, filmes… é tanto título sendo lançado semanalmente, que fica até difícil saber o que é que você já viu e o que não viu. Se você quer dar prioridade para as melhores produções, acompanhe essa lista com os títulos mais bem-avaliados do IMDb e Rotten Tomatoes que foram inseridos em 2022 no catálogo. Destaques para “Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial”, de 2022, de Richard Linklater; “Contra o Gelo”, de 2022, de Peter Flinth; e “De Volta ao Espaço”, de 2022, de Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi. Os títulos estão organizados de acordo com o ano de lançamento e não seguem critérios classificatórios.
Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix
Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial (2022), Richard Linklater
Nos dias que antecedem a missão de pouso na lua Apollo 11, Stan, um menino de 10 anos e meio, estudante da quarta série e morador do subúrbio de Houston, é recrutado por dois agentes do governo enquanto brinca no playground. Ele é convidado para ser um proto-astronauta. O filme é livremente inspirado na infância e imaginação do diretor Richard Linklater, durante o verão de 1969, quando ele morava próximo da Nasa, e em suas lembranças da primeira chegada do homem à Lua.
Contra o Gelo (2022), Peter Flinth
Em 1909, a Expedição Ártica da Dinamarca, liderada pelo capitão Ejnar Mikkelsen, tenta resistir à reivindicação dos Estados Unidos ao nordeste da Groenlândia. De acordo com o país norte-americano, a Groenlândia era parte dos Estados Unidos, que havia se divido em um outro pedaço de terra. Mikkelsen embarca em uma jornada pelo gelo com seu colega Iver Iverson para encontrar provas de que a Groenlândia é uma ilha. A jornada, no entanto, se mostrará muito mais complicada que o esperado, sujeitando os expedicionários à fome, fadiga extrema, ataque de urso polar e paranoia.
De Volta ao Espaço (2022), Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi
O documentário narra a ascensão do projeto SpaceX, de Elon Musk. O trabalho durou duas décadas e ajudou a enviar astronautas da NASA de volta à Estação Espacial Internacional. Também acompanha veteranos da Agência Nacional Espacial relacionados ao projeto, contando suas experiências, bem como suas famílias.
Metal Lords (2022), Peter Sollett
Hunter e Kevin são dois adolescentes de ensino médio que querem formar uma banda de heavy metal. Eles estão à procura de um baixista, mas só conseguem encontrar Emily, que toca violoncelo e tem alguns sérios transtornos emocionais. O grupo se inscreve no Battle of Bands, mas precisam conciliar as diferenças musicais para conseguirem vencer.
O Golpista do Tinder (2022), Felicity Morris
O documentário conta a história do vigarista Shimon Hayut, preso em 2019, por se passar por um playboy milionário no Tinder e cometer fraudes contra mulheres de centenas de milhares de dólares. A história do criminoso prolífico e das vítimas que tiveram coragem de derrubá-lo é contada nesse filme. Entre as namoradas, Cecilie Fjellhoy, que conheceu Hayut no aplicativo e, depois de ser enganada, foi atrás de vingança e descobriu muitas outras vítimas.
O Projeto Adam (2022), Shawn Levy
Adam Reed é um garoto de 13 anos que perdeu seu pai há um ano. Um dia, ele encontra um piloto ferido escondido na garagem de sua casa. Este homem misterioso é o próprio Adam muitos anos mais velho, que voltou no tempo para se dedicar a uma missão secreta. Juntos, eles devem embarcar em uma aventura no passado para salvar seu pai. No entanto, há um problema: os dois Adams não se dão nem um pouco bem.
O Resgate de Ruby (2022), Katt Shea
Daniel O’Neil adota a cadelinha Ruby, a salvando de ser sacrificada. Ele é um soldado hiperativo e disléxico, que sonha em entrar na Rhode Island K9, uma academia de polícia de elite. Ruby, que também é hiperativa e precisa de treinamento, acaba por inspirá-lo a persistir em seu objetivo. A dupla enfrenta contratempos em sua jornada, mas com ajuda da família e de membros de sua comunidade, que apoiam e torcem por seu sucesso, eles superam seus desafios juntos.
The House (2022), Paloma Baeza e Emma De Swaef
Uma antologia de filmes que gira em torno de uma casa e os eventos sobrenaturais que ocorrem no local, atormentando os proprietários que lá vivem. O primeiro se passa em 1800, quando uma família se muda para a propriedade em busca de uma nova vida. Infelizmente, o que eles encontram é uma passagem só de ida para um antro de loucura. A segunda se passa no presente. Um corretor de imóveis conserta a casa de acordo com os padrões modernos para conseguir vendê-la. Já o terceiro nos leva para o futuro, após uma série de eventos de inundações que devastou o mundo, a casa se mantém em pé em uma ilha urbana solitária. Uma senhora tenta consertar o lugar e trazer de volta sua beleza de outrora, enquanto exige que os inquilinos paguem aluguel.
Munique: No Limite da Guerra (2021), Christian Schwochow
Em 1938, durante a Conferência de Munique, líderes europeus realizam uma tentativa de impedir Adolf Hitler de invadir a Tchecoslováquia e dar início a outro conflito global. O funcionário público britânico Hugh Legat e o diplomata alemão Paul von Hartmann viajam para Munique para participar da reunião. Logo eles são encarregados de uma missão diferente, que tem o intuito de revelar aos líderes mundiais, incluindo Neville Chamberlain, primeiro-ministro do Reino Unido, um documento confidencial que comprova os planos de Hitler em expandir o território alemão. A esperança é de que Chamberlain não leve adiante o plano de dar os Sudetos ao chefe de Estado alemão.
Para além dos sustos, os suspenses psicológicos desafiam os espectadores a ver além da bolha, a sair da zona de conforto. É preciso estar disposto e ter uma certa bagagem intelectual para desvendar os enigmas e os jogos mentais. É, também, necessário saber controlar a ansiedade e alguns medos, porque esse tipo de suspense irá fazê-lo confrontar alguns de seus temores adormecidos no subconsciente. Se você não se garante na coragem, melhor não arriscar. Agora, se você está pronto para encarar alguns desafios, dê o play nestes filmes que estão disponíveis no seu streaming. Destaques para “A Ligação”, de 2020, de Lee Chung-hyeon; “O Poço”, de 2019, de Galder Gaztelo-Urrutia; e “Calibre”, de 2018, de Matt Palmer. Os títulos disponíveis na Netflix estão organizados de acordo com o ano de lançamento e não seguem critérios classificatórios.
Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix
A Ligação (2020), Lee Chung-hyeon
Seo Yeon muda de casa para ficar próxima de sua mãe doente. Um dia recebe uma ligação de Young Sook, que afirma que sua mãe deseja matá-la. No desenrolar, é revelado que, enquanto Seo Yeon está em 2019, Young Sook está em 1999. Em suas conversas, também se descobre que ambas vivem na mesma casa, apesar de ser em tempos diferentes. A ligação irá interferir em acontecimentos da vida de Seo Yeon.
O Poço (2019), Galder Gaztelu-Urrutia
“O Poço” é uma espécie de prisão vertical com centenas de andares, onde as pessoas são colocadas para serem punidas ou em troca de algo que desejam muito. Duplas são distribuídas por andar aleatoriamente e trocadas a cada mês. No centro do lugar, desce uma plataforma, onde é colocada a comida. As refeições são oferecidas de cima para baixo, proporcionando fartura para aqueles que estão em andares superiores e escassez para quem está embaixo.
Calibre (2018), Matt Palmer
Vaughn e Marcus são dois amigos que partem para uma vila isolada na Escócia, onde passarão o final de semana caçando. A dupla se hospeda em um hotel familiar, mas devido ao comportamento rebelde de Marcus, logo eles não passam a ser bem-vistos pelos moradores da região. Em um dos dias de caça, Vaughn mira para atirar em um alce, mas o animal se move e a vítima acaba sendo uma criança. A partir disso, uma cadeia de acontecimentos se desenrola deixando a dupla em uma situação sem alternativas que mudará suas vidas.
Tempo Compartilhado (2018), Sebastián Hofmann
Pedro, Eva e o filho pequeno saem de férias em um resort para uma semana de relaxamento. Eva está confusa, pois não sabe como Pedro vai arcar com acomodações tão caras. Pedro, na realidade, não vai pagar quase nada, porque concordou em ouvir uma palestra de vendas, os chamados timeshares do Everfields Resorts, em troca da estadia. As coisas saem do controle imediatamente quando Pedro, Eva e o filho descobrem que terão de dividir o lugar com uma família desconhecida.
Jogo Perigoso (2017), Mike Flanagan
Durante as férias em uma casa remota, o advogado de sucesso Gerald algema sua esposa, Jessie, na cabeceira da cama em um momento íntimo do casal. Ela não se sente confortável e pede para que o marido retire as algemas, mas Gerald está animado e se nega. No entanto, antes que qualquer coisa aconteça, ele sofre um ataque cardíaco e cai morto em cima dela. Ao empurrar o corpo, Jessie fica aterrorizada com a situação. Distante demais para que qualquer pessoa escute seus gritos de socorro, ela continua algemada à cama. No entanto, a noite irá trazer sustos ainda muito maiores.
1922 (2017), Zak Hilditch
Wilfred James é um fazendeiro no Nebraska com uma esposa amarga, chamada Arlette, e seu filho leal, Henry. Arlette claramente não gosta da vida no campo e deseja vender sua metade da fazenda para uma empresa local. Wilf tem arrepios de pensar na possibilidade de se mudar para a cidade. Ele decide que a única forma de solucionar esse dilema é matando Arlette, e convence seu filho de ajudá-lo. No entanto, ele terá de enfrentar as consequências inesperadas de suas escolhas.
Garota Exemplar (2014), David Fincher
A esposa de Nick Dunne desaparece no dia do aniversário de casamento. Após a polícia descobrir várias mentiras, ele se torna o principal suspeito. Enquanto o caso vira um espetáculo na mídia, as investigações mostram que o casamento perfeito do casal era, na realidade, uma farsa. Nick tenta provar sua inocência e descobrir o que realmente aconteceu com a mulher.
O Lobo Atrás da Porta (2013), Fernando Coimbra
Quando Sylvia vai à escola de sua filha para buscá-la, descobre que ela já havia saído com um “vizinho”. Incapaz de imaginar por que alguém sequestraria a menina, já que não são ricos, a mulher avisa a polícia que o marido pode ter uma amante que provocou a situação. Bernardo, o pai da criança desaparecida, confirma que manteve um caso com a jovem Rosa. A partir de então, o detetive responsável interroga os três para investigar o que realmente aconteceu.
Ilha do Medo (2010), Martin Scorsese
Teddy é um detetive que viaja até uma ilha, onde fica um hospital psiquiátrico, para investigar o desaparecimento de uma das internas. Acompanhado de seu parceiro, Chuck, eles encontram a resistência de todos para obter informações e desvendar o caso. Enquanto uma rebelião é deflagrada no local, Teddy tem seus próprios fantasmas do passado que o assombram e que precisa encarar.
Informações Revista Bula
Se você ama ser surpreendido e está em busca de filmes que superem suas expectativas e traga mistério e emoção para seu dia, aqui vai uma lista com grandes suspenses pouco vistos na Netflix. Teste os limites dos seus nervos e desafie seus neurônios a desvendar essas histórias enigmáticas e assustadoras. Coloque seu coração para bater mais forte e veja até onde sua ansiedade pode te levar com esses filmes. Destaques para “Beleza Avassaladora”, de 2021, de Vinil Mathew; “Ferry”, de 2021, de Cecília Verheyen; e “O Fio Invisível”, de 2021, de Claudia Llosa. Os títulos disponíveis na Netflix estão organizados de acordo com o ano de lançamento e não seguem critérios classificatórios.
Ferry (2021), Cecilia Verheyen
Ferry está feliz e vive uma vida tranquila em Amsterdã, relaxando em seu moderno loft no centro da cidade e andando em uma poderosa Range Rover. Ele também é o capanga número um do chefe do tráfico da cidade, Brink. Quando o filho de Brink leva um tiro em um ataque promovido por uma gangue rival, Ferry fica encarregado de encontrar e matar os criminosos. Sua busca o leva para sua cidade-natal, onde Ferry conhece Danielle, que o faz repensar seu estilo de vida.
O Fio Invisível (2021), Claudia Llosa
Amanda se muda de casa com sua pequena filha e logo conhecem a nova vizinha, Carola, por quem desenvolvem uma amizade florescente. Mas logo Amanda sente o perigo se aproximar quando o filho de Carola surge. Temendo pela sua segurança e de sua filha, ela precisa se afastar, mas talvez seja tarde demais.
Beleza Avassaladora (2021), Vinil Mathew
Rani se casa com Rishu, mas ambos possuem personalidades muito diferentes. Por um lado, Rishu sempre trilhou um caminho linear. Ele é subjugado, inocente, tímido e sem muita ambição. Rani, por outro lado, é vivaz. Ela é vibrante e anseia por emoção na vida a cada momento. Os primeiros dias do casamento não vão muito bem. Rani é considerada rebelde e a família de Rishu recebe muitas reclamações da nora. Rishu, por outro lado, está apaixonado. Quando o primo de Rishu, Neel, entra em cena, Rani fica fascinada, o que a leva a dar alguns passos errados.
The Soul (2021), Cheng Wei-Hao
Wang Shicong, presidente de um grupo empresarial especializado em um moderno tratamento de câncer, é assassinado dentro de sua própria casa. O promotor Lian Wenchao e sua esposa, a policial A Bao, descobrem durante as investigações que toda a família do empresário tem conexão com sua morte. Conforme as informações vão aparecendo, o casal se aprofunda cada vez mais em um caso que pode lhes custar a própria vida.
História do Oculto (2020), Cristian Ponce
Na última transmissão do programa mais popular da Argentina, “60 Minutos Antes da Meia-Noite”, o convidado é Adrián Marcato, líder de uma seita satânica, que está pronto para expor o governo, vinculá-lo a uma sociedade secreta e revelar os laços do presidente com o ocultismo. No decorrer da noite, coisas estranhas e macabras acontecem com os produtores do show.
Quem com Ferro Fere (2019), Paco Plaza Antonio
Padin é chefe de um cartel de drogas liberado mais cedo da prisão por enfrentar uma doença terminal. Ao invés de voltar para casa com seus dois filhos, Kike e Toño, prefere gastar seus últimos dias em uma casa de repouso. O chefe de enfermagem do lugar é Mario, um homem que coincidentemente tem um passado com a família Padin, a quem ele considera responsável pela morte de seu irmão anos atrás. Enquanto Kike e Toño comandam o império das drogas construído pelo pai, Antonio e Mario se aproximam. O ex-criminoso, no entanto, não sabe que por trás das boas ações de Mario pode haver intenções vingativas.
Durante a Tormenta (2018), Oriol Paulo
Vera é jovem mãe que acaba de se mudar para uma casa. Ela encontra uma antiga televisão na residência, por onde consegue se comunicar, graças a um bug no espaço-tempo, com um garoto do passado. Ela evita com que ele testemunhe um crime que resultou em sua morte trágica e precoce. No entanto, ao acordar no dia seguinte, Vera descobre que, ao interferir no destino, modifica sua própria vida, fazendo com que seu marido e sua filha inexistam.
Informações Revista Bula
Quando o cinema se supera e produz filmes pelos quais ninguém estava esperando, ganhamos todos. Ganhamos os críticos, que ao menos por algum tempo não somos forçados a tornar às mesmas queixas nunca atendidas; ganha o mercado, que se renova e atinge novos públicos; e ganha ele, o distinto público, que se abre para novas perspectivas. Em ganhando tanta gente, sendo bastante otimista, acaba se favorecendo a sociedade como um todo, uma vez que demandas inéditas vêm a lume, mundos nunca antes imaginados passam a ser conhecidos e pessoas que, tenha a certeza, existem na esfera do real, mas jamais tiveram a oportunidade de se manifestar, se fazem ouvir. Sobretudo no Brasil, pródigo em reproduzir modinhas pseudoartísticas ou repisar temas sem dúvida importantes, como os que se espraiam sobre diversos aspectos da ignominiosa ditadura militar que sequestrou os sonhos de toda uma nação por mais de duas décadas, mas que têm de ceder espaço justamente ao sonho, à fantasia, à loucura, por que não? A arte se presta exatamente a esse papel, resgatar no homem seu lado obscuro, iluminando-o e o fazendo tão necessário a si e aos outros que renuncia a sua natureza meramente lúdica e torna-se cura.
Eduardo Nunes chegou em boa hora ao embolorado panorama cinematográfico nacional. 2017 foi um ano especialmente profícuo para a história do cinema brasileiro. Produções como o drama “Gabriel e a Montanha”, dirigido por Fellipe Gamarano Barbosa, sobre um estudante determinado a viver uma aventura perigosa, e o suspense “O Crime da Gávea”, de André Warwar, que tenta esclarecer um assassinato tão macabro quanto nebuloso, tiveram relativo destaque — o destaque que geralmente têm filmes brasileiros num mercado que luta para se desamarrar de cruéis padrões estrangeiros, mas se vê presa constante dos onipresentes conglomerados de estúdios norte-americanos, detentores do interesse dos donos de salas de projeção. Afora todo o cenário desfavorável, esses longas (e ressalve-se que são lançados mais de oitocentos curtas por ano no Brasil) põem o nariz fora d’água, ainda que por um período reduzido, como se não fossem mesmo para o bico de qualquer um. Sorte de quem os consegue assistir.
E “Unicórnio” não é um filme para todos. Evitando o curso fluido da narrativa, mas apresentando outras opções que suprem a necessidade de tornar o enredo inteligível, mas sem maiores facilidades, e flertando desabridamente com o realismo fantástico, o roteiro de Nunes, baseado nos contos “O unicórnio” e “Matamoros”, da escritora paulista Hilda Hilst (1930-2004), elabora um todo que escorre lentamente, explorando possibilidades recusadas pelo dito cinema comercial pelos motivos errados. A vida de Maria não tem nada de especial. A protagonista, vivida por Bárbara Peixoto, segue até um poço, de onde tira água todos os dias, e faz daquele espaço o seu mundo particular, sem limites diante de uma existência quase precária. Maria concede permissão para que um único intruso habite esse seu universo paralelo, o pastor interpretado por Lee Taylor, cuja importância o diretor vai acentuando aos poucos. É como se cada um defendesse a própria história diante do outro e frente ao mundo que os cerca, que passa a ser só deles. Todos os outros habitantes daquele pedaço de paraíso — que a fotografia de Mauro Pinheiro Júnior, cheia do verde cintilante das montanhas de Minas Gerais, salpicado aqui e ali por pedras cinzentas — somem quando apreciada a força da subtrama conduzida por Peixoto e Taylor, mesmo a presença sempre encantadora de Patrícia Pillar no papel da mãe de Maria, lembrando vagamente a estética da personagem de “O Quatrilho” (1995), levado à tela por Fabio Barreto (1957-2019) e indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, marco da retomada da produção cinematográfica brasileira em escala industrial após 21 anos de regime militar. Durante a repressão, os filmes engajados do Cinema Novo de Glauber Rocha (1939-1981) disputavam literalmente a tapa um lugar ao sol, isso quando a preguiçosa censura dormia no ponto, o que, em verdade, era mais ou menos corriqueiro — isso para não falar do desmonte da Embrafilme, responsável por garantir alguma salvaguarda à produção audiovisual brasileira, no governo Fernando Collor de Mello (1989-1992).
O unicórnio do título, tal como o pretendia Hilst, deixa de habitar apenas o imaginário de Maria, e ganha o mundo real, em contraponto a seu pai, interpretado pelo sempre ótimo Zécarlos Machado, uma figura nitidamente messiânica, que faz de tudo para trocar o invencível desajuste com o mundo real pela mudança terminante para uma terra exclusivamente onírica. Nunes bate nessa tecla sem cessar, inclusive na sequência em que a personagem de Ines Peixoto, onipresente nos filmes de roça, toca uma sanfona como só uma legítima sertaneja o faria, malgrado os demais atores em cena se embriaguem de aguardente. “Unicórnio” é exatamente isso, a junção da dureza da vida, em especial a do brasileiro, tanto faz se nos rincões ou nas megalópoles, a sua peleja por um naco de poesia.
Filme: Unicórnio
Direção: Eduardo Nunes
Ano: 2017
Gêneros: Drama/Fantasia
Nota: 10
Informações Revista Bula
O homem não suporta ficar indisposto, refém das descompensações químicas que ele mesmo fomenta. Qual a solução, rápida, por que não há tempo a se desperdiçar? Antidepressivos, ansiolíticos, sedativos… e o ciclo recomeça. Às vezes, a sensação de nó na garganta só se dissipa com a ajuda da medicina, mas na maior parte dos casos, há muitas outras saídas antes de se entregar aos tarjas-pretas da vida. Já pensou em ir a um lugar em que todo mundo tem o mesmo mal que você, discutir ali os seus problemas, ainda que o terapeuta falte? É o que fazem os personagens de “Toc Toc” (2017), do diretor espanhol Vicente Villanueva; mas se você joga no time de quem prefere um uma comédia romântica, junte-se aos protagonistas de “Loucura de Amor” (2021), do diretor espanhol Dani de la Orden. Esses dois filmes e mais três estão no catálogo da Netflix, do mais novo para o mais antigo. De um jeito ou de outro você vai dar um tempo na cara emburrada (pelo menos até a próxima topada na quina da mesa).
Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix
Loucura de Amor (2021), Dani de la Orden
Adri leva a vida de um jeito meio inconsequente, pulando de bar em bar e seduzindo o maior número de mulheres que pode, como uma fera insaciável num mundo cheio de opções ao alcance do seu apetite. Certa noite, o garanhão incorrigível aposta com os amigos da madruga que é capaz de conquistar a mulher que eles escolherem. O trato é selado e Adri parte para a sua caçada, sem imaginar que tropeçaria num imprevisto. Entre sua mesa e o balcão surge Carla, por quem se sente atraído imediatamente, ou seja, vai de predador a presa em minutos. Os dois se entendem e deixam o bar, dispostos a viver a noite mais inesquecível de suas vidas. Primeiro, invadem uma festa de casamento, dormem na cama reservada aos noivos e por pouco não são pegos. Cada um corre para um lado, sem nada que garanta que vão se esbarrar outra vez. Ao abordar encontros amorosos fortuitos, “Loucura de Amor” propõe um pacto com o público: nada de elucubrações muito profundas aqui, muito menos juízos de valor acerca do comportamento dos protagonistas. Primeiro, Adri e Carla não estão apaixonados, mas estão, sim, na mesma vibe, e é isso o que importa. Em seguida, há que se tomar o argumento da doença psíquica numa trama tão despretensiosa quanto uma comédia romântica exatamente dessa forma: ninguém está querendo dar lições de moral, tudo é mero entretenimento. E sempre pode acontecer que a partir daí, do entretenimento, se cheguem a conclusões importantes. É o que se tem nessa história de um amor nada sublime, mas intenso.
Você nem Imagina (2020), Alice Chu
Ellie é a típica garota interiorana em uma cidade pequena que mora com o pai, um mais solitário que o outro. Excelente aluna, se vale de seu talento para a redação a fim de ganhar algum dinheiro escrevendo textos para os colegas. Numa dessas, recebe a encomenda de Paul, que lhe pede para escrever uma carta romântica para Aster, uma das moças mais bonitas da escola, por quem está interessado. Ellie aceita a tarefa, e, a partir de então, vai se deparar com uma pletora de emoções nada confortáveis.
Amor por Metro Quadrado (2018), Anand Tiwari
A vida adulta é uma sucessão de dificuldades. Há que se formar numa boa faculdade, a fim de se ter um diploma que conte, o que não é garantia de se conseguir um bom emprego. Quando se começa a chegar lá, é necessário se mostrar antenado com as muitas transformações do mundo contemporâneo, sem se deixar engolir pelo mercado, cada vez mais competitivo. Por fim, em se afinando todas essas variáveis, cuidar das obrigações sociais: arranjar um bom parceiro, casar e ter filhos. Mas e quando os ponteiros do relógio começam a girar mais e mais depressa, o tempo avança e não acontece nada disso? Sanjay e Karina, dois perdedores, como o mundo os enxerga, não têm dinheiro o bastante para comprar a casa que querem. A solução parece óbvia: o casamento, ainda que nem de longe estejam apaixonados um pelo outro. Eles desafiam as circunstâncias e apostam nisso, sem saber que podem estar mudando suas vidas para sempre.
Toc Toc (2017), Vicente Villanueva
Se o atraso de um médico é capaz de provocar tensão entre pessoas ditas normais, quando se trata de gente com um parafuso a menos a situação resvala para a iminência de um verdadeiro pandemônio. A trama aparentemente banal de um grupo de pacientes com transtorno obsessivo compulsivo (TOC) que aguarda a chegada do psicoterapeuta que os atende tem o condão de revelar as muitas misérias do homem, perdido no mundo em busca de autoconhecimento, sem ser enfadonha, pelo contrário. Enquanto esperam, os pacientes passam o tempo falando sobre o dia a dia nada normal de cada um, se examinam entre si, avaliam quem está melhor ou pior e fazem força para tolerar as loucuras um do outro, sem saber por quanto tempo vão conseguir aguentar esse verdadeiro tormento. Mesmo o espectador mais certinho se reconhece neles em alguma medida, toma o lugar do analista e começa a também perscrutá-los, no intuito de avaliar suas possíveis pequenas insanidades.
The Fundamentals of Caring (2016), Rob Burnett
A tragédia que colhe Ben muda completamente o curso de sua vida, e ele resolve abandonar a carreira de escritor para se dedicar a cuidar de pessoas com necessidades especiais. Trevor, 18 anos, seu primeiro cliente, é portador de distrofia muscular, o que não o impede de desancar Ben quando tem vontade. Trevor convida o novo amigo a fazer uma viagem, e os dois visitam os lugares que o garoto só conhecia pela televisão. Na estrada, se juntam a eles Dot e Peaches, e a aventura se torna cada vez mais saborosa à medida que redescobrem a vida a partir da importância dos amigos.
Doenças mentais não são brincadeira. Em todo o mundo, há mais de 720 milhões de indivíduos com algum transtorno psíquico, cerca de 10% da população da Terra. No Brasil, campanhas que anatematizaram manicômios foram responsáveis por, na prática, intensificar o sofrimento de pacientes que recebiam algum tratamento nessas instituições; uma vez liberados, seguem para casa, para serem assistidos por parentes que, por mais bem-intencionados, não dispõem de todo o conhecimento para tratá-los de maneira adequada. Ao longo dos anos, começaram a pipocar casos de pessoas que passavam os dias acorrentadas, como feras, porque, privadas de cuidados básicos como terapia e medicamentos, tornavam-se de fato outras pessoas, presas de seus próprios fantasmas existenciais. Decerto eventos como os destrinchados pela jornalista Daniela Arbex em “Holocausto Brasileiro — Genocídio: 60 Mil no Maior Hospício do Brasil”, publicado pela editora Intrínseca em 2020, ajudaram a tornar ainda mais desumana a ideia de submeter doentes mentais a socorro hospitalar em regime de internato. Não sem razão.
Fundado em 1903, o Hospital Colônia de Barbacena, no sudeste de Minas Gerais, angariou uma fama macabra ao sujeitar seus internos a sempre controverso eletrochoque, castigos físicos e isolamento em câmaras diminutas. Homens e mulheres permaneciam soltos no pátio da instituição, nus, e as gravidezes não eram incomuns. Quando isso acontecia, os médicos esperavam que a mãe desse à luz para entregar o bebê à adoção. Aos poucos, as puérperas desenvolveram um método para não terem os filhos levados: esfregar fezes em si e na criança. O horror. Como se fechar hospitais psiquiátricos fosse a saída para resolver o problema do atendimento a pacientes em sofrimento mental, e não a constante atualização dos métodos, pautados por vigilância e profissionais bem treinados. O Brasil é um caso perdido.
Tratando a evidência inescapável das patologias de fundo nervoso como uma comédia das mais inteligentes do cinema, o diretor espanhol Vicente Villanueva compõe em “Toc Toc” (2017) um mosaico multicolorido sobre o que é ter atividades básicas do cotidiano, como ir ao trabalho ou comparecer a um encontro amoroso, tolhidas por manias e desvios comportamentais. Concebida originalmente como um texto para o teatro, a peça do escritor francês Laurent Baffie foi adaptada para o cinema por Villanueva, que para falar de assuntos que permanecem tão graves, se vale da máxima latina popularizada por outro dramaturgo, o português Gil Vicente, (1465-1536) e pune os costumes pelo riso.
O mote central do roteiro é o atraso de um médico — que, conforme se vai assistir, não é aleatório —, capaz de provocar verdadeiro pandemônio entre seis pessoas diagnosticadas com os mais variados gêneros de psicopatologias. Enquanto esperam o misterioso doutor Palomero, os seis passam o tempo falando sobre a rotina nada normal de cada um, avaliam quem está melhor ou pior e fazem força para tolerar as loucuras um do outro, sem saber por quanto tempo vão conseguir aguentar esse tormento sem traumas adicionais. Aparentemente, a confusão se deve ao pouco traquejo da secretária Tiffany, de Inma Cuevas, com o novo software instalado no computador do consultório que agendou todas as consultas para as quatro e meia. Federico, interpretado com o vigor de sempre por Oscar Martínez, é o primeiro a chegar, seguido por Blanca, de Alexandra Jiménez, uma técnica de laboratório maníaca por limpeza. A sequência que marca o encontro inusitado dos dois, de um humor bastante refinado, deixa claro ao espectador que aquelas pessoas estão mesmo precisando de ajuda. Algum tempo depois aparecem Emilio, de Paco León, taxista obcecado por números e cálculos, capaz de realizar qualquer operação matemática de cabeça; a carola Ana María, que nunca sai de casa sem que confira reiteradas vezes se desligou as luzes, fechou as torneiras, bloqueou o registro do gás e apagou as velas que ardem diante da imagem de seus santos de devoção, se benzendo a todo instante. Completam o grupo a instrutora de academia Lili, de Nuria Herrero, que como seu nome sugere, repete sílabas, palavras e frases inteiras entre e outro arroubo de movimentos com a cabeça e escapes de estalidos com a língua; e o elástico Otto, com o clássico problema de não conseguir pisar sobre listras, a porção de comédia física em “Toc Toc”, levada com graciosa maestria por Adrián Lastra.
Quando estão todos reunidos na antessala do tal doutor Palomero, Villanueva começa a dinâmica de seu trabalho, ou seja, fazer que seus personagens enxerguem a ausência do médico como a oportunidade ideal para expiar suas angústias diante uns dos outros, como numa terapia em grupo, a fim de tentar achar uma solução alternativa às consultas periódicas. Apostando alto na metáfora da união que faz a força, o diretor desnuda seus seis adoráveis doidinhos, que mesmo protagonizando atritos pontuais, até que se portam bem. Na iminência do desfecho, Federico, Blanca, Emilio, Ana María, Lili e Otto, notam que a inadequação social que seus respectivos transtornos geram na vida de cada um tem igual matriz: a necessidade, desprezada pelos ditos normais, de pertencer a um grupo, arco que o diretor fecha de uma maneira um tanto simplória, e inteligente mesmo assim.
Nas cenas exibidas ao longo dos créditos finais, “Toc Toc” mostra que esse sexteto tornou-se menos louco, mais próximo do mundo real e gozando de mais possibilidades de serem, afinal, aceitos. Não querem nada de excepcional. Só serem vistos mais de perto.
Filme: Toc Toc
Direção: Vicente Villanueva
Ano: 2017
Gênero: Comédia
Nota: 9/10
Informações Revista Bula
O acervo da Netflix conta com mais de 4.500 títulos entre filmes, séries, documentários, animações e reality shows. Mas você sabia que dentre tudo isso, mais de 1.400 são originais da plataforma? Ou seja, conteúdo produzido pela Netflix e que você só poderá ver por lá? Pois é, e, para 2022, já são mais de 70 títulos originais previstos para chegar no serviço de streaming. Nesta semana, teremos algumas estreias e a Revista Bula trouxe agora para você quatro filmes que você não pode perder. Destaques para “Ainda Estou Aqui”, de 2022, de Arie Posin; “As Garotas de Cristal”, de 2022, de Jota Linares; e “Metal Lords”, de 2022, de Peter Sollett. Os títulos disponíveis na Netflix estão organizados de acordo com o ano de lançamento e não seguem critérios classificatórios.
Ainda Estou Aqui (2022), Arie Posin
Tessa é uma adolescente que, durante sua infância, pulou por lares adotivos e não acredita mais que merece amor. Após se encontrar com Skylar, um jovem de uma cidade vizinha, seu coração começa a se abrir. No entanto, o casal sofre um acidente de carro. Skylar morre e Tessa sobrevive. Após procurar respostas para o que aconteceu, Tessa passa a acreditar que Skylar está tentando se comunicar com ela. Com ajuda de sua melhor amiga, Tessa tenta se reconectar com Skylar uma última vez.
As Garotas de Cristal (2022), Jota Linares
Após a morte de Maria, a primeira bailarina de um espetáculo, provocada por suicídio, Irene, que é a substituta, começa a treinar para ocupar seu papel de protagonista. Sob ordens do coreógrafo Antonio Ruz, Irene se sente oprimida e pressionada. Ao lado de outra amiga bailarina, Irene irá criar um mundo próprio para escapar da tensão e do medo de falhar.
Metal Lords (2022), Peter Sollett
Hunter e Kevin são dois adolescentes de ensino médio que querem formar uma banda de heavy metal. Eles estão à procura de um baixista, mas só conseguem encontrar Emily, que toca violoncelo. O grupo se inscreve no Battle of Bands, mas precisam conciliar as diferenças musicais para conseguirem vencer.
Yaksha: Operação Implacável (2022), Hyeon Na
Kang-in é chefe de um departamento do Serviço Nacional de Inteligência, em Shenyang, na China. Ele lidera uma equipe com os melhores e mais preparados espiões para missões secretas. Um agente notório, capaz de qualquer coisa para atingir seus objetivos, Kang-in é conhecido como Yaksha, que significa “espírito devorador de humanos”. Até que Ji-hoon, um promotor de Justiça, chega para investigar o departamento de Kang-in, provocando uma tensa batalha entre forças de segurança.
Informações Revista Bula