Além de discutirem amores possíveis e o futuro dos relacionamentos, o último episódio da temporada do “Sexoterapia”, podcast de Universa, analisou casos enviados por ouvintes. Ana Canosa e Bárbara dos Anjos receberam Carol Tilkian, criadora do projeto Amores Possíveis.
As duas histórias foram enviadas por mulheres.
Na primeira, a ouvinte enfrenta problemas com os familiares do marido. Diz ter levado uma vida de solteira enquanto estava casada e, agora, odiada pela sogra, ainda mora com o companheiro, mas escondida da mãe dele.
Na segunda, uma mulher e 42 anos pede ajuda para conseguir curar um coração partido, que ainda sofre com relações do passado mesmo estando feliz no namoro atual.
Ano passado, estava de mudança agendada para os Estados Unidos, por causa de uma proposta de trabalho feita pela empresa do meu marido. Não tinha certeza se queria ir com ele, pois abriria mão da minha carreira aqui, que estava muito bem. Então, na tentativa de descobrir se queria, comecei a viver uma vida de solteira, mesmo estando casada, expondo nas redes sociais fotos com amigas nas baladas. Isso gerou um estresse, e a família dele se intrometeu, apoiando o divórcio. Pedi as contas da empresa e decidi ir com ele. No dia da viagem, ele apareceu com a mãe, me humilhando pela situação que expus nas redes, disse que eu era indigna de ser da família e pediu o divorcio. Fiquei totalmente vulnerável, pois perdi o emprego que amava e o casamento. O que mais me dói foi não ter conseguido reagir à altura das ofensas da minha sogra. Mas meu marido acabou pedindo para voltar no mesmo dia, e estou nos EUA escondida da família dele.
Ana Canosa: “Parecem dois adolescentes fugidos da mãe. Acho que precisa rever isso aí. Me dá a sensação de que ela teve um surto adolescente quando ficou se expondo, colocando fotos nas redes, o que é comum”.
Carol Tilkian: “Mas o que é agir como casada? Por que você, como uma pessoa casada, não pode sair sozinha com suas amigas? Hoje se discute sobre relações abertas serem um caminho, mas vejo o quanto a gente tem acordos não explícitos em um casal, que cerceiam a liberdade um do outro”.
Ana Canosa comentou a respeito dos contornos no relacionamento.
Contornos são necessários numa relação de compromisso. As pessoas, às vezes, perdem isso. Não dá para agir como um adolescente sem a sua parceria estar sabendo. A questão é o combinado.none Ana Canosa
Ela continua: “A relação possível tem expansão, ela não pode ser fixa, cristalizada, porque senão vai dar ruim. Ela saiu do contorno que achava que era possível, chamaram a grande mãe para dar uma bronca. E no final ela está lá, escondida, para restaurar a culpa que acha que teve, e ele, adolescente, não contou para a mãe”.
“Tenho 42 anos e há três me separei, após 15 de relação. Antes, namorei outro cara por nove anos, desde a adolescência. Foi um namoro altamente tóxico e abusivo, e só percebi isso depois de mais velha. Voltando à minha separação, foi bem difícil, tive que sair de casa no auge da pandemia, em abril de 2020, e morar com meus pais de novo, até recomeçar e reconstruir meu lar sozinha. Ainda tentamos voltar, mas a falta de perdão de ambos não permitiu. Até hoje tenho muita mágoa de tudo que aconteceu nessa relação.
Em três anos solteira, fiz muita coisa que eu mesmo julgava errado, como transar sem camisinha com alguém que nunca vi e trair nessas pequenas relações. Vi muito disso como forma de autoafirmação, de me distanciar do meu relacionamento antigo. Hoje estou num novo relacionamento com um amigo que conheço desde a adolescência. É leve e sem cobranças, mas o fantasma do relacionamento anterior ainda está na minha cabeça.
Não consigo superar o coração partido. Fico lembrando que todos por quem me apaixonei enquanto solteira eram pessoas mimadas, infantis, que me fascinavam pelo jeito. Sempre coloquei num pedestal quem me apaixonei, como se fossem demais para mim, e eu devia fazer de tudo para mantê-los por perto. Agora, me vejo no mesmo patamar do meu namorado, me sinto leve e feliz, mas sinto não conseguir superar o fim do relacionamento antigo. Não quero voltar, estou feliz com meu namoro, mas o coração não se cura nunca. Não consigo deixar para trás essa bagagem que pesa”.
Ana Canosa: “É quase como ter ido para o mundo adulto e olhar: é difícil mesmo. O problema não é a cura do relacionamento que não deu certo. O problema é que ela tem medo porque descobriu que a vida dá mil voltas, que julga alguém que trai e, amanhã, está traindo”.
A sexóloga completa: “Tudo bem, foi um relacionamento abusivo, pode ter provocado traumas. Ela tem medo porque sabe que o ser humano é múltiplo e, por mais que esteja numa relação boa hoje, amanhã pode acontecer algo que vai doer”.
Bárbara dos Anjos: “E se acontecer, não invalida o tempo que ficaram juntos e foi bom”.
Carol Tilkian: “Tem coisas que vão mexer com a gente sempre. Mas precisamos entender em que lugar da minha vida coloco essa pessoa. Acho que ela ainda não se deu conta disso. Há uma dificuldade de lidar com a saudade sem paralisar. E se eu puder olhar e validar as coisas boas?”.
As pessoas têm muita dificuldades de lidar com amores tranquilos, embora desejem. Porque tem que dar conta do silêncio de uma relação que não tem movimentação o tempo inteiro. noneAna Canosa
No último episódio da temporada do “Sexoterapia”, Bárbara dos Anjos, Ana Canosa e Carol Tilkian, conversaram sobre o que são amores possíveis e relacionamentos supostamente ideais.
Ana Canosa: “É racionalmente impossível controlar sentimentos. É preciso treinar a validação de nossas fragilidades. O amor não suporta tudo. Quando você tem que suportar tudo, já não é mais amor. Entre o ideal do amor verdadeiro e a realidade solitária de todas nós, há o possível, a intenção, a capacidade de expansão. É nisso que podemos apostar”.
Carol Tilkian: “Acredito que o amor é possível e transformei essa crença em conteúdo. A gente tem que abrir mão de algumas fantasias, mas o amor ainda pode ser fantástico”, diz.
Ela sugere que o amor seja visto como um caleidoscópio. “As relações estão em constante mudança que ora vão criar imagens mais harmônicas, ora menos, com mais encontro, mais desencontros, mas sempre num espaço de falta. Entender essa reconstrução constante é uma das coisas mais importantes de se fazer pra que o amor seja possível.”
Ana Canosa: “A gente não pode ficar fantasiando o ideal, mas ele aponta para uma narrativa do que você quer construir, que pessoa você quer ser, que amor você quer ter”, opinou a sexóloga.
“É importante projetar o ideal do que acompanha uma relação saudável —e não uma relação de contos de fadas— para apontar o caminho do queremos, como quero me desenvolver como pessoa e do que espero de uma parceria. Por isso, o amor possível aponta para possibilidade de expansão, pra chegar em algum lugar, como com uma roupa que me cai muito bem”, afirmou Ana.
Elas discutiram também sobre a relação entre o amor considerado ideal e as expectativas em torno de uma relação.
Bárbara dos Anjos: “A gente tem desejos, vontades, não tem como não ter”.
Carol Tilkian: “Hoje em dia, parece que criar expectativas é inviabilizar a relação porque já está projetando demais. Acho que tem a ver com como a gente calibra essa expectativa”.
Bárbara dos Anjos: “Tem uma coisa, não só do relacionamento, mas na vida depois dos 30 anos. A gente carrega uma bagagem emocional, estamos feridos. O quanto a gente consegue, de verdade, se entregar a essas possibilidades de felicidade que o amor traz sem se referir a relacionamentos passados? Como ter o recomeço sem estar carregando isso?”, questionou a jornalista.
Ana Canosa: “Bagagem a gente sempre vai ter. Agora, claro que, quanto mais mais maduros, mais a gente consegue reconhecer nossas habilidades e os desafios. Autoconhecimento nisso é fundamental”.
Carol ainda questionou um discurso em alta, do amor próprio e da autossuficiência. “Não acredito muito nisso, acredito no ‘se valide’. Validar que sou ciumenta mesmo, que sou medrosa, insegura e colocar isso para o outo de uma forma honesta, e não se vitimizando”.
Bárbara dos Anjos: “Entre a real e a melhor versão, tem a possível”.
Além de discutirem amores possíveis e o futuro dos relacionamentos, o último episódio da temporada do “Sexoterapia” analisou casos enviados por ouvintes. As duas histórias foram enviadas por mulheres.
Na primeira, a ouvinte enfrenta problemas com os familiares do marido. Diz ter levado uma vida de solteira enquanto estava casada e, agora, odiada pela sogra, ainda mora com o companheiro, mas escondida da mãe dele.
Na segunda, uma mulher e 42 anos pede ajuda para conseguir curar um coração partido, que ainda sofre com relações do passado mesmo estando feliz no namoro atual.
Informações Universa UOL