O 5G puro completou um ano de existência no Brasil nesta semana. A velocidade mais alta da nova rede já tem feito alguns brasileiros cogitarem abrir mão da internet fixa dentro de casa. Mas será que a internet de quinta geração vai, de fato, colocar fim à conexão via cabos?
Uma pesquisa realizada pela OpenSignal em maio deste ano indicou que a velocidade de download em três cidades brasileiras em que o 5G está liberado passa de 400 Mbps, se aproximando do que hoje é oferecido em pacotes mensais de internet banda larga fixa. São elas: Porto Alegre, Teresina e Curitiba.
Apesar desse bom desempenho, segundo especialistas ouvidos por Tilt, a chance do 5G substituir a internet fixa em grande escala é remota, pois os dois são tecnologias com propostas diferentes.
Rede de conexão móvel desenvolvida para ser mais estável e mais rápida do que o 4G.
Permite que diferentes aparelhos acessem a internet ao mesmo tempo.
Não necessita de cabos ou fibra para funcionar.
Somente dispositivos (como celulares, tablets) compatíveis conseguem acessar o 5G.
Para o professor Ricardo Caranicola Caleffo, do curso de Engenharia Eletrônica do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia), o 5G é mais apropriado na questão de desempenho de conexão, como usos na rua — através do celular. Já o wi-fi é insubstituível para questões domésticas.
“Para comunicação em ambientes fechados eu não vejo possibilidade de haver uma substituição de uma tecnologia para outra”, diz o docente, também pesquisador na USP (Universidade de São Paulo).
Ana Benso, professora do curso em Ciência da Computação da Escola Politécnica da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), acrescenta que, se essa substituição acontecer, isso será num futuro bem distante. A implantação do 5G ainda passará por grandes desafios nos próximos anos.
O wi-fi já tem uma rede consolidada, o que levou anos para chegar a esse nível, destaca a professora. No caso da internet de quinta geração, a infraestrutura ainda está sendo montada. Pelo cronograma da Anatel, a sua instalação completa no Brasil deve acabar em 2028.
“Não é que o 5G não possa suprir a internet fixa, mas o problema é que existe um combinado de tecnologia e infraestrutura estabelecida. Isso tudo é uma questão de tempo e custo, de quanto tempo vai levar para se implantar [o 5G] nas cidades, quais os custos que isso representa”, afirma Benso.
“Num futuro distante a tendência vai ser a gente ter redes sem fio suprindo a internet domésticas. Mas aí todos os outros dispositivos vão ter que ter conectividade direto com 5G ou com um roteador 5G que receba esse sinal”, complementa.
A oferta de celulares compatíveis ainda é embrionária no Brasil.
A troca da conexão fixa pelo 5G móvel naturalmente depende de como a pessoa usa a internet, acrescentam os entrevistados. Muitos a usam dentro de casa para conferir redes sociais, jogar, ver vídeos e séries, estudar, participar de reuniões online.
Pessoas dentro desse perfil gastariam mais com o pacote de dados a partir do 5G diante da limitação do serviço contratado. O wi-fi ainda é o melhor aliado para esse combo de usos.
“Por melhor que seja o pacote oferecido pela operadora e contratado pela pessoa, você ficar o dia inteiro com o celular conectado ao 5G, gastando teu pacote, uma hora ele acaba. A rede wi-fi não tem essa característica. Se você contrata uma rede fixa, você não contrata uma quantidade x de dados”, explica o professor de engenharia eletrônica.
Se você ficar o dia inteiro com seu dispositivo ligado à rede wi-fi, você tem o que foi acordado com a operadora com uma determinada taxa de transmissão de dados, acrescenta Caleffo.
O 5G é mais rápido do que qualquer conexão móvel já usada, mas os benefícios práticos envolvidos na rede ainda são poucos no Brasil. Tudo ainda é recente. Por isso, o professor Caleffo recomenda cautela entre as pessoas que estão mirando substituir a internet fixa.
“Houve uma grande expectativa por parte de todo mundo, mas na realidade, na prática, vai levar mais tempo do que as pessoas estão imaginando para elas sentirem os benefícios da rede 5G, afirma.
Sidney Azeredo Nince, assessor na Superintendência de Outorga e Recursos para a Prestação de Serviços de Telecomunicações na Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), observa que a possibilidade de migração da internet fixa para a móvel já era vislumbrada quando a tecnologia 5G foi lançada. Porém, ele também reconhece diferenças entre os dois tipos de rede.
“A banda larga móvel é muito variável, você se desloca, mas pode ter prédios que interrompam o sinal. Tem uma série de variações, por exemplo, lugares que durante um período tem muitas pessoas usando, a internet pode oscilar. Já a banda larga fixa, o comportamento da rede é muito mais previsível”, conclui Nince.
Informações Tilt UOL