Por Renato Mauricio Prado
Renato Gaúcho teve nas mãos o time de 200 milhões que tanto queria e fracassou nas três competições que disputou. Não tem mais condição de seguir no comando do Flamengo – melhor colocar o técnico dos juniores nas últimas partidas no Brasileiro. E tratar rapidamente de buscar um treinador estrangeiro para o seu lugar.
Mas, convenhamos, Portaluppi está longe de ser o único problema do rubro-negro, que precisa de ampla reforma do departamento de futebol, se quiser voltar à trilha de vitórias iniciada em 2019. Desde a saída de Jorge Jesus (antecedida pela demissão de Paulo Pelaipe) as coisas começaram a degringolar por lá, a ponto de chegar, nos dias de hoje, a uma completa esculhambação.
O vice-presidente de futebol Marcos Braz, por exemplo, deveria ter sido desligado do cargo no exato momento em que resolveu se utilizar dele para se eleger vereador. Conflito de interesses total. Inadmissível. Como aceitar, por exemplo, que o Ninho do Urubu tenha sido usado para um churrasco festivo, com direito a pelada dos edis fluminense? Um escárnio!
Sem Jesus e Pelaipe, Braz foi permitindo também que, pouco a pouco, os líderes do grupo (a geração de 85, formada por Diego Alves, Filipe Luís e Diego Ribas, além de nomes de peso, como Éverton Ribeiro e Gabigol) começassem a tomar as rédeas do departamento. Treinos em tempo integral? Atividades pela manhã? Nem pensar. Concentração? Esquece!
Pior: profissionais amigos dos jogadores, mesmo sem a experiência necessária no futebol profissional, passaram a ser contratados. E a panela não se restringiu às amizades dos atletas. O próprio Braz foi buscar, para chefiar a preparação física, um parceiro de conquista em 2009, ano em que deve se festejar o título brasileiro mais improvável da história do Fla, mas nem de longe pode servir de modelo para qualquer coisa.
Em outro erro piramidal, fez-se do vice-presidente médico Márcio Tannure o todo-poderoso gestor de um suposto “centro de alto rendimento”, o que lhe deu poderes não somente sobre os médicos, mas também sobre os profissionais de preparação física, fisicultores etc. E o que fez, Tannure? Contratou gente sem experiência que já trabalhara em sua clínica particular. E o Flamengo começou a perder os melhores profissionais por achatar os salários e deixar de ser competitivo no mercado.
Sim, houve excesso de jogos num calendário estrangulado, mas qual clube sofreu tanto com contusões musculares e problemas médicos que demoravam uma eternidade para serem resolvidos? O que dizer do caso de Pedro, que ficou 12 dias até que se descobrisse que precisaria de uma cirurgia no menisco? Incompetência, não há outra palavra.
O substituto de Pelaipe é outro caso típico da “ação entre amigos” sobrepondo-se às escolhas por mérito e competência. Gabriel Skinner, parente de Bap, é um velho “parça” dos jogadores, aos quais acompanha muitas vezes nas baladas à noite. É o nome mais indicado para cobrar responsabilidade de alguém no elenco? Óbvio que não.
O Fla não precisa somente de um novo treinador estrangeiro. Mas também de um executivo de futebol de ponta, igualmente de fora do país. Um clube que fatura R$ 1 bilhão numa única temporada tem a obrigação de contar, em todos os seus departamentos ligados ao futebol, com os melhores profissionais do mercado. O que está a anos-luz de acontecer agora.
Em tempo: a geração de 85 já deu o que tinha que dar. Foi mais uma irresponsável ação entre amigos renovar seus contratos. Diego Alves (que vive se contundindo e falhou no primeiro gol na final), Filipe Luís (que cada vez mais vai conviver com problemas na panturrilha, como o que o tirou da partida em Montevidéu) e Diego Ribas (que não consegue mais ser competitivo) precisam de reposição de qualidade, urgentemente.
E não fica por aí: Éverton Ribeiro e Isla são outros que não têm jogado bulhufas e precisar abrir espaço, se o rubro-negro quiser continuar a ser competitivo. E Gabigol que trate de aprimorar a forma física (está lento e acima do peso) e a reaprender a chutar com a perna direita… Que falta faz Jorge Jesus, um mestre em aperfeiçoar tais fundamentos.
O Mister, aliás, foi a exceção que confirma a regra de que a administração Landim, tal qual a de Bandeira, pode ser muito competente em termos de administração e finanças, mas não entende patavinas de futebol. Vide a coleção de treinadores incompetentes que contratou: Abel Braga, Domènec Torrent, Rogério Ceni e, por fim, Renato Gaúcho.
Em tempo 2: a temporada 2021 do Flamengo foi um fragoroso fiasco. Não é admissível que um time com a monumental folha salarial rubro-negra (a maior do continente) perca as três principais competições que disputou. Não há desculpa.
Informações UOL Esporte