Em um artigo no Xinhua, um dos órgãos que reflete a posição oficial do Partido Comunista da China, Pequim ameaçou suspender as exportações de produtos farmacêuticos, que na sequência “mergulharia os EUA no poderoso mar do coronavírus”… — Yanzhong Huang, senior fellow para a saúde global, Conselho de Relações Exteriores, Twitter, 4 de março de 2020.
“Escondida atrás das declarações de solidariedade, a China planeja comprar nossas cambaleantes empresas e infraestrutura” — Bild, 19 de março de 2020.
A Itália, país duramente castigado pela pandemia de coronavírus da China, agora é o pivô de uma estratégica campanha de propaganda chinesa. Pequim está enviando médicos e suprimentos para a Itália e também para o restante da Europa. Na Itália é possível ver cartazes com os dizeres: “Força China!” A China almeja comprar nosso silêncio e nossa cumplicidade. Lamentavelmente, é isso mesmo que está acontecendo.
A China não está ajudando a esta altura em nome da “solidariedade”. O regime chinês quer se sobressair como salvador do mundo. No início da pandemia Pequim não dava a mínima para a vida de seu próprio povo: estava ocupada demais censurando notícias.
O Partido Comunista da China é a “ameaça nº 1 dos nossos tempos”, salientou de maneira perspicaz o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo em janeiro. Naquela altura, o coronavírus já estava se espalhando por toda a China e pelo mundo. O esforço do Partido Comunista de esconder a epidemia provou que Pompeo estava mais do que certo. “Minha preocupação é que esse acobertamento, essa guerra de desinformação sendo promovida pelo Partido Comunista da China, ainda esconda do mundo as informações necessárias para que possamos evitar que novos casos ou algo parecido se repitam”, ressaltou Pompeo esta semana.
Se a China tivesse reagido ao surto três semanas antes, 95% dos casos de coronavírus poderiam ter sido evitados segundo um estudo conduzido pela Universidade de Southampton. Naquelas três semanas, a China estava ocupada sonegando a verdade. De acordo com Steve Tsang, diretor do SOAS China Institute da Universidade de Londres, “foi o acobertamento do Partido Comunista nos primeiros dois meses, mais ou menos, que criou as condições necessárias para gerar a pandemia global”.
No entanto, os líderes chineses, ao que tudo indica, estavam obcecados única e exclusivamente com a sustentabilidade do regime totalitário, ávidos em abafar qualquer crítica, a antiga praxe. Desde janeiro, a evidência do encobrimento deliberado do coronavírus da China em Wuhan virou matéria de domínio público. O governo chinês censurou e prendeu médicos e denunciantes corajosos que tentaram soar o alarme. Jack Ma, um dos empresários mais ricos da China, revelou recentemente que a China abafou no mínimo um terço dos casos de coronavírus.
A China conseguiu atingir o patamar de superpotência porque adotou práticas econômicas do Ocidente. Nenhum país conseguiu um progresso econômico e social tão rápido durante um período tão prolongado. Contudo, as esperanças depositadas pelo Ocidente no mercado chinês também alimentaram uma miragem perigosa. Nós, no Ocidente, achamos que uma China modernizada com um PIB em crescimento também iria se democratizar e passaria a respeitar a transparência, o pluralismo e os direitos humanos. Contrariando as expectativas, a miragem se transformou em desastre e diante dos nossos olhos a China foi virando um “estado ainda mais totalitário”
A natureza do regime chinês, a proibição da imprensa livre e toda e qualquer voz crítica, o domínio absoluto dos atores sociais, espirituais e econômicos pelo Partido Comunista, o encarceramento de minorias e o rolo compressor que passa por cima da liberdade de consciência, também contribuem para o surgimento deste desastre de saúde pública. O custo, em termos de vidas humanas e do PIB mundial, é incomensurável.
A cumplicidade do governo chinês no tocante à pandemia é a oportunidade para o Ocidente reavaliar seus laços com Pequim. De acordo com Guy Sorman, especialista franco-americano na China:
“assim como os idiotas úteis, o que nós fizemos não foi só ajudar o Partido a prosperar, pior do que isso, deixamos pelo caminho nossos valores humanitários, democráticos e espirituais.”
“Está na hora”, salientou o colunista americano Marc A. Thiessen, de “imunizar nossa economia e segurança nacional da nossa dependência de um regime trapaceiro”.
A China está travando duas guerras de informações: uma no exterior e outra interna para a sua população, ambas lideradas pelas autoridades chinesas encabeçadas pelo presidente Xi Jinping. Ao que tudo indica, eles veem o Ocidente como fraco e submisso. E somos mesmo.
A China parece acreditar que se encontra em franco crescimento, ao mesmo tempo em que o Ocidente em franco declínio. “Nos encontramos no que os alemães chamam de Systemwettbewerb, uma “competição de sistemas”, de um lado as democracias liberais, do outro o capitalismo estatal autoritário da China, que está gradativa e incessantemente projetando suas pretensões absolutas de poder para além de suas fronteiras “, ressaltou Thorsten Benner, cofundador e diretor do Global Public Policy Institute, em Berlim. A Guerra Fria com a Rússia foi mais transparente.
“Estávamos diante de um antagonista nas esferas ideológicas e de segurança, mas não um concorrente na área econômica. Havia um muro chinês entre as economias do Ocidente e da União Soviética. Hoje nos confrontamos com um oponente que é um poderoso concorrente na economia, astutamente envolvido na política econômica do Ocidente. Concomitantemente também dependemos da cooperação da China em questões transnacionais, como mudanças climáticas e pandêmicas. O sistema estatal capitalista e autoritário da China, juntamente com suas ambições hegemônicas, são de longe o desafio estratégico mais difícil com que o Ocidente já se deparou”.
Segundo o historiador Niall Ferguson, “hoje a China representa um desafio econômico jamais visto em relação à União Soviética”. A União Soviética jamais poderia contar com um setor privado dinâmico, a exemplo da China. Em determinados segmentos, como os de tecnologia, a China já ultrapassou os Estados Unidos. E não para por aí, a economia soviética nunca esteve tão intimamente integrada com o Ocidente como a chinesa, a segunda maior do mundo. O governo de um só partido totalitário da China dá mais liberdade aos indivíduos, pelo menos no presente momento, do que a União Soviética. A epidemia de coronavírus se deve, de fato, em parte à liberdade de ir e vir dos cidadãos chineses.
A China também conseguiu convencer em grande medida o Ocidente de que ela não é inimiga. O objetivo de Pequim parecia ser seduzir o Ocidente e o restante do planeta para a sua órbita econômica e ideológica. A China abriu mercados no Ocidente, enquanto oferecia ao seu próprio povo uma espécie de pacto com o diabo: desistam de suas ideias e princípios e vocês desfrutarão de melhores condições de vida material e segurança social. Nesse ínterim, a China se tornava um gigante industrial e tecnológico, feito que nem em sonho a União Soviética poderia alcançar.
Por: Gatestone Institute
Foto: Naohiko Hatta