Por Josias de Souza para o UOL
Foto: Alan dos Santos/ PR
Preso numa unidade militar de Brasília desde quarta-feira, o coronel Mauro Cid enviou uma mensagem para Bolsonaro abaixo da linha d’água. Valendo-se de intermediários, mandou dizer que não cogita incriminá-lo no caso da falsificação de cartões de vacina. Cercado pelas evidências recolhidas pela Polícia Federal, o ex-ajudante de ordens pretende assumir sozinho a responsabilidade por tudo o que as provas colecionadas pela Polícia Federal tornarem irrefutável.
A lealdade de Mauro Cid orna com o enredo construído pela vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo. Mas destoa da percepção do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Braço direito de Augusto Aras, Lindôra sustentou em manifestação ao Supremo que, de acordo com o que viu no processo, Mauro Cid teria “arquitetado e capitaneado toda a ação criminosa, à revelia, sem o conhecimento e sem a anuência” de Bolsonaro.
Ao deferir o pedido da Polícia Federal para realizar uma batida de busca e apreensão na casa de Bolsonaro, Alexandre de Moraes anotou que “não é crível” a versão segundo a qual o ajudante de ordens pudesse ter comandado operação criminosa destinada a beneficiar Bolsonaro e a filha dele sem “no mínimo conhecimento e aquiescência” do chefe. Os cartões falsos foram baixados em endereços IP do Planalto.
Diante da disposição de Mauro Cid de matar a encrenca no peito, ganha especial relevância o conjunto de evidências que a PF será capaz de reunir em relação à participação de Bolsonaro. De resto, consolida-se a impressão de que a expressão “eu não sabia” passará à história como uma frase-lema do Brasil pós-ditadura. Será lembrada quando, no futuro, quiserem recordar a época em que o país era regido pelo cinismo.
Lula recorreu ao “eu não sabia” no escândalo do mensalão do PT. O tucano Eduardo Azeredo repetiu a frase no processo do mensalão do PSDB. Agora, Bolsonaro recorre ao mesmo subterfúgio. Usada assim, tão desavergonhadamente, a expressão já virou uma espécie de código. Quando ela aparece, já se sabe que o país está diante de mais um desses escândalos que, de tão escancarados, intimam o brasileiro a reagir, nem que seja com uma cara de nojo. Mas há sempre quem se disponha a conceder aos encrencados um deixa-pra-lá preventivo que transforma culpados e cúmplices notórios em cegos atoleimados.
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