“Não leve seu filho pequeno para ver o filme da Barbie.” O conselho de uma mãe brasileira que levou a filha menor de 12 anos para assistir ao longa que tomou conta dos cinemas mundiais viralizou na internet.
No vídeo, ela diz que o filme realmente é para maiores de 12 anos e que crianças pequenas não conseguem entender o tema, a história e a linguagem da produção. Também conta que sua filha ficou entediada, pedindo para ir embora da sessão e só sossegou depois que ela lhe entregou o celular.
A opinião é compartilhada por espectadoras ouvidas pela Folha. “As mensagens que o filme traz realmente não são para crianças pequenas”, avalia a cabeleireira Eliana Veloso.
A filha de Eliana, Vitoria, 12, é apaixonada pela Barbie —sua coleção ultrapassa 30 modelos da boneca—, e há meses ela dizia à mãe que queria assistir ao filme na estreia. Elas conseguiram comprar os ingressos para o primeiro dia de exibição e foram a caráter, vestidas de rosa, para o cinema em um shopping da zona leste de São Paulo.
“Por ser sobre a Barbie, uma boneca, não prestei atenção na classificação indicativa. Para mim, era livre”, diz Veloso. Durante o filme, porém, questões como a liberdade feminina e o palavrão disfarçado por um sinal sonoro ligaram o alerta. “Descobri ao final que era um filme para pessoas a partir de 12 anos”, relata.
Para a mãe, o longa possui mensagens importantes, como a valorização da beleza independentemente das cores e formatos dos corpos, a crítica ao machismo e a possibilidade de as mulheres seguirem a carreira que desejarem, mas direcionadas mais a mulheres maduras do que ao público infantil. “Toda mulher já quis ser Barbie um dia e o filme mostra que todas somos, todo mundo pode ser a Barbie na sua própria beleza”, comenta.
Vitoria concorda. “Tem Barbie de cadeira de rodas, Barbie grávida, Barbie negra. Todo mundo pode ser uma Barbie.”
A diversidade também chamou a atenção da professora Adriana Gomes, que foi ao cinema acompanhada da nora e da neta de 14 anos. “Não ficou só na loirinha bonitinha”, diz.
Ela pretende recomendar o filme para seus alunos do ensino fundamental 1, mas apenas para aqueles a partir de oito ou nove anos. “Nessa idade, já podemos conversar sobre diversidade a partir do filme”, opina.
A dona de casa Patrícia da Silva Santos ainda não assistiu ao filme, mas planeja ver o longa com a filha de dez anos no próximo fim de semana. “Entendi por alguns comentários que é um filme mais para adultos do que para crianças, mas vou levá-la também porque eu amo muito a Barbie e passei esse amor para ela.”
Já na casa da jornalista Ana Paula Freire Artaxo o cenário é outro. Sem saber da classificação do filme, ela perguntou à filha de seis anos se gostaria de ir ao cinema, e a resposta foi inusitada: “Barbie é para meninas cheias de fru-fru. Sou mais a Wandinha!”, em referência à personagem de “A Família Addams” que virou série na Netflix.
“Não sei de onde ela depreendeu esse estereótipo de admiradoras da Barbie”, conta Artaxo. “Como ela adora ciência, eu disse que a Barbie hoje está mais empoderada, representando mulheres que fizeram história. Nós temos uma Barbie Frida Kahlo em casa.”
No resumo da análise do filme dirigido por Greta Gerwig, a Secretaria Nacional de Justiça, responsável pela política de classificação indicativa, explica que os próprios responsáveis pela obra indicaram que a classificação pretendida era “não recomendado para menores de 12 anos”, o que coincidiu com o parecer dos avaliadores.
Para os responsáveis pela análise, o filme apresenta violência fantasiosa, angústia e consumo de droga lícita em grau de incidência médio. Também aparecem, com incidência baixa, características como linguagem depreciativa, estigma ou preconceito, apelo sexual e nudez velada.
Esses aspectos, porém, são atenuados por alguns fatores. “O consumo de droga lícita é atenuado por simulação; a linguagem chula é atenuada por composição de cena; o estigma ou preconceito é atenuado por contexto cômico ou caricato e por contraponto; e a obra apresenta conteúdo positivo”, afirma o parecer.
No balanço desses aspectos, os avaliadores decidem que não se trata de uma obra de classificação livre, pois há violência, linguagem imprópria e temas sensíveis.
A questão da idade já havia gerado polêmica no início do mês, quando o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) pediu a suspensão da exibição do primeiro teaser do filme em sessões com classificação aberta a menores de 12 anos.
Construído como uma referência à abertura de “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, o teaser apresentava várias meninas destruindo suas bonecas após o surgimento da Barbie.
Para o Conar, o vídeo possuía cenas de “não urbanidade, ausência de boas maneiras ou ato violento/inseguro”, por isso a suspensão.
Fonte: Folha de São Paulo.