O ex-ministro Aldo Rebelo, que ocupou cargos no primeiro escalão dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, disse que a alardeada tentativa de golpe há um ano, em 8 de janeiro de 2023, é uma fantasia do governo e da esquerda. Além disso, o ex-ministro afirma que entoar essa narrativa é proposital para manter o discurso da “polarização”.
“Faz bem à polarização atribuir ao antigo governo a tentativa de dar um golpe. Criou-se uma fantasia para legitimar esse sentimento que tem norteado a política nos últimos anos. É óbvio que aquela baderna foi um ato irresponsável e precisa de punição exemplar para os envolvidos. Mas atribuir uma tentativa de golpe àquele bando de baderneiros é uma desmoralização da instituição do golpe de Estado”, disse Aldo Rebelo, em entrevista ao Poder360 publicada nesta segunda-feira, 8.
Para o ex-ministro, é possível comparar os atos do ano passado com o vandalismo promovido pelo Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), uma dissidência do MST em junho de 2006, quando invadiu a Câmara dos Deputados, depredou parte do patrimônio e deixou 24 pessoas feridas — uma em estado grave.
“Eles levaram um segurança para a UTI, derrubaram um busto do Mário Covas. Eu dei voz de prisão a todos. A polícia os recolheu, e eu tratei como o que eles de fato eram: baderneiros. Não foi uma tentativa de golpe. E o que houve em 8 de janeiro é o mesmo”, lembrou Rebelo, que, na época, era o presidente da Câmara.
Na entrevista ao Poder360, Rebelo afirmou que o propósito da narrativa de golpe, além de manter o discurso de “polarização”, é uma forma de compensação e de ampliar poderes do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Atribuir ao STF a responsabilidade de protetor da democracia é dar à Corte uma função que ela não tem nem de forma institucional, nem política. Isso atende às necessidades do momento. Há uma aliança do Executivo e do Judiciário em contraponto ao Legislativo, onde o Executivo não conseguiu ter maioria. É uma compensação”, afirmou.
Em 2023, o governo Lula teve dificuldade para aprovar dezenas de iniciativas, e os parlamentares derrubaram vetos do petista a diversos projetos. Já o Judiciário também enfrenta uma reação do Congresso, como alterações na Constituição para diminuir os poderes dos ministros.
Filiado ao PCdoB durante a maior parte da vida política, Aldo Rebelo foi deputado federal por cinco mandatos, presidente da Câmara dos Deputados (2005-2007), e titular de quatro ministérios dos governos do PT: Coordenação Política (2004-2005), Esporte (2011-2015), Ciência e Tecnologia (2015) e Defesa (2015-2016).
Informações Revista Oeste