O aumento do serviço de coleta, o tratamento adequado do esgoto na Bacia do Jacuípe e a relocação das famílias que vivem nas margens dos riachos foram algumas das ações apontadas como alternativas para conter o nível de poluição do Rio Jacuípe. O tema foi debatido em uma Sessão Especial realizada na manhã desta segunda-feira (24), na Câmara Municipal de Feira de Santana. O rio abastece cerca de sete milhões de baianos em diversas cidades, incluindo Feira de Santana e Salvador.
Coube ao vereador Jurandy Carvalho (PL), que propôs o debate, apresentar a situação em que se encontra o Rio Jacuípe e seus afluentes, especialmente na região de Feira de Santana.
“O rio está tomado pelo lixo e os órgãos de fiscalização colocam vendas nos olhos”, resumiu, lamentando a ausência da Embasa e da Cerb. Ele citou também as condições do Rio Paraguaçu e os riachos do município, propondo a instalação de um sistema de contenção para evitar a chegada de lixo na água.
Jurandy Carvalho entende que o Jacuípe deveria ser o cartão postal da cidade, como ocorre em outros lugares por onde ele passa. Acrescentou que os problemas de poluição vêm sendo alertados há pelo menos 20 anos.
“Trata-se de um grande manancial, que abastece diversos municípios”, reafirmou, sugerindo que a Câmara coloque a situação na pauta de ações. Além dos prejuízos para a saúde, ele alertou para o fato da poluição viabilizar a pesca, fonte de bens como a agricultura.
A Sessão Especial reuniu diversas autoridades e dirigentes de entidades de classe, incluindo o secretário de Serviços Públicos de Feira de Santana, Justiniano França, representando o prefeito José Ronaldo; o ambientalista João Dias de Santana, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente; Pedro Paulo Ferreira, da Reserva Ecológica Buriti; Lidiane Amorim, presidente da Associação de Pescadores e Agricultores do distrito João Durval; e Jairo Martins, presidente da Colônia de Pescadores 271, do município de Riachão do Jacuípe, representando o prefeito Carlos Mota.
Durante a sessão, Justiniano França sugeriu que a Câmara solicite uma audiência com o Governo do Estado para discutir soluções conjuntas com outros municípios.
“É preciso agir rápido para que a situação não se agrave ainda mais para futuras gerações”, alertou.
O ambientalista João Dias, representante da secretária municipal de Meio Ambiente, que definiu Feira de Santana como “a cidade do equívoco”, já que a sua origem está nos Olhos D’Água, mas “faltam cuidados não somente com o Rio e os riachos, mas também com as lagoas”. Ele cobrou fiscalização e fez um desabafo: “Não chamem os riachos de canais”, citando o Beira Riacho (Centro de Abastecimento) e finalizou: até os hospitais jogam o esgoto no rio Jacuípe.
A voz dos pescadores se fez ouvir com a participação de Lidiane Amorim, presidente da Associação de Pescadores e Agricultores do distrito João Durval. “Sempre que falamos da poluição, somos prejudicados na comercialização de nossas mercadorias. Não somos ouvidos. Pedimos socorro, não apenas ajuda. Necessitamos do olhar das autoridades”, afirmou. A advogada da entidade, Cristine Emily, lamentou que a situação se arraste por tanto tempo e frisou que uma esfera de governo joga para outra, enquanto o problema permanece.
Por meio de vídeos sobre a degradação do meio ambiente em Feira de Santana e região, Jairo Martins, presidente da Colônia de pescadores 271, do município de Riachão do Jacuípe, representando o prefeito Carlos Mota, falou de indústrias clandestinas, “que usam a água do rio e devolvem contaminada” e também unidades hospitalares, “que deságuam tudo no rio”. A defesa do meio ambiente foi feita também por Pedro Paulo Ferreira, da Reserva Ecológica Buriti, que recitou um cordel sugerindo um abraço na Lagoa do Subaé.
Para o vereador Ismael Bastos (PL), que dividiu a condução dos trabalhos com o presidente da Casa, Marcos Lima (União Brasil), o que deve ser feito é uma fiscalização dura. “Não é problema de um só, mas de todos e preservar o rio não é um favor, mas uma obrigação. O rio está morrendo e com ele morre a nossa história, nossa identidade”, destacou. O vereador Pastor Valdemir, que já foi remador, disse que os descartes irregulares são cada vez mais maiores e que o maior problema é a permissividade.