Com massa frita, muitas opções de recheio e aquela camadinha de açúcar em volta, o sonho de padaria é popular no Brasil inteiro. Apesar disso, sua história começou do outro lado do Atlântico e há muito tempo.
Conta a história que nasceu em meio à guerra, lá em 1765, quando a antiga Prússia estava sendo invadida. Naquele momento, o rei Frederico recrutou um exército para proteger Berlim, àquela época capital da região histórica.
Entre os recrutados havia um padeiro, sem muitas habilidades bélicas. Ao voltar para seu ofício original, com a guerra fervilhando em sua cabeça, trocou o forno pela fritura.
“Ao invés de colocar suas massas fermentadas para assar no forno, como era costume, resolveu fritar umas das bolas produzidas. A partir daí, tal doce ficou conhecido como Berliner, em uma referência a Berlim”, conta Jorge Fernandes, professor de cozinha internacional, da Unisuam.
A versão original era uma bola de massa frita recheada com creme de frutas vermelhas, envolta em açúcar. Além disso, o recheio era inserido por um pequeno furo na lateral. Mas, logo depois, o doce caiu no gosto popular e passou a sofrer adaptações mundo afora, como acontece até hoje.
Berliners, os sonhos de padaria da AlemanhaImagem: Getty Images/iStockphoto
Em Portugal, o nome na iguaria não mudou, mesmo com o passar dos anos — é “bola de Berlim” — e leva creme de pasteleiro como recheio.
“É um recheio doce, típico da culinária portuguesa. O creme tem consistência levemente espessa e cor amarelada. É feito com água, leite, açúcar, farinha, gemas e claras de ovos, raspas de limão, baunilha e manteiga”, explica Jorge Fernandes.
Já na Itália, do centro ao sul do país, é chamado de “bomboloni” e geralmente é servido com recheio de doce de leite. Na montagem, o creme é inserido também por um orifício, só que no centro da massa e não nas laterais.
Bomboloni, o sonho italiano com doce de leite como recheioImagem: Getty Images/iStockphoto
No Brasil, o “berliner” chegou por volta de 1920, em São Paulo, ideia dos padeiros que começaram a produzir bolinhas fritas para aproveitar sobras de massa de pães doces.
“Para complementá-los, ganhou recheio de creme de baunilha, com açúcar polvilhado por cima”, conta o professor Sérgio Rischiotto, coordenador do curso de gastronomia do Grupo UniEduK.
Assim, parecendo a combinação perfeita (e bem gostosa) de ingredientes que o “berliner” levava, o brasileiro resolveu dar um novo apelido carinhoso à receita. Foi nesse momento que passou a se chamar sonho, nome que segue firme e forte.
Massa do sonho de padaria deve ser sovada até chegar ao ponto de véuImagem: Getty Images/iStockphoto
É no preparo adequado da massa que se obtém aquele sonho fofinho, que faz salivar. Para isso, a chef Thaís Novaes, do Nouzin, explica que deve ser sovada até atingir ponto de véu, ou seja, quando é possível esticar um pedaço da massa até ficar fina e transparente, mas sem romper, o que garante um sonho fofinho à boca.
Há três possibilidades de cozinhar a massa do sonho: frita, assada ou assada e frita em seguida. A versão com fritura é a mais tradicional, porém, é a que carrega mais gordura. Só assar vai garantir uma versão mais leve, mas pode perder um pouquinho da aparência e da crocância conhecida.
“O assado e frito é a melhor opção, pois traz a leveza do assado e as características do sonho frito. Neste caso, a fritura é muita rápida, apenas para trazer a coloração”, opina Sérgio Rischiotto.
Outra informação boa: é possível congelar o sonho. “Deve ser congelado assado ou frito, sem recheio. Embale em filme plástico — jamais em papel alumínio — e mantenha no congelador por até três meses. Quando for usar, retire do freezer um dia antes e coloque sob refrigeração. Na hora de consumir, é só cortar ao meio e recheiar”, ensina Sérgio.
Voltando ao cozimento, a temperatura de fritura também pede atenção, garantindo que a massa não fique crua, nem queime. O ideal é fritá-lo entre 140 ºC e 150 ºC.
Se a ideia é pré-assar, a recomendação para sonhos de 90 gramas é levá-los ao forno a uma temperatura de 135 ºC por 7 minutos.
Quando surgiu, o sonho carregava creme de frutas vermelhas. Em Portugal, leva creme de pasteleiro. Na Itália, doce de leite. Agora, no Brasil, o cardápio é realmente bem variado. Embora o mais comum ainda seja com recheio de baunilha, as opções nas padarias são variadas.
O doce de leite também é famoso, ficando atrás apenas do creme tradicional. Os de chocolate e goiabada costumam sempre aparecer nas vitrines, mas existem outros ainda mais ousados, como brigadeiro, creme de avelã ou de pistache.Imagem: Getty Images/iStockphoto
Seja qual for o recheio escolhido, o confeiteiro Guilherme Augusto, da padaria Bella Paulista, sugere a praticidade de rechear o sonho após frito ou assado. Basta cortar ao meio, distribuindo o creme com uma manga de confeiteiro ou bico de confeitar.
Há, ainda, a possibilidade de incluir o recheio na massa crua. Para tanto, precisa ser mais firme que um creme – como goiabada em pedaços ou doce de leite mais durinho.
Quem optar por não cortá-lo, pode montar o sonho com a massa ainda crua envolvendo o recheio antes de bolear. Para finalizar: açúcar, mas não é qualquer um. O mais indicado é o açúcar gelado, que não derrete, nem absorve muita umidade.
Informações UOL