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Foto: Reprodução.

agricultor Arnaldo Zunizakae, de 51 anos, já recebeu comitivas de mais de 40 etnias indígenas de todo o país em sua reserva no município mato-grossense de Campo Novo do Parecis.

Todos vêm conhecer de perto a agricultura moderna praticada na aldeia, que transformou a qualidade de vida e saúde dos indígenas, praticamente extirpando os índices de desnutrição e mortalidade infantil. Ao mesmo tempo, o agronegócio ajudou a valorizar a língua e a cultura Paresí (ou Parecis), assegurando sua autonomia econômica e a manutenção do povo em suas terras. Tudo isso cultivando apenas 1,7% da área de 1,3 milhão de hectares.

Em duas décadas, a população da tribo Paresí saltou de 1.250 para mais de três mil índios, sendo 70% deles falantes da própria língua. “Hoje nós produzimos, preservamos e resgatamos nossa cultura. Por meio da agricultura, geramos renda e implementamos o etnoturismo. É algo inédito no Brasil. Não temos índios Paresi perambulando pelas ruas da cidade”, orgulha-se Zunizakae.

Arnaldo Zunizakae foi pioneiro ao enxergar na agricultura tecnológica uma forma de assegurar autonomia econômica para seu povo. Como tantos jovens da aldeia, nos anos 1990, ele se viu obrigado a buscar emprego nas fazendas vizinhas.

Os índios Paresí já tinham tradição no cultivo manual. “Coloquei uma coisa na minha cabeça. Vou fazer diferente, vou aprender isso aqui. Não vou apenas trabalhar para os outros”, recorda. E deu certo. Zunizakae aprendeu tudo o que pôde sobre lavouras, voltou para a aldeia e convenceu sua etnia a cultivar parte das terras férteis de forma mecanizada – os Paresí já tinham tradição do cultivo manual.

“Tínhamos quase 300 homens trabalhando fora de nossas terras. Precisávamos trazer esse povo de volta. O que eles sabiam fazer? Trabalhar com agricultura. Foi aí que desenhamos o projeto agrícola Paresí. No ano passado, os preços estavam mais favoráveis e distribuímos pouco mais de R$10 milhões em nossa cooperativa. Nesse ano foram R$ 6 milhões, o equivalente a 50 mil cestas básicas que o governo oferece para nós”, destaca Arnaldo, que é presidente da Cooperativa Agropecuária dos Povos Indígenas Haliti, Nambikwara e Manoki (Coopihanama).

Para se manterem na atividade, não basta aos Paresí serem bons agricultores. Eles precisam obter um desempenho acima da média, porque sofrem restrições e limitações só pelo fato de serem indígenas.

As proibições dificultam o acesso a mercados. Por imposição da Lei 11.460/2007, os Paresí são proibidos de cultivar transgênicos. Ironicamente, suas colheitas convencionais não podem ser vendidas para a Europa, maior mercado de grãos não transgênicos, nem para grandes tradings, devido a um boicote à produção em terras indígenas. “É um absurdo, é uma coisa que esse governo que hoje está de volta criou lá atrás para inviabilizar a agricultura em terra indígena. É tudo estratégia. Esse povo que está viajando pela Europa agora (pedindo para boicotar produtos do Cerrado brasileiro), eles estão lá a mando de alguém. É assim que foi imposta a proibição do plantio do transgênico, a proibição da compra de produtos de grãos de terras indígenas. Foram feitas por essas missões que viajam Europa afora”, diz Zunizakae.

“Índio tem direito de buscar o que é melhor para si” Em que condição estariam os Paresí hoje se não fosse a atividade agrícola? “Com toda certeza, a gente estaria como muitas outras etnias, envolvidos em coisas ilícitas e com esvaziamento da aldeia. Quando criamos essa atividade aqui dentro, foi para reverter a situação de desocupação da terra indígena. Outra coisa gravíssima que tínhamos era o alto número de mortalidade infantil por desnutrição. Então, teríamos todos os problemas que as outras etnias têm hoje no Brasil, principalmente aquelas que moram no Cerrado.”

Com informações da Gazeta do Povo.

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