Considerado um dos melhores do mundo, o serviço de inteligência de Israel está sendo responsabilizado por não ter previsto o ataque sem precedentes do grupo extremista Hamas, que no último sábado (7) invadiu o país por terra, céu e mar, matando pelo menos 900 israelenses. A ação resultou em uma declaração de guerra e 800 palestinos mortos nos bombardeios na Faixa de Gaza.
1 – Israel confiou demais em seu aparato tecnológico, segundo especialistas. O país espalhou drones, câmeras e sensores de movimento em sua fronteira com a Faixa de Gaza. Rastreadores de GPS eram instalados no carro de suspeitos e até celulares explosivos eram plantados entre os inimigos.
Essa expertise tornou Israel dependente dessa tecnologia para conseguir informações. Segundo Amir Avivi, um general israelense reformado, os terroristas em Gaza aprenderam a escapar dessa coleta de informações, que chegariam cada vez mais incompletas ao serviço de inteligência.
“O outro lado [o Hamas] aprendeu a lidar com o nosso domínio tecnológico e parou de usar tecnologia que pudesse expô-lo”, disse Avivi à agência de notícias AP. “Eles voltaram à Idade da Pedra”, disse ele sobre a decisão dos terroristas de abandonarem telefones e computadores para formular seus planos em salas protegidas contra espionagem.
2 – Israel subestimou o Hamas. A inteligência israelense afirmava nos últimos anos que as sucessivas derrotas do Hamas enfraqueceram sua disposição de partir para o confronto armado. Segundo o jornal Jerusalem Post, “os dados pareciam confirmar essa impressão”: nos últimos conflitos com Gaza, o Hamas não participou.
Para Israel, o grupo estaria hoje mais interessado em governar Gaza, melhorando as condições de vida de seus 2,3 milhões de habitantes. Israel até cogitava permitir a entrada de mais trabalhadores vindos de Gaza.
“Há anos que vivemos numa realidade imaginária”, disse sob anonimato um oficial superior da reserva ao diário israelense Haaretz. “Nos convencemos de que o Hamas está dissuadido e assustado e que sempre receberemos a tempo os avisos de inteligência.”
3 – Israel se concentrava em combater na Cisjordânia. Confiante de que o Hamas estava sob controle, exército e inteligência israelenses priorizaram um conflito na Cisjordânia que já dura um ano e meio.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu é pressionado por apoiadores a sustentar militarmente os acampamentos ilegais feitos por judeus na Cisjordânia. Em janeiro, por exemplo, ele regularizou nove deles em resposta a um ataque terrorista a uma sinagoga.
No dia do ataque do Hamas, 24 batalhões que deveriam estar em Gaza ficaram presos na Cisjordânia.
4 – Reforma do Judiciário desmobilizou as Forças Armadas. O país está politicamente divido desde que Netanyahu encampou uma reforma no Judiciário que chegou a prever a derrubada de decisões da Suprema Corte pelo Parlamento em votações por maioria simples.
Essas divergências se infiltraram nas Forças Armadas, disse Martin Indyk — norte-americano responsável pelas negociações israelo-palestinianas na gestão Barack Obama. Reservistas ameaçaram não se apresentar se convocados pelo exército, e centenas deles participaram de uma manifestação em Tel Aviv contra a reforma.
Eles dizem que não vão servir a um país que ruma para uma ditadura. Outros acreditam que o enfraquecimento da Suprema Corte exporia as forças israelenses a acusações de crimes de guerra em tribunais internacionais. Hoje, Israel se defende dessas suspeitas afirmando contar com um sistema jurídico independente capaz de investigar qualquer delito.
5 – Inteligência israelense teria ignorado avisos do Egito. Ontem, um oficial da inteligência egípcia disse à AP que Jerusalém ignorou avisos de que o Hamas preparava “algo grande”.
Ele disse, porém, que os israelenses estavam concentrados na Cisjordânia e minimizaram a ameaça vinda de Gaza. “Nós os avisamos que uma explosão da situação estava chegando muito em breve e que seria grande. Mas eles subestimaram esses avisos”, disse o oficial, que falou sob anonimato porque não tinha autorização para tratar do assunto na imprensa.
Um dos avisos teria sido feito pelo ministro da Inteligência do Egito, general Abbas Kamel, que teria telefonado a Netanyahu 10 dias antes do ataque. Teria dito que Gaza faria “algo incomum, uma operação terrível”, de acordo com o site de notícias Ynet.Continua após a publicidade
Em discurso à nação na noite de ontem, Netanyahu negou ter recebido qualquer aviso prévio, denunciando uma “notícia falsa”.
Aliados e críticos do governo falam agora em “união nacional” contra um inimigo comum, e rejeitam apontar culpados.
“Este é um grande fracasso”, disse Yaakov Amidror, antigo conselheiro de segurança nacional de Netanyahu. Ele se recusou, no entanto, a explicar as razões, dizendo que as lições devem ser aprendidas quando a poeira baixar.
Porta-voz do governo, o contra-almirante Daniel Hagari reconheceu que o exército deve uma explicação, mas só depois. “Primeiro lutamos, depois investigamos”, afirmou.
A inteligência israelense deve “jogar pela janela” sua estratégia de segurança baseada apenas em tecnologia. Para analistas do diário Jerusalem Post, é preciso “voltar à moda antiga” e reforçar as forças terrestres na fronteira com Gaza.
Informações UOL