“Meu amor não dorme, meu amor não sonhaNão se fala mais de amor em Gotham CityCuidado! Há um morcego na porta principal!”(Gotham City, de Capinan e Jards Macalé).
Pesquisa da Atlas divulgada no início dessa semana confirmou para o grande público o que o Palácio do Planalto e a direção do Partido dos Trabalhadores já sabiam desde o final do mês passado: a segurança pública transformou-se no grande calo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O levantamento do instituto de pesquisa apontou a segurança pública como o setor com a pior aprovação para o governo: 56% de ruim e péssimo e 36% de ótimo e bom, o que resulta em expressivos 20 pontos de saldo negativo.
A elevada avaliação negativa do governo nesta área decorre da crescente onda de violência que vem afetando o Nordeste, especificamente em estados como Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte, todos governados pelo PT e que constituem importante bastião de apoio a Lula.
O crescente custo político da violência descontrolada nesses estados, em particular na Bahia, palco de sucessivos acontecimentos de repercussão na imprensa nacional, já havia sido detectado pelo comando do PT.
Tanto que foi um dos itens abordados na resolução do partido para as eleições de 2024, publicada no final de agosto.
Para não ferir suscetibilidades, o documento não cita a Bahia – nem os demais estados. Mas a inclusão do tema no texto decorre do mal-estar generalizado, dentro do partido e dos movimentos sociais, com destaque para as entidades ligadas ao movimento negro, com o fato de a Bahia, governada pelo PT desde 2007, liderar o ranking nacional da letalidade policial.
O texto é duro e claro: “A violência é um método inaceitável de ação por parte das polícias estaduais, que atinge a população mais jovem, pobre e preta do nosso país, assim como tem incidência nos próprios policiais”, diz. E aponta o caminho a seguir: “Os governadores têm a oportunidade e o desafio, junto com o governo federal, de mudar situações como essas, buscando enfrentar as organizações criminosas com base numa política maior de inteligência e investigação.”
No caso da Bahia, antes mesmo de tal orientação, já havia sido assinado, em agosto passado, um acordo de cooperação técnica pela Secretaria de Segurança Pública do Estado e pela Superintendência Regional da Polícia Federal, para a implantação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), com o objetivo de ampliar o combate ao crime organizado, com foco no trabalho de inteligência.
A questão é que o trabalho de inteligência, sobretudo após a morte de um policial federal em um confronto com traficantes, acabou suplantado pelas ações militarizadas que já resultaram na morte de cerca de cinco dezenas de suspeitos, somente este mês, tendo como consequência a manutenção da Bahia no noticiário negativo, com repercussão nacional.
Contudo, a realização de sucessivas ações militarizadas conjuntas, voltadas prioritariamente para o combate aos narcotraficantes não conseguiu inibir, pelo menos até agora, o crescimento do número de roubos, assaltos, arrastões e outros crimes contra o patrimônio em Salvador, muitos deles deixando vítimas de lesões corporais.
Temerosos, moradores da capital têm evitado sair de casa à noite e mesmo durante o dia procuram não circular em algumas áreas tidas como perigosas.
Nesta quinta-feira, 28, o cantor e compositor Caetano Veloso, recebido em audiência pelo Papa Francisco, no Vaticano, entregou a Sua Santidade uma carta com um pedido de socorro ante o recrudescimento da violência no Rio de Janeiro, onde ele mora, e também na Bahia.
“A violência também tomou conta da Bahia, estado em que nasci há 81 anos. Estou assustado ao constatar que – apenas nestes primeiros 24 dias de setembro – já foram registradas pelo menos 46 mortes em confrontos policiais em todo o estado. A proporção é de quase duas mortes por dia neste mês”, escreveu.
Caetano pediu a atenção e as orações do papa. Rezemos também. Talvez dê certo.
Informe Baiano