No mercado pararelo, Ozempic custa 1/3 do preço cobrado nas farmácias. Saiba por que as ofertas virtuais são perigosas à saúde
O Ozempic se tornou um dos medicamentos mais populares no mundo. Embora tenha sido desenvolvido para o tratamento da diabetes tipo 2, o sucesso nas vendas é explicado por seu efeito secundário: a perda de peso rápida.
O valor da medicação – a injeção suficiente para 4 semanas custa R$ 1,2 mil – criou um movimentado mercado paralelo na internet, com páginas prometendo o medicamento por até um terço do preço comercializado nas farmácias. No entanto, quem opta pelo valor mais barato corre o risco de adquirir versões fakes da medicação.
“Se não há certeza sobre a procedência, é melhor não comprar. A caneta pode estar cheia de água destilada, de uma substância contaminada ou de outro tipo de remédio”, alerta o médico Alexandre Hohl, vice-presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade (DEFAT) da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Em junho deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta sobre a identificação de três lotes de Ozempic falsificados que estavam sendo vendidos no Brasil, Reino Unido e Estados Unidos.
“A OMS aconselha os profissionais de saúde, as autoridades reguladoras e o público a estarem atentos a estes lotes falsificados de medicamentos. Apelamos às partes interessadas para que interrompam qualquer utilização de medicamentos suspeitos e informem as autoridades relevantes”, orientou a médica Yukiko Nakatani, especialista da OMS para o acesso a medicamentos e produtos de saúde, na ocasião.
Em uma das situações identificadas, um paciente recebeu canetas de insulina rotuladas como Ozempic. A aplicação de insulina em uma pessoa sem diabetes pode causar queda brusca de açúcar no sangue. Como resultado, o paciente pode sentir tonturas, ter convulsões e até morrer. “A falsificação é extremamente grave. O risco de dar insulina para uma pessoa que não tem diabetes é de hipoglicemia, que provoca até a morte”, explica Hohl.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já identificou três lotes de Ozempic falsificados (em junho e outubro de 2023 e em janeiro de 2024) e um de Mounjaro, da farmacêutica Eli Lily (em agosto deste ano).
“O uso da medicação é regulado e só se faz com receita. Além disso, a fabricante sustenta que não está sendo possível atender toda a demanda pelo excesso de clientes, então uma oferta tão abaixo do preço não pode ser possível”, afirmou a endocrinologista Suzana Vieira, de São Paulo, em entrevista anterior ao Metrópoles.
O medicamento falso não possui qualquer garantia em relação à composição. Ou seja, quem compra pode usar um produto sem o ativo que leva ao emagrecimento (semaglutida), com a dose alterada ou com a formulação errada. Além disso, a medicação fake pode estar contaminada com substâncias tóxicas ou microorganismos.
Ao usar um remédio falso, a pessoa pode:
O primeiro passo é lembrar que o medicamento deve ser usado com prescrição médica. Se o estabelecimento que vende não cobra a receita, é necessário desconfiar.
O segundo passo é ter atenção onde o remédio é vendido. A Anvisa alerta que medicamentos só devem ser adquiridos em estabelecimentos farmacêuticos, farmácias ou drogarias. A venda em lojas de comércio eletrônico — salvo os portais das próprias farmácias — não é permitida.
O terceiro ponto é o preço. Valores muito abaixo do cobrado em farmácias são motivo de desconfiança. No Brasil, os preços dos medicamentos seguem a tabela da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
O quarto ponto importante é ter a noção de como é a caneta do Ozempic e do Mounjaro e a caixa original. O paciente não deve adquirir medicamento com a embalagem visivelmente alterada, com instruções em idioma estrangeiro, com aparência diferente da registrada e com informações incorretas sobre o produto.
“Algumas das canetas falsificadas apareceram nas redes sociais, e são um pouco diferentes. Ter a noção de como é a caneta original é importante. Entender que tem que vir dentro de uma caixa que deve ser refrigerada. Tudo isso é uma forma de minimizar a chance de compra do Ozempic falsificado”, pontua Hohl.
A Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, alerta para a venda da semaglutida em outras apresentações. A empresa informa que o princípio ativo não foi desenvolvido, em nenhum lugar do mundo, para uso em formato injetável em frascos, em cápsulas orais, pellets absorvíveis, fitas ou chips, como tem sido divulgado em sites de venda irregular.
“A Novo Nordisk desconhece a origem das matérias-primas e a forma de fabricação desses produtos. Ademais, a companhia é detentora da patente do princípio ativo semaglutida, de forma exclusiva, até pelo menos o ano de 2026. Assim, a empresa não fornece ou autoriza o fornecimento de semaglutida a nenhuma farmácia de manipulação ou outra fabricante”, informou em comunicado ao Metrópoles.
Informações Metrópoles