A Prefeitura de Maceió não acendeu a tradicional iluminação de Natal durante a parada LGBTQIA+ que ocorreu ontem na orla da capital alagoana. O evento reuniu cerca de 40 mil pessoas, segundo a organização.
As luzes apagadas chamaram a atenção dos participantes, que fizeram imagens e postaram nas redes sociais. O prefeito João Henrique Caldas, o JHC (PL), foi marcado em várias publicações, mas não se pronunciou.
Desligamento aconteceu por medida de segurança, informou a Prefeitura de Maceió.A justificativa é de que havia um elevado número de pessoas na orla e o risco de choques elétricos .
Foi estranho, ficamos pasmos. A orla estava lotada de turistas, e eles perderam a chance de ver aquela decoração bonita. Nós, do movimento, ficamos tristes, porque ainda existe o preconceito. O movimento deu brilho.
Messias Mendonça, gerente de Articulação e Monitoramento de Políticas LGBT de Alagoas e um dos coordenadores da parada
“Total preocupação” com os acontecimentos na parada, declarou a OAB-AL. A manifestação foi feita por nota pela Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil – Alagoas.
Participantes da parada LGBT contestaram a versão da prefeitura. Muitos citaram o dia em que ocorreu o lançamento das luzes de Natal, que teria reunido mais pessoas do que o registrado na parada e todas as luzes ficaram acesas.
O fluxo de pessoas na orla sempre foi intenso para visitar a iluminação e a árvore; essa justificativa, para nós, não vai colar. Foi um claro boicote mesmo.
Gabrielly Argolo, publicitária
Alguns vídeos mostram a decoração sendo acesa logo após a passagem do trio elétrico da festa. A parada aconteceu no fim de tarde e começo da noite.
Segundo os moradores do local, as luzes de Natal da orla estão sendo acessas por volta das 17h. “Por volta das 20h, estava tudo completamente apagado. Conforme o trio passava, começaram a acender a iluminação aos poucos”, relatou Gabrielly.
Pior foi perceber que, quando o evento passou, as luzes foram imediatamente acesas na parte em que já havia passado. Ficou a parte para trás acesa e a parte em que a parada transitava apagada.
Vanessa Duarte, jornalista e empresária
No dia do lançamento das luzes e do “Natal de Todos Nós”, a orla ficou lotada. Segundo a prefeitura, foram espalhados mais de 150 mil pisca-piscas por 500 coqueiros da orla.
Segurança e evitar choques. Em nota, a Autarquia de Iluminação Pública de Maceió informou ao UOL que os equipamentos foram desligados “visando resguardar a segurança da população e evitar choques elétricos, já que aconteciam dois eventos, reunindo milhares de pessoas simultaneamente na Orla de Maceió”.
Mesmo com as placas, avisos e sinalizações, devido ao intenso fluxo de pessoas, havia o risco de eventuais acidentes.
Prefeitura de Maceió
É fundamental que as atitudes tomadas sejam revistas e devidamente apuradas, a fim de que situações como as que foram presenciadas no evento não sirvam para justificativa de violências generalizadas, uma vez que a eventual tentativa de enfraquecimento de uma parcela da sociedade representativa corrobora, invariavelmente, na negativa de direitos.
Marcus Vasconcelos, presidente da comissão da OAB
A parada 2023 teve apoio do governo de Alagoas, comandado pelo MDB. Em contrapartida, a prefeitura gerida pelo PL realizou outro evento, no bairro do Jaraguá, onde foi montado um palco com shows para receber o público após a parada.
Antes do evento, a prefeitura questionou na Justiça o horário e o local da concentração da parada e obteve uma liminar. A gestão municipal argumentou que já havia evento marcado no Marco dos Corais, na Ponta Verde.
Ontem, no dia da parada, uma decisão judicial derrubou essa liminar. O juiz determinou que o evento seguisse o trajeto estabelecido previamente.
A prefeitura publicou em suas redes sociais que a programação de Natal estava cancelada neste domingo, “atendendo a uma determinação judicial”. O uso político do debate também foi visto com preocupação pela comissão da OAB.
Reduzir o movimento – que é legítimo – às manifestações partidárias ou eventuais embates de ordem política contribui, efetivamente, em torná-lo ainda mais invisível, ocasionando ainda mais violências e omissões a uma comunidade que já luta todos os dias para ser vista, incluída e respeitada numa sociedade que historicamente já apaga suas luzes todos os dias, de forma simbólica.
Marcus Vasconcelos, da OAB
Informações UOL