Ilan Gerby, pai de dois jovens sequestrados pelo Hamas
Imagem: Jamil Chade / Colunista do UOL
Ilan Regev Gerby confessa que tem muito medo. Mas disse ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que quer que o governo de seu país vá “até o fim” em sua campanha militar contra o Hamas.
Gerby é pai de Maya, 21 anos, e Itay, com 18. Ambos foram sequestrados pelos extremistas na Nova Party, a festa que ocorria no dia 7 de outubro no sul de Israel.
Desde aquele momento, a resposta israelense fez mais de 11 mil mortos em Gaza e levou a ONU a alertar para a possibilidade de crimes de guerra cometidos contra os palestinos. Recordes de mortes de funcionários da ONU, de crianças e de jornalistas foram registrados nas últimas semanas, enquanto o cerco contra Gaza deixou milhões sem abastecimento e a indignação de líderes mundiais.
O Hamas vem insistindo que está disposto a devolver os reféns israelenses, desde que seus militantes presos em Israel sejam liberados.
Mas, para o pai de Maya e Itay, trata-se de uma manipulação.
“Hamas não negocia”, alertou o pai dos reféns, em entrevista ao UOL. “Estive com o primeiro-ministro. Olhei em seus olhos e disse para ele que sou pai, tenho dois filhos sequestrados. Fui ao inferno buscá-los. Estou com medo. Mas não pare, por favor. Faça seu trabalho. Esse é o único meio de trazê-los de volta”, contou.
“Não saia de Gaza. Vá até o fim”, insistiu.
Ele conta que perguntou a Netanyahu se ele estaria disposto a fazer a troca proposta pelo Hamas. Mas ouviu do chefe do governo israelense que não há como confiar no grupo palestino. “Veja o que fazem com sua população”, comentou.
Ilan Gerby está em Genebra nesta semana para reuniões com uma delegação oficial do governo de Israel, para falar com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, ONU e OMS.
“Acordei cedo com outro filho meu dizendo que as sirenes estavam soando”, disse.
Logo depois, sua filha que estava na festa mandou uma mensagem informando que os mísseis estavam sendo disparados, mas que ela estava a caminho de casa. “Neste momento, liguei a televisão e vi os carros do Hamas dentro de Israel. Não conseguia acreditar”, disse.
O último contato que ele manteve com a filha foi naquela manhã, às 8h42. No celular, ele ainda guarda a gravação da chamada. No áudio, gritos desesperados e uma frase: “Eu te amo, papai. Eles vão nos matar”.
“Era o inferno. Essa foi a última vez que falamos”, disse o pai. Gerby relata que pegou sua arma e dirigiu para o sul, mas não encontrou qualquer sinal deles.
Mais de 12 horas depois, encontrou imagens de Itay nas redes sociais, como um dos sequestrados. No dia seguinte, um soldado israelense comunicou à família que Maya também havia sido levada. “Desde então, não sabemos de nada. São quase seis semanas. Não consigo encontrar palavra para descrever esse grupo (Hamas)”, disse.
A desconfiança em relação ao Hamas também está presente entre outras famílias. Ofri Bibas Levy é a irmã de Yarden, pai de duas crianças (uma de 10 meses e outra de quatro anos) e casado com Shiri. Todos os quatro foram levados de sua casa, no Kibbutz Nir-Oz.
Ao UOL, ela admite que Israel terá de negociar. Mas, se houver um cessar-fogo, o único objetivo deve ser o de abrir espaço para a devolução dos reféns.
Para Israel, um cessar-fogo não é a melhor solução. Se ele existir, precisa ser apenas com o objetivo de negociar a entrega dos reféns. Qualquer outro cessar-fogo, como uma pausa humanitária, vai apenas servir para fortalecer o Hamas.
Ofri Bibas Levy, que tem familiares reféns
Contrariando os relatos oficiais da ONU, Ofri destaca como Israel tem feito “gestos humanitários”. “E, em troca, não ganhamos nada. Nem mesmo informação sobre onde estão as famílias”, criticou.
Em sua avaliação, os verdadeiros escudos humanos usados pelo Hamas não são os palestinos. Mas, sim, os reféns israelenses. “Trata-se da carta mais poderosa nessa guerra. Eles não ligam para os palestinos”, disse.
A irmã do israelense levado pelos palestinos comenta que o país está sendo injustamente criticado pela comunidade internacional. “Israel está fazendo o que pode para minimizar o impacto humanitário”, justificou.
Segundo ela, “Israel está acostumado a ser criticado”. “Mas o mundo precisa entender que estamos lutando contra terroristas”, insistiu.
“Precisamos de mais apoio. Estamos tentando agir de forma humanitária numa situação muito desumana. As críticas e protestos são injustos”, lamentou.
Questionada sobre as imagens que circulam o mundo com crianças morrendo em Gaza, ela declara que não há ninguém em Israel que esteja comemorando a situação. Mas justifica que, numa guerra, “civis sempre são feridos”.
“Não há ninguém em Israel que comemore a morte desses bebês. Não é quem somos. Mas essa é a nossa diferença do Hamas.”
“Sabemos que civis estão sendo feridos. Mas não foi Israel quem atacou. Estamos nos defendendo”, argumentou, sem referência ao fato de que o conflito já dura mais de 50 anos.
Para Ofri Levy, neste momento é difícil imaginar ver israelenses voltando a falar sobre a possibilidade de viver lado a lado com um estado palestino ou um acordo de paz.
“Israel está traumatizado e sangrando. Pode levar muito tempo para voltar a falar sobre isso de novo”, completou.
Informações UOL