por Matheus Caldas / Milena Lopes / Ulisses GamaFoto: Max Haack / Ag. Haack / Bahia Notícias
Apesar de alguns estados terem adotado a suspensão do futebol, a medida não está em discussão na Bahia no momento. É o que garante o secretário de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Estado da Bahia (Setre), Davidson Magalhães (PCdoB). Com isso, o Campeonato Baiano não deve ser afetado, pelo menos por ora.
“Por enquanto, não estamos conversando sobre isso. Já temos algumas medidas restritivas no estado. No momento, há algumas situações mais urgentes em discussão”, declarou, em entrevista ao Bahia Notícias.
Atualmente, os campeonatos Paulista, Goiano, Cearense, Brasiliense, Acreano, Capixaba, Tocantinense e Mineiro – cujo anúncio foi feito nesta quinta – estão suspensos ou tiveram o início adiado devido às medidas restritivas implementadas pelas gestões estaduais no intuito de conter o avanço da Covid-19, cujos índices de infecção e mortes vêm batendo recordes diários no Brasil.
No futebol, principalmente em campeonatos que envolvem clubes com menor arrecadação, em comparação com clubes de maior destaque, as competições estaduais acabam sendo fundamentais no suporte para arcar com os salários dos jogadores. Sem as disputas, a maioria dos profissionais compromete a renda familiar e enfrenta desemprego e atrasos salariais. Por isso, é comum que haja uma divisão de opiniões entre os clubes quanto se trata de permanecer ou não com os jogos durante a pandemia.
A reportagem do BN questionou os dez participantes do Campeonato Baiano, e a maioria dos clubes se declarou contra a interrupção da competição estadual. Questionado, o Bahia preferiu não se posicionar acerca do tema. Dos clubes que participam do certame, apenas o Vitória da Conquista opinou que a saúde deve ser priorizada, ainda que seja preciso arcar com as consequências das suspensões dos jogos. O Vitória se posicionou a favor da continuidade do futebol.
Imagem: Priscila Melo / Bahia Notícias
SEGUE COM A BOLA ROLANDO
Dentre os clubes que defenderam a permanência do Baiano durante o cenário mais crítico da Covid-19 no Brasil, o Jacuipense, através do presidente Gegê Magalhães, comentou que a paralisação do futebol é, geralmente, por uma questão de decretos estaduais, com força maior diante das decisões das federações esportivas. O dirigente acrescentou que, diante dos protocolos apresentados pelas entidades responsáveis pelo futebol no Brasil e na Bahia, é garantida a segurança dos envolvidos durante as competições.
“Com os dados científicos que a CBF mostrou, eu acredito que o futebol não causa esse risco tão grande para as pessoas já que todas as medidas de segurança estão sendo tomadas”, declarou.
“A gente tem que entender também que os outros campeonatos a nível nacional, como Copa do Brasil, os regionais, como a Copa do Nordeste, estão acontecendo. Então, se tiver que suspender um campeonato no estado, tem que estender tanto a Copa do Nordeste e a Copa do Brasil que estão também acontecendo”, completou.
Em nota, o Vitória declarou ao BN que “o futebol é o local mais seguro” nesse momento para os jogadores e demais integrantes que estão lidando com os protocolos sanitários.
Este foi o mesmo posicionamento da Juazeirense que, através do presidente Roberto Carlos, opinou que apesar da “pandemia terrível, o futebol ainda é a atividade que menos causa prejuízo à sociedade do ponto de vista de aglomeração, de disseminação da Covid-19”.
Já o presidente Albino Leite, do Atlético de Alagoinhas, ressaltou os problemas financeiros que o clube está sofrendo, destacando que, caso o futebol seja paralisado, ninguém irá assumir as consequências que isso trará para a agremiação. “Se parar, quem vai arcar com tudo? Cada jogo no Carneirão é R$ 8 mil negativos. Só ontem contra o Vila Nova foi R$ 26 mil e sem dinheiro”, explanou o dirigente sobre o custo da partida pela Copa do Brasil, em que a equipe do Carcará foi desclassificada já na primeira fase, após revés por 3 a 0.
Sobre o Campeonato Baiano, Albino Leite ainda deixou claro que não pretende adicionar ainda mais despesas na conta do Atlético de Alagoinhas, e afirmou que irá recusar o árbitro de vídeo caso chegue na final do estadual. “Se eu for pra final, não vou querer VAR. Não serviu pra nada. O gol do Bahia foi roubado. Adiantou o que? Pode escrever: eu não vou querer VAR. Aí descontou agora R$ 40 mil”, protestou.
Por fim, ele ainda opinou que deveria haver um apoio maior da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para auxiliar os clubes com menor receita. “Eu acho que a CBF deveria dar uma ajuda a mais. Na Copa do Brasil poderiam pagar a arbitragem, com essa dificuldade que estamos passando”, completou o presidente.
Quem também comentou sobre os problemas financeiros que seriam derivados de uma paralisação foi o presidente Jodilton Souza, do Bahia de Feira. “Uma suspensão da competição agora vai gerar uma situação quase que irreversível para os clubes de futebol, porque a maioria dos atletas tem contrato até maio. Sem o futebol nós não receberíamos os valores dos patrocínios, da televisão que ajudam a amenizar um pouco o sofrimento com relação aos custos”, declarou o dirigente do Tremendão.
Diante da atual situação de pandemia, que não só o Brasil, mas a Bahia também enfrenta em números de contaminações, Jodilton destaca que cabe às instituições que organizam e permitem os eventos esportivos terem uma atenção redobrada quanto aos protocolos de segurança.
“Nós gostaríamos apenas que a Federação Bahiana de Futebol (FBF) e o poder público acompanhassem mais de perto os protocolos, porque como o futebol hoje não tem público, nós não temos muitos problemas com relação à questão da contaminação da Covid-19 já que todas as equipes estão fazendo os exames e preservado toda situação”, pontuou. “A posição do Bahia de Feira que a competição deve ser mantida agora”, acrescentou.
INTERRUPÇÃO EM NOME DA SAÚDE
O Vitória da Conquista foi o único clube que disputa atualmente o Baiano a declarar, caso seja necessário, paralisar a competição. A agremiação indicou que entenderia a necessidade das autoridades em nome da segurança e saúde dos participantes.
Ponderando as questões financeiras e os problemas que a paralisação do futebol pode acarretar para instituições e clubes, Ederlane Amorim, presidente do Bode, vê a saúde como uma prioridade.
“Se você for perguntar para os jogadores, obviamente que eles não vão querer parar para terem sua fonte de renda, alguns clubes vão entender, assim como federações, CBF, televisão, que é importante continuar, porque existem contratos, competições a serem conquistadas e planejamento desportivos. Mas, se a gente for olhar como sociedade, como população, obviamente que a gente vai ter que priorizar a vida humana e a saúde das pessoas”, explicou o dirigente.
Ele ainda aponta que, quando pequenos clubes sofrem surtos de Covid-19, os impactos acabam influenciando também nos campeonatos que a equipes estejam participando e, de toda forma, acaba trazendo prejuízos para a agremiação.
“Olhando como clube menor, com dificuldades, é muito difícil você conseguir jogar uma competição passando por essa situação de Covid-19. Aconteceu conosco inclusive, no Baiano, nós fomos vítimas disso e tivemos o primeiro jogo contra o Vitória cancelado em virtude do contágio alto aqui na instituição. Temos elenco curto, já um time maior não tem essa dificuldade, já tem um calendário mais planejado, maior independência financeira…”, posicionou Ederlane.
Na segunda rodada do Baianão o Conquista teve 19 casos de Covid-19 no clube e ficou sem o número mínimo de atletas para disputar partida | Foto: Luciana Flores / ECPP Vitória da Conquista
Ele ainda trouxe como caso a situação do Sergipe, eliminado da primeira fase da Copa do Brasil sem ter tido condições normais de jogar contra o Cuiabá devido um surto de contaminação pelo coronavírus na equipe.
“Veja o exemplo do Sergipe na Copa do Brasil. Um time de porte como o nosso, que luta o ano todo para conseguir uma vaga na Copa do Brasil, para receber o subsídio financeiro, e quando você entra na competição tem nove jogadores além do treinador contaminados. Eles ficaram apenas com seis jogadores no banco e três goleiros e acabaram sendo eliminados. Existe também esse prejuízo em seguir a competição de qualquer maneira”, destacou.
“É muito complicado você encontrar uma unanimidade nesses posicionamentos. Mas a opinião do Vitória da Conquista é preservar sempre a vida humana. Se tiver de parar hoje, que pare e todos nós teremos que assumir as consequências, como todos os segmentos que estão sendo atingidos”, finalizou o presidente do Conquista.
O Bahia Notícias não conseguiu contato com representantes do Fluminense de Feira para repercutir sobre o assunto. Já os dirigentes do UNIRB e do Bahia de Feira não responderam os questionamentos a publicação desta matéria.
URGÊNCIA NA SAÚDE
Fora das quatro linhas, o Brasil vive o pior momento da pandemia desce o início da crise, em março do ano passado. Na última segunda-feira (15), em meio ao crescimento do número de casos e mortes em decorrência do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou a substituição de Eduardo Pazuello por Marcelo Queiroga no Ministério da Saúde – ele é o quarto ministro apenas durante a pandemia.
Na última sexta-feira (12), o Brasil estabeleceu um novo recorde e ultrapassou os Estados Unidos no número de média móvel de mortes pela Covid-19 – o índice é a média de mortes nos últimos sete dias no país. Somente nas últimas 24 horas, foram 2.724 óbitos em razão do vírus no país.
Na Bahia, a situação não é diferente. Com índices de ocupação de leitos de UTI acima de 80%, parte do estado está sob decreto de toque de recolher. Nas últimas 24 horas, mais um recorde de mortes foi batido: 153 – este número é mais que o dobro do pico apresentado na primeira onda, acontecida no ano passado (leia mais aqui).
A ocupação das UTIs para adultos subiu de 86% para 87% nas últimas 24 horas. Nos leitos de terapia intensiva para crianças, a taxa caiu de 64% para 58%. No caso das enfermarias, o percentual de vagas preenchidas é de 67% entre as para adultos e 69% nas infantis.
Os casos ativos da Covid-19 também aumentaram. O número de contaminados subiu de 17.693 na quarta-feira para 17.922 nesta quinta-feira, conforme o boletim epidemiológico da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab).
No interior, principalmente na região do Sisal, hospitais municipais vêm apresentando escassez de oxigênio emergencial, o que vem demandando transferência de pacientes para unidades hospitalares do estado. Segundo o governador Rui Costa (PT), no entanto, não há indicativo de crise no sistema de saúde por conta da ausência do insumo.
Informações Bahia Notícias