Um dos oito empresários acusados de ‘golpista’ por Alexandre de Moraes, José Koury conversou com exclusividade com Oeste sobre a ação de busca e apreensão da Polícia Federal em sua casa
Hoje com 64 anos, José Koury passou as últimas quatro décadas na direção de grandes empresas do mercado imobiliário, com atuação em várias cidades do Brasil e de Portugal. Casado, pai de duas filhas, de 23 e 21 anos, e de um filho, de 13, foi surpreendido na sexta-feira 23 com uma visita inesperada: por ordem de Alexandre de Moraes, ministro do STF, a Polícia Federal (PF) bateu à porta de sua casa, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, para uma ação de busca e apreensão. Acusação: articular uma conspiração via WhatsApp com outros empresários.
A informação só não pareceu esdrúxula a Moraes e ao jornalista que assinou a reportagem no site Metrópoles, na qual o ministro se baseou para determinar ação. “Somos todos empresários, homens de família com filhos, netos e até bisnetos, no qual o mais jovem tem 60 anos e o mais velho 82 anos”, afirma Koury. “Só isso já torna absurda a ideia de que estávamos conspirando para um golpe.” Atualmente, Koury se dedica ao Barra World Shopping, no Rio de Janeiro, que foi idealizado por ele, construído e incorporado por suas empresas.
Quando o senhor leu a reportagem no site Metrópoles, o que pensou?
Fiquei abismado ao ver uma simples conversa num grupo privado de WhatsApp com mais de 200 pessoas com todas as tendências políticas, de esquerda, direita e de centro, em que a maioria não se conhece pessoalmente — eu mesmo só conheço dois ou três —, transformada numa conspiração.
Em algum momento o senhor pensou que o ministro Alexandre de Moraes pudesse determinar a operação de busca e apreensão?
Naquele momento, não, mas, quando a matéria começou a ser replicada em toda imprensa, dizendo mentirosamente que éramos conspiradores, pensei na possibilidade.
Como o senhor soube da operação da PF?
Na hora que eles fizeram a busca e apreensão no meu apartamento, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, às 6 horas da manhã. Não estava em casa e meu filho, de 13 anos, me ligou, e o delegado conversou comigo pelo telefone.
Depois da operação da PF, o senhor, o seu advogado ou o de qualquer outro empresário envolvido no caso tiveram acesso ao processo?
Somente alguns dias depois é que todos os advogados tiveram acesso ao processo.
O senhor acha que faltaram manifestações mais enfáticas contra a ação de Moraes por parte de corporações como a PF, os jornalistas, os advogados, etc.?
De uma maneira geral, os jornalistas, aparentemente, têm uma tendência mais à esquerda e, obviamente, dão mais ênfase ao que pode prejudicar o presidente. Várias instituições, como a Fiesp, e mais de cem outras, além de milhares de advogados, manifestaram apoio a nós.
O que o senhor acha de ser rotulado nos jornais como “empresário bolsonarista”?
Fico honrado em ser chamado de empresário bolsonarista, mas me pergunto por que os empresários que apoiam a esquerda não são chamados de empresários esquerdistas ou de empresários lulistas. Aliás, estou bolsonarista porque o presidente está fazendo um ótimo governo em prol do Brasil.
Em algum momento durante as trocas de mensagens naquele grupo de WhatsApp alguém sugeriu concretamente dar um golpe de Estado?
Em nenhum momento foi sugerido isso. O fato de eu ter escrito que preferiria um golpe militar do que a volta do PT, foi apenas um comentário, em que expressei uma opinião em forma de uma figura de linguagem, sem imaginar que seria mal interpretado, e que geraria toda essa confusão. Fomos acusados injustamente. Somos todos empresários sérios e idosos, que pagam impostos e geram milhares de empregos. Homens de família com filhos, netos e até bisnetos, no qual o mais jovem tem 60 anos e o mais velho, 82 anos, incapazes de levar esse absurdo adiante.
Existe censura no Brasil?
Alguns episódios recentes dão a impressão que sim. Mas, de fato, não existe censura. Na verdade, depois desse ataque aos oito empresários, muitas pessoas ficaram com medo de expressar sua opinião, mesmo em grupos privados de WhatsApp. Uma espécie de autocensura.
Como se sente um brasileiro impedido de se comunicar por redes sociais?
Isso é muito complicado, principalmente para o Luciano Hang, um patriota e ativista político, que falava para mais de 70 milhões de pessoas por semana em suas redes sociais. Para mim, não incomoda muito, e acredito que, para os outros, também não. Algumas vozes dizem que o objetivo desta operação foi calar o Luciano Hang, e que os outros foram de contra peso.
Informações Revista Oeste