Imagem: Enes Evren/iStock
Dormir feito pedra ou não acordar nem se a casa estiver caindo são expressões muito usadas para descrever a dificuldade em despertar, sendo chamado popularmente de sono pesado, em oposição ao leve.
Dormir feito pedra ou não acordar nem se a casa estiver caindo são expressões muito usadas para descrever a dificuldade em despertar, sendo chamado popularmente de sono pesado, em oposição ao leve.
Segundo Andrea Bacelar, neurologista, especialista em medicina do sono e diretora da ABS (Associação Brasileira do Sono) e da Clínica Bacelar, no Rio de Janeiro (RJ), essas pessoas têm um alto limiar para despertar, enquanto outras, mesmo se estiverem dormindo de maneira profunda, são despertados seja por um ruído, uma temperatura inadequada ou luminosidade.
É o que ocorre com as mães, principalmente, de crianças recém-nascidas ou pequenas, que mesmo em privação de sono, despertam facilmente. Para Danilo Anunciatto Sguillar, otorrinolaringologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, isso é resultado de um estado hiperalerta, excesso de zelo e preocupações. “Quando estamos com muitas informações ou preocupações na cabeça, não relaxamos o suficiente durante a noite”, afirma.
O sono pesado, chamado pelos especialistas de profundo, corresponde à terceira fase (N3) do sono não REM —a primeira (N1) é o estado de sonolência, a segunda (N2) é superficial. O REM, do inglês rapid eye movements, ou movimentos rápidos dos olhos, cujas características incluem o momento do sonho, da atividade cerebral rápida, e tônus muscular e a musculatura relaxada, vem após a etapa profunda. Cada ciclo (não REM e REM) dura em torno de 90 minutos e é fundamental que se tenha durante a noite de quatro a cinco ciclos completos.
“Ao longo da vida, ocorrem mudanças na proporcionalidade das fases, assim como particularidades individuais. As crianças apresentam mais N3 e os idosos têm sono mais superficial”, explica Manoel Sobreira, neurologista com atuação em medicina do sono e professor da Faculdade de Medicina da UFC (Universidade Federal do Ceará).
De acordo com o otorrinolaringologista da BP, o idoso, de forma fisiológica, torna-se mais matutino, ou seja, vai para cama e acorda mais cedo, tem o tempo de sono encurtado e mais fragmentado. É normal, nas palavras da neurologista Andrea Bacelar, porque com a idade há uma redução da quantidade de neurônios, do gasto energético e de alguns neurotransmissores que contemplam os sonos profundo e REM.
“Todos nós passamos pelos estágios leve e profundo e, normalmente, 50% do tempo total de sono leve”, indica a especialista em medicina do sono da ABS. As pessoas de sono mais leve ficam mais tempo nas fases superficiais e as que dormem mais profundo ficam mais tempo no estágio N3 e no sono REM. “O processo de restauração enquanto dormimos não acontece numa etapa só, mas, sim, no conjunto delas, de maneira cíclica, garantindo descanso e um sono de qualidade”, esclarece o neurologista da UFC.
Os especialistas explicam que o superficial pode estar relacionado a diversos fatores, como ansiedade, depressão, problemas respiratórios, como a resistência à passagem de ar nas vias aéreas superiores, apneia e insônia, além de hábitos inadequados, que merecem ser confirmados e tratados. “O que determina prejuízo futuro é a fragmentação provocada por distúrbios que deixam o sono mais superficial, levando a uma sensação de cansaço”, explica o professor da Faculdade de Medicina da UFC.
O sono leve não reparador pode resultar em vários prejuízos a curto e longo prazo, afetando a concentração, a memorização e impactando a capacidade de trabalho e aprendizado, além de comprometer o humor, levando à irritabilidade, ansiedade e sintomas depressivos.” Giuliana Macedo, neurologista, neurofisiologista, presidente da ABS (Associação Brasileira do Sono) Regional Centro-Oeste.
De acordo com Macedo, há aumento do risco de aparecimento de doenças cardiovasculares —hipertensão, arritmias, infarto e AVC—, metabólicas, como diabetes e obesidade, e neurodegenerativas, por exemplo, as demências.
Segundo o otorrinolaringologista da BP, para garantir o descanso, o normal é que ter torno de 20 a 25% de N3 ao longo da noite e os mesmos 20 a 25% de REM, sem despertares durante a noite.
“Já os indivíduos que dormem mais profundamente podem estar atrasando a fase em que deveriam dormir, provocando alteração do ritmo circadiano, ou, cronicamente privadas de sono, tê-lo profundo por efeito direto ou indireto de algum medicamento que esteja consumindo”, esclarece Sguillar.
Para ter um sono de qualidade, é preciso rotina, hábitos saudáveis, horários regulares de dormir e acordar, quantidade de horas de sono adequadas para cada idade e uma proporção bem distribuída dos estágios leves e profundos.
Fontes: Andrea Bacelar, neurologista, especialista em medicina do sono e diretora da ABS (Associação Brasileira do Sono) e da Clínica Bacelar, no Rio de Janeiro (RJ); Danilo Anunciatto Sguillar, otorrinolaringologista e médico do sono, responsável pelo ambulatório de distúrbios respiratórios do sono do Hospital BP; Giuliana Macedo, neurologista, neurofisiologista, presidente da ABS Regional Centro-Oeste e Manoel Sobreira, neurologista com atuação em medicina do sono e professor da Faculdade de Medicina da UFC (Universidade Federal do Ceará).
Informações UOL