Medicamento anti-inflamatório é alvo de estudos em pacientes com diabetes tipo 2, infarto e quadros moderados e graves de Covid-19
Muitas doenças corriqueiras em nossa comunidade apresentam, em comum, uma inflamação. Às vezes ela é mais visível, às vezes passa despercebida. A gota é um caso clássico. Falamos de um quadro inflamatório em que cristais de ácido úrico se acumulam nas articulações levando a crises com dor intensa, vermelhidão, inchaço e restrição de movimentos.
Só que existem condições tão ou mais prevalentes associadas a processos inflamatórios não tão evidentes. Não sei se você sabe, mas tanto o diabetes tipo 2 como os problemas cardiovascularessão marcados por inflamação.
A glicose elevada no sangue, característica mais conhecida do diabetes, é apenas a ponta do iceberg. A inflamação está ligada ao aparecimento da resistência à insulina (ponto de partida para a doença), à redução da produção do hormônio no pâncreas e ao acúmulo de gordura abdominal, frequente em quem tem diabetes tipo 2.
O infarto, por sua vez, é a interrupção abrupta do fluxo de sangue nas artérias que irrigam o coração. E essa obstrução é o desfecho de alterações no sangue e nos vasos relacionadas ao quê? A inflamação!
Infecções também provocam inflamação e, mais recentemente, descobrimos que a Covid-19 pode gerar um fenômeno inflamatório intenso, semeando estragos em diversos órgãos. Sim, isso pode ser ainda mais devastador que o ataque do coronavírus em si.
Ora, se a inflamação está na base de tantos problemas, por que não recorrer a um anti-inflamatório para controlá-la? Afinal, temos medicamentos antigos e conhecidos com essa função. Não é à toa que um deles se destacou nos últimos dias sobretudo no âmbito da Covid-19. É a colchicina.
A colchicina é um remédio aprovado e indicado para tratamento da gota. Mas estudos recentes apontam que pacientes com diabetes e que sofreram infarto recente têm menor risco de outros eventos cardiovasculares após o uso contínuo da medicação.
E, agora, em meio à pandemia, tivemos uma grata surpresa vinda de uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto. Em experimento realizado com 60 pacientes internados com a forma moderada ou grave de Covid-19 — todos dispondo dos melhores cuidados para a recuperação do quadro —, metade recebeu, ainda, comprimidos de colchicina. E, veja só, o grupo que tomou o medicamento no hospital apresentou melhor evolução clínica, com menos dias de internação e de uso de oxigênio.
São animadores os resultados dos estudos com a colchicina contra Covid-19, diabetes e doenças cardiovasculares, mas, é importante frisar, ela não está aprovada para o uso rotineiro nessas situações. Como de praxe em ciência, mais estudos são necessários para confirmar os benefícios.
Estamos de dedos cruzados para assistir à confirmação desses achados. Enquanto isso, vamos procurar manter um estilo de vida saudável, usar máscara, realizar a higiene das mãos e cumprir o distanciamento social.
Informações Revista Abril