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José Fucs lembra que até mesmo políticos de esquerda rechaçam a versão propagada pelo presidente Lula e por seus aliados

8 de janeiro
Manifestantes durante invasão aos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023 | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na semana passada, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva realizou o evento “Democracia Inabalada”, a fim de celebrar o aniversário de um ano dos atos do 8 de janeiro de 2023, em Brasília. Na cerimônia, o presidente e seus principais aliados reforçaram a versão de uma suposta tentativa de golpe contra a democracia brasileira. Mas o petista não logrou êxito, segundo o jornalista José Fucs, em artigo publicado no Estado de S. Paulo.

Conforme Fucs, a cerimônia mostrou que a tese de golpe é rechaçada por diversos setores da sociedade, e não apenas por “bolsonaristas”, “fascistas” e militantes da “direita radical”. As ausências do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e de 15 governadores de Estado no “Democracia Inabalada” ressaltam o fracasso da versão petista sobre a manifestação na Praça dos Três Poderes.

O jornalista lembra que, no mesmo dia da celebração, uma pesquisa da AtlasIntel mostrou uma realidade diferente da tese propagada pela imprensa tradicional, por autoridades do Executivo, do Legislativo e do Judiciário e até por representantes da “direita democrática”, chamada pelos “bolsonaristas” de “direita limpinha”.

Dos 1,2 mil entrevistados pela AtlasIntel em todo o país, 34,2% disseram que o fanatismo e a polarização foram as principais motivações dos manifestantes, mas apenas 18,8% afirmaram acreditar que a tomada do poder à força era o principal objetivo da turba.

“A narrativa da tentativa de golpe, sem que um único tiro tenha sido disparado pelos manifestantes e sem que houvesse um único veículo blindado nas ruas para apoiar a ‘infantaria’, também passou a ser contestada à luz do dia por vozes da esquerda e mesmo por integrantes do governo”, observou o jornalista.

A esquerda rejeita a tese de golpe no 8 de janeiro

Um dos políticos de esquerda que rechaçaram a tese petista é o ex-deputado federal, ex-presidente da Câmara e ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo. “Atribuir uma tentativa de golpe àquele bando de baderneiros é uma desmoralização da instituição do golpe de Estado”, afirmou o político, ao comparar o 8 de janeiro com uma manifestação que ocorreu em 2006, ano em que movimentos de esquerda invadiram a Câmara e feriram pelo menos 20 pessoas.

“Eles levaram um segurança para a UTI, derrubaram um busto de Mario Covas”, lembrou Rebelo, à época presidente da Câmara. “Dei voz de prisão a todos. A polícia os recolheu e os tratei como o que de fato eram: baderneiros. Não foi uma tentativa de golpe. E o que houve em 8 de janeiro foi a mesma coisa.”

Fucs citou outro exemplo de político de esquerda que rejeita a versão petista de golpe. Trata-se do ex-deputado federal Miro Teixeira, ex-ministro das Comunicações de Lula. “Também ligado ao PDT, tem a mesma percepção de Rabelo, ao dizer que os atos de 8 de janeiro não representaram uma ‘tentativa de golpe’, apesar de sugerir que é preciso identificar os mandantes dos atos”, disse.

Para Miro Teixeira, a democracia brasileira jamais sofreu risco de desfalecer em 8 de janeiro de 2023. “Digamos que aquela balbúrdia se transformasse em golpe”, disse. “Por absurdo, Lula seria retirado do poder, assim como o vice-presidente, Geraldo Alckmin, o presidente da Câmara, Arthur Lira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e seus sucessores. Veja como tenho razões para dizer que a democracia não esteve ameaçada: precisaria de um passo seguinte, que seria declarar a vacância da Presidência. Quem faria isso? Não havia um nome.”

Essa ideia também é compartilhada pelo ministro da Defesa, José Múcio. Em entrevista ao mesmo Estadão, o chefe da pasta afirmou que a manifestação em Brasília resultou apenas em atos de vandalismo.

“Continuo achando que aquilo foi uma grande baderna”, afirmou Múcio, referindo-se ao 8 de janeiro. “Um bando de vândalos que foi arrebanhado por empresários irresponsáveis, alguém que pagou os ônibus e disse: ‘Vamos para Brasília’. Havia pessoas que desejavam o golpe, mas o Exército, a Marinha e Aeronáutica, não. Como são os golpes no mundo? Vai a Força e o povo vem apoiando atrás. Aqui, o povo foi na frente. Não tinha um líder. Se as Forças Armadas quisessem golpe, era um conforto. Via daqui da janela do Ministério da Defesa. Era gente correndo para todo canto. Não apareceu esse coordenador.”

Ao observar a rejeição dos brasileiros e das autoridades em relação à tese de golpe no 8 de janeiro, Fucs afirmou que esse conjunto de fatores emite um sinal de alerta incômodo de que a sociedade tem sua própria visão dos acontecimentos. “E tem pouco ou nada a ver com a versão propagada por representantes de alta patente dos Três Poderes e reforçada pelo noticiário”, concluiu o jornalista.

Informações Revista Oeste

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