Quando questionadas sobre o que vem à mente quando pensam em sexo, a maioria das pessoas descreve uma relação que envolve penetração. E isso mesmo entre pessoas LGBT.
Recentemente, uma pesquisa da YouGov, empresa britânica de pesquisa de mercado, confirmou que a penetração do pênis na vagina ou no ânus ainda é considerada a definição clássica de relação sexual. Quase metade dos britânicos não consideram sexo a estimulação oral do pênis (41%) nem a estimulação oral do clitóris (40%).
No Brasil, uma pesquisa assim traria resultados semelhantes. Aqui, masturbação mútua e sexo oral são consideradas práticas do grupo das preliminares. De fato, elas podem estar relacionadas com a necessidade e o prazer que promovem excitação prévia à penetração, ou com uma variação para quando a relação com penetração está mais difícil de acontecer.
Mas penso que há mais coisa aí. Para driblar a imposição da virgindade feminina, por exemplo, manter outras práticas como preliminares ou como menos importantes garante o não rompimento do hímen, o que simbolicamente não configuraria sexo. Infelizmente, essa lógica acaba também favorecendo o abuso sexual, já que não é incomum ouvir frases do tipo: “mas eu só estimulei a genitália, não houve penetração”, descaracterizando os aspectos traumáticos emocionais envolvidos nesse tipo de violação. Manter a ideia de que masturbação e sexo oral não são sexo de verdade, se torna um tipo de proteção contra o julgamento social sobre a conduta sexual das pessoas, mesmo que não seja mais um parâmetro legal.
Também não é incomum que alguns homens que se consideram heterossexuais entendam que a prática do sexo oral ou da masturbação mútua com outros homens seja uma espécie de brincadeira adolescente, e que não conta como sexo de verdade. Inclusive, essa argumentação da broderagem sexual vivida na idade adulta evita questionamentos sobre a heterossexualidade do sujeito.
Então, vejam vocês que, se mudássemos essa narrativa, incorporando as tais preliminares à prática sexual, isso poderia desproteger o ego de muita gente. Estamos prontos para essa realidade?
A pesquisa britânica ainda descobriu que houve uma divisão geracional entre os entrevistados, sendo que pessoas com mais de 50 anos são mais propensas a considerar sexo oral e com mãos como sexo, enquanto apenas 23% das pessoas de 18 a 49 anos disseram o mesmo.
Aqui, claramente conta a experiência dos mais maduros, que diante de uma resposta sexual mais lenta, aprendem a variar as práticas, adaptando-as diante das novas necessidades biológicas e psicoemocionais.
Além disso, com o passar dos anos, vamos ganhando sabedoria e entendendo que é muito excludente restringir a compreensão do sexo à penetração e que tanto a estimulação oral quanto a masturbação mútua são práticas que se revelam prazerosas e interessantes de se fazer sexo.
Informações UOL