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Às vésperas de eleições, o país europeu enfrenta desafios econômicos significativos; confira análise

Fachada do Reichstag — o Parlamento da Alemanha
Fachada do Reichstag — o Parlamento alemão | Foto: Flickr/Marcio Cabral

O Ministério das Finanças de Baden-Württemberg, Estado ao sul da Alemanha, tornou-se um ponto central das preocupações econômicas do país. Os alemães enfrentam um cenário de possível desindustrialização, enquanto se aproximam de uma eleição crucial para o chanceler Olaf Scholz.

O ministro Danyal Bayaz alerta para o fato de que a Alemanha desperdiçou os “dividendos da globalização” e “falhou em investir adequadamente no setor público durante anos de juros baixos”.

Agora, o país enfrenta crescente pressão energética, intensificada pela invasão russa da Ucrânia, além da concorrência chinesa e tarifas ameaçadoras dos EUA. Tudo isso colocaria seu modelo econômico em risco, segundo o jornal The Economist, do Reino Unido.

Alemanha enfrenta desafios na adaptação tecnológica

A indústria alemã, especialmente as empresas Mittelstand, focou em inovações incrementais e, por isso, permaneceu despreparada para grandes avanços tecnológicos | Ilustração: Reprodução/Shutterstock

Bayaz lamenta a dificuldade da Alemanha em se adaptar às novas tecnologias, apesar de sua forte base em pesquisa e engenharia. A última grande startup de sucesso foi a SAP, criada em 1972. O país tem 60 vezes a população da Estônia, mas possui apenas 15 vezes mais “unicórnios” (startup de alto valor de mercado) do que os estonianos. Essa situação não é novidade.

A indústria alemã, especialmente as empresas Mittelstand, focou em inovações incrementais e, por isso, permaneceu despreparada para grandes avanços tecnológicos, como a transição para veículos elétricos. 

Relações confortáveis entre empresas, bancos e políticos criaram uma complacência resistente a reformas necessárias, e a adesão a regras fiscais rigorosas resultou em infraestrutura deficiente, como pontes enferrujadas e trens atrasados. A análise é também do jornal The Economist

Impacto dos custos de energia

Energia
Os altos custos de energia, ampliados pela necessidade de abandonar o gás russo, são um problema persistente para as empresasdo país | Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Os altos custos de energia, ampliados pela necessidade de abandonar o gás russo, são um problema persistente para as empresas em um país onde a manufatura ainda representa 20% do valor agregado bruto — quase o dobro do valor na França. A produção industrial tem caído desde 2018, especialmente em setores energointensivos, como a siderurgia.

O desemprego no país aumenta, embora a partir de uma base baixa, e a maior montadora da Europa, a Volkswagen, considera fechar uma fábrica pela primeira vez em seus 87 anos de história. A ação poderia resultar na perda de até 30 mil empregos. 

Carteiras de pedidos encolhem, enquanto investimentos planejados são adiados ou deslocados para o exterior. O fato é visto na Thyssenkrupp, cuja liderança afirma que o país está “em plena desindustrialização”.

Setores afetados e desafios demográficos da Alemanha

Outros setores, como o varejo, também sentem o impacto. Depois da invasão russa, Raoul Rossmann, de uma cadeia de farmácias, buscou formas de reduzir custos de energia. 

A falta de trabalhadores qualificados, agravada pelo envelhecimento populacional, é um desafio crescente, juntamente com camadas de burocracia pesada, muitas vezes atribuídas a regulamentos da União Europeia (UE), que custam à economia cerca de € 146 bilhões por ano, segundo o Instituto Ifo.

A relação comercial com a China mudou drasticamente. Nas décadas de 2000 e 2010, a Alemanha estava bem posicionada para suprir a demanda chinesa por carros e produtos químicos. Contudo, a China se tornou o maior exportador de carros, numa direta competição com a indústria alemã. 

As exportações para a China diminuíram, enquanto os EUA surgiram para preencher parte dessa lacuna. Entretanto, tarifas norte-americanas iminentes podem afetar o PIB em até 1 ponto porcentual, segundo o Bundesbank.

Dilemas nas relações comerciais com a China

Bandeira da República Popular da China
Bandeira da República Popular da China | Foto: Domínio Público/Wikimedia Commons

Dentro da Alemanha, há divisões sobre como gerenciar as relações com a China. Algumas empresas do Mittelstand apoiam a política de “redução de riscos”, enquanto montadoras e conglomerados, como a Basf, continuam com investimento pesado no país asiático.

A Volkswagen e a BMW planejam novos investimentos na produção chinesa, e o lobby automotivo ajudou a Alemanha a se opor às tarifas da UE sobre importações de automóveis chineses.

No governo alemão, há tensões entre diplomatas e espiões que desejam punir a China por apoiar a Rússia com restrições comerciais. Em contrapartida, setores temem que tais medidas sejam prejudiciais para uma Alemanha de baixo crescimento. 

A história da desindustrialização é complexa. A perda de empregos na manufatura reduz a produtividade, já em declínio, mas o valor agregado bruto na manufatura se manteve. Isso sugere que alguns fabricantes alemães produzem itens mais valiosos, apesar de uma produção menor.

Contexto político da Alemanha

Alemanha
Chanceler alemão, Olaf Scholz | Foto: Reprodução/Flickr

Essas mudanças ocorrem em um momento político crucial. A Alemanha realizará eleições em fevereiro, depois do colapso da coalizão de três partidos. Friedrich Merz pode liderar a próxima coalizão, com possíveis reformas econômicas em vista. 

Reformas no freio da dívida são vistas como fundamentais para impulsionar investimentos e crescimento de longo prazo. No entanto, qualquer alteração constitucional requer uma maioria de dois terços no Parlamento, o que pode ser complicado por possíveis bloqueios legislativos.

Thorsten Benner, do Instituto de Política Pública Global de Berlim, observa que a Alemanha passou do “otimismo fácil”, dos anos de Angela Merkel, para uma “armadilha de melancolia”, em que política disfuncional, limitações fiscais e desconfiança pública se reforçam.

Ele espera que o próximo governo possa agir como um “disjuntor” e trazer mudanças significativas.

Informações Revista Oeste

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