Executivo disse enxergar, como consequência do conflito, um movimento em que “companhias e governos estarão reavaliando suas dependências [de outros países] e reanalisando a manufatura e as plantas de fabricação”
“A invasão da Ucrânia pela Rússia colocou um fim na globalização que experimentamos nas últimas três décadas”, afirmou o CEO da BlackRock, Larry Fink em sua tradicional carta anual aos acionistas. No documento divulgado hoje, o executivo da maior gestora do mundo em ativos, com US$ 10 trilhões sob o guarda-chuva, disse enxergar, como consequência do conflito, um movimento em que “companhias e governos estarão reavaliando suas dependências [de outros países] e reanalisando a manufatura e as plantas de fabricação — algo que a covid já estava levando muitos a começar a fazer”.
Fink apontou ainda que esse cenário pode levar as companhias a trazer a maior parte de suas operações para os próprios países ou muito perto, “resultando em uma rápida reversão para alguns países”. No entanto, o CEO da BlackRock indica que algumas regiões podem até se beneficiar desse movimento e cita o Brasil dentro desse grupo. “Outros, como México, Brasil e Estados Unidos ou os ‘hubs’ manufatureiros no sudeste da Ásia, podem se beneficiar”.
Para Fink, “essa dissociação vai, inevitavelmente, criar desafios para as companhias, incluindo custo mais elevado e pressões sobre as margens”. Uma reorientação em larga escala das cadeias de suprimentos, continuou o executivo, “será inerentemente inflacionária”.
De acordo com o executivo, após o fim da guerra fria no início dos anos 1990, “o mundo se beneficiou dos dividendos de uma paz global e da expansão da globalização”. Conforme Fink, “foram tendências poderosas que aceleraram o comércio internacional, expandiram o mercado de capitais global, elevaram o crescimento econômico e ajudaram a reduzir a pobreza em nações ao redor do globo”.
O CEO da BackRock reafirmou permanecer “um apoiador de longo prazo dos benefícios da globalização e do poder do mercado de capitais global”. Para o gestor, “o acesso ao capital global permite às companhias financiar o crescimento, aos países se desenvolver economicamente e a mais pessoas experimentarem um bem-estar financeiro”. A guerra, no entanto, pôs em cheque os avanços desse sistema, na medida em que, vai impulsionar uma reorientação das cadeias de suprimentos e fazer governos reavaliarem suas relações de dependência com outras nações.
O CEO da BlackRock também chamou a atenção para o dilema dos bancos centrais, exacerbado pela tensão geopolítica. “Os BCs estão ponderando difíceis decisões sobre o quão rápido elevar as taxas. Eles enfrentam um dilema que não tinham há décadas, que piorou pelo conflito geopolítico e como resultado dos choques de energia. Os bancos centrais devem escolher se vamos viver com uma inflação mais alta ou se vão desacelerar a atividade econômica e emprego para derrubar a inflação mais rapidamente.”
Um trecho da carta de Fink traz ainda uma análise sobre os impactos do conflito sobre os ativos digitais e sinaliza um potencial impacto de aceleração das moedas virtuais. “A guerra vai levar os países a reavaliar sua dependência cambial. Mesmo antes da guerra, vários governos estavam buscando ter um papel mais ativo nas moedas digitais e definir matrizes regulatórias sob a qual essas moedas vão operar.
O BC americano, por exemplo, lançou recentemente um estudo para examinar as potenciais implicações do dólar digital. Um sistema digital global de pagamentos pode consolidar uma melhora nas transações internacionais, enquanto reduz o risco de lavagem de dinheiro e corrupção. As moedas digitais também podem ajudar a baixar os custos de pagamentos transfronteiriços, por exemplo, quando profissionais expatriados enviam recursos para suas famílias”.
Larry Fink — Foto: Justin Chin/Bloomberg
Informações Valor Econômico