Drake e Blink-182 deixaram fãs na mão no Lollapalooza 2023. Outros festivais tiveram baixas marcantes. Artistas não costumam pagar multa, só perdem cachê, tanto no Brasil quanto nos EUA.
Drake, Lady Gaga, Blink-182 e Justin Bieber deixaram os fãs devastados com cancelamentos no Brasil — Foto: Reprodução/Instagram – Rich Fury / Getty Images via AFP / Agnews / Matthew Emmons-USA TODAY Sports
O Lollapalooza de 2023 foi marcado por cancelamentos. Das três atrações principais da escalação original, duas desmarcaram: o Blink-182,um mês antes, por uma fratura no dedo do baterista, e Drake, no dia do show, por “circunstâncias imprevistas”.
Omar Apollo, Dominic Fike, Willow e 100 Gecs também desistiram deste Lolla. O festival em São Paulo não é o único com cancelamentos que deixaram os fãs devastados. O Rock in Rio teve o caso marcante de Lady Gaga em 2017 e outros como o de Jay-Z em 2011.
O g1 ouviu profissionais do mercado de shows para saber sobre cancelamentos de shows em grandes festivais: como são os contratos e por que estas desmarcações de gringos são comuns?
Todos os cachês com atrações estrangeiras são negociados em dólar. Os valores são calculados, geralmente, de duas formas possíveis:
Nos grandes festivais de música na América Latina, o mais comum é o cachê colocado. O festival, na maioria das vezes, concede apenas de duas a três noites de hotel e transporte local (entre aeroporto, hotel e o lugar do evento).
Os artistas tentam marcar o máximo possível de datas nos países vizinhos ou em outras cidades do Brasil. Em vez de fazer só um show com deslocamento intercontinental, mais caro, ele faz várias viagens menores, ganhando cachê fixo em cada uma. Isso dilui o gasto total e viabiliza a turnê.
Os acordos costumam prever multas extras de 100% do valor do contrato em caso de cancelamento. Mas, na prática, isso não costuma acontecer. Os artistas gringos que cancelam precisam apenas devolver o cachê que já tenha sido pago.
Isso acontece porque os contratos têm cláusulas, conhecidas no mercado como “motivos de força maior”, que cancelam a multa nos seguintes casos:
Na prática, a “hipótese alheia à vontade que torna impossível a apresentação” pode ser quase qualquer coisa. “Não tem nada de multa. Devolve a grana e pronto. E sempre tem um motivo, por mais que não abra isso nas redes. Sempre tem que alegar algo”, diz o agente de um grande festival no Brasil.
“Existem algumas pegadinhas em ‘motivos de força maior’ que o pessoal usa para se encaixar”, diz um artista brasileiro que toca em grandes festivais aqui e no exterior.
Caso o artista já tenha investido uma parte de sua verba na realização do show, esse valor pode ser abatido da verba a ser devolvida.
Exemplo: um artista cancela de última hora, mas o mega telão dele veio antes e foi instalado no palco. Pode estar previsto em contrato que o valor depositado seja: o que já recebeu menos o que gastou com o tal telão.
A questão não é discutida só aqui. Em 2020, a Live Nation, uma das maiores produtoras de eventos do mundo, tentou endurecer as regras globais, e impor aos artistas uma multa de duas vezes o valor do contrato em caso de cancelamento.
A revista “Billboard” fez uma reportagem sobre essa tentativa de mudança. Nela, um produtor de festivais dos EUA disse que, atualmente, os artistas não sofrem consequências práticas ao cancelar um show num festival, mesmo que esta ausência de última hora afete a marca do evento.
“Mas se eu tenho que cancelar meu festival, por qualquer motivo, tenho que pagar tudo aos artistas, mesmo que eles não me ajudem a vender um único ingresso, e isso não é justo”, disse o produtor.
Mesmo assim, a proposta da Live Nation, que tinha outras cláusulas mais duras para os artistas, no meio da crise da pandemia, pegou mal. Uma semana depois, o site especializado Complete Music Update noticiou que a Live Nation tinha desistido de impor essas novas regras.
Informações G1