Autoridades ainda investigam as causas da tragédia, mas o que se sabe é que o tempo excepcionalmente seco e fortes ventos ajudaram a alimentar as chamas. Em julho, chefe da ONU alertou que a Terra está na ‘era da fervura global’ e pediu ações urgentes.
Os danos do incêndio florestal em Lahaina, no Havaí, em registro de 12 de agosto. — Foto: AP
O número de vítimas fatais dos incêndios no Havaí, os mais letais em mais de um século nos Estados Unidos, chegou a 93 pessoas neste domingo (13). A cifra, porém, ainda pode aumentar, de acordo com as autoridades locais.
O desastre ocorre depois de a América do Norte ter sofrido vários fenômenos climáticos extremos nos últimos meses, desde incêndios florestais recordes no Canadá até uma onda de calor que atingiu o sudoeste dos Estados Unidos.
A Europa e algumas partes da Ásia também sofreram com ondas de calor, inundações e grandes incêndios. Os cientistas dizem que a mudança climática causada pela ação do homem agrava os desastres naturais, tornando-os mais comuns e letais.
‘A era da fervura global chegou’, afirmou em julho o secretário-geral da ONU, António Guterres, depois da confirmação que as três primeiras semanas do mês foram as mais quentes já registradas.
No Havaí, as causas exatas das chamas ainda são desconhecidas, mas o que se sabe é que o tempo excepcionalmente seco e fortes ventos na região ajudaram a alimentar o fogo e a deixar a vegetação da ilha de Mauí altamente inflamável.
Segundo dados do governo dos EUA, cerca de14% do estado do Havaí está enfrentando uma seca severa ou moderada, o que traz condições bastante propícias para os incêndios florestais.
Pesquisadores também constataram que o Havaí está recebendo apenas uma fração da chuva que recebia há um século – cerca de 10% – e desde 2008, a região vem enfrentando um período notavelmente seco.
Entenda a crise do clima em gráficos e mapas
“A mudança climática geralmente não inicia os incêndios; mas os intensifica, aumentando a área que queimam e tornando-os muito mais perigosos”, escreveu em uma rede social a professora Katharine Hayhoe, uma das principais vozes da ciência do clima.
Aliado a isso, especialistas argumentam que a disseminação de gramíneas não nativas inflamáveis em campos agrícolas abandonados também pode ter tido um papel fundamental ao criar as condições propícias para o início e a propagação dos incêndios devastadores.
Mauí também teve problemas no fornecimento de energia, o que impediu que os habitantes recebessem alertas em seus telefones.
Os moradores de Lahaina, cidade da ilha, relataram inclusive não terem ouvido as sirenes de alerta, e muitos descobriram que o incêndio estava próximo quando viram seus vizinhos correndo e gritando.
Este é o incêndio mais mortal nos Estados Unidos desde 1918, quando 453 pessoas morreram em Minnesota e Wisconsin, de acordo com o grupo de pesquisa sem fins lucrativos Associação Nacional de Proteção contra Incêndios.
Os incêndios devastaram mais de 800 hectares em duas ilhas do arquipélago e obrigaram à retirada de milhares de pessoas. O fogo começou na madrugada da última terça-feira (8), e seu rápido avanço colocou em risco mais de 35.000 pessoas em várias localidades da ilha do Mauí, informou a Agência de Gestão de Emergências do Havaí.
Visão aérea de áreas queimadas em Lahaina, na ilha de Maui, no Havaí, na última sexta-feira, 11 de agosto de 2023, após a passagem de um incêndio florestal. — Foto: AP
Apenas uma pequena parte da área queimada pôde ser vasculhada em busca de vítimas.
“Nenhum de nós sabe ainda a magnitude” do desastre, reconheceu o chefe da polícia do Maui, John Pelletier.
O incêndio afetou mais de 2200 estruturas no povoado costeiro de Lahaina, no oeste do Mauí, informou a Agência Federal de Gestão de Emergências dos EUA (FEMA), estimando também perdas financeiras de US$ 5,5 bilhões (cerca de R$ 27 bilhões na cotação atual).
O calor das chamas era tão forte que os corpos recuperados são difíceis de identificar, afirmou Pelletier, acrescentando que apenas dois deles puderam ser identificados por enquanto.
O incêndio “fundiu o metal”, relatou o chefe de polícia, que chamou os familiares dos desaparecidos para fazerem testes de DNA para tentar identificar os restos mortais encontrados.
As críticas à reação das autoridades são cada vez maiores, pois os moradores reclamam dafalta de alertas sobre a chegada do incêndio, que deixou dezenas de pessoas presas na cidade turística.
A montanha atrás de nós pegou fogo e ninguém nos disse.
— Vilma Reed, moradora de 63 anos que teve sua casa destruída.
Reed disse que sua família conseguiu fugir das chamas apenas com o tinha no carro e agora depende de doações e da gentileza de estranhos.
“Esta é a minha casa agora”, disse a mulher, ao apontar para o carro onde dormiu com sua filha, seu neto e dois gatos.
A procuradora-geral do Havaí, Anne Lopez, anunciou a abertura de uma investigação sobre como a crise foi gerenciada, com “uma revisão exaustiva da tomada de decisões críticas e das políticas em vigor” na região.
Lahaina, uma localidade de mais de 12 mil habitantes que já foi a capital do chamado Reino do Havaí, ficou em ruínas, e suas lojas, hotéis, casas e restaurantes, reduzidos a cinzas.
Membros da Guarda Nacional do Havaí auxiliam funcionários do condado e do estado de Maui nos esforços de busca e recuperação após incêndios florestais devastarem a cidade histórica de Lahaina — Foto: Guarda Nacional dos EUA/sargento mestre Andrew Jackson/Folheto via Reuters
O condado do Mauí informou pelo menos 93 mortes na noite de sábado, atualizando o balanço anterior de 89 óbitos.
O governador Josh Green alertou, entretanto, que o número oficial de mortos deve aumentar. “Vai continuar aumentando. Queremos preparar as pessoas para isso”, advertiu.
Green defendeu ainda trabalho das autoridades e disse que a situação se complicou porque vários incêndios aconteceram ao mesmo tempo, alimentados por fortes ventos.
“Com essa tempestade, duvidamos de que teríamos conseguido fazer algo mais com um incêndio tão forte e rápido como esse”, afirmou.
Informações TBN