Em guerra com Israel desde o último dia 7, o grupo extremista Hamas possui provavelmente a maior rede de túneis do mundo, com exceção das instalações subterrâneas da Coreia do Norte.
Especialistas apontam que essa rede subterrânea secreta é um dos maiores desafios de uma incursão israelense por terra em Gaza, que teve início ontem (22).
“A escala do desafio em Gaza, onde centenas de quilômetros de túneis cruzam o subsolo no enclave, é totalmente única”, diz John Spencer, presidente de estudos de guerra urbana do Modern War Institute, que faz parte da Academia Militar dos Estados Unidos – também conhecida como Academia de West Point.
“Este extenso complexo subterrâneo é um problema perverso que aguarda as forças terrestres israelenses e para o qual não existe uma solução perfeita.”
Estima-se que a rede de cerca de 1.300 túneis tenha uma extensão total de cerca de 500 quilômetros, e que alguns cheguem a 70 metros de profundidade. Informes sugerem que a maioria dos túneis tem apenas dois metros de altura e dois metros de largura.
Segundo especialistas, é provável que ali estejam localizados os quase 200 reféns que o Hamas fez após os ataques terroristas de 7 de outubro em Israel. Nos túneis também supostamente existem esconderijos de armas, alimentos, água, geradores, combustível e outros equipamentos. Os investigadores que estudaram os túneis acreditam que os líderes do Hamas provavelmente também estão nestas passagens subterrâneas.
Inicialmente, os túneis desta área eram usados para contrabandear mercadorias entre Gaza e o Egito e, mais tarde, entre Gaza e Israel. Com o tempo, devido ao aumento da vigilância aérea israelense em Gaza, com drones e outros equipamentos eletrônicos de espionagem, o Hamas começou a investir mão de obra e dinheiro na expansão da rede de túneis.
Mas foi só em uma operação militar em Gaza, em 2014, que o Exército israelense descobriu a verdadeira extensão dos túneis do Hamas. Depois disso, o governo israelense começou a desenvolver uma barreira ao longo da fronteira de Gaza que penetra no subsolo, para impedir o acesso por túneis ao lado israelense.
Não é fácil localizar os túneis, que podem estar sob edifícios de todos os tipos. Ainda assim, existem diversas maneiras de fazer isso, como o uso de radar e outras técnicas de detecção que medem padrões térmicos, magnéticos e acústicos.
Na maioria das vezes, no entanto, as passagens subterrâneas tendem a ser encontradas pelo trabalho de detetives humanos, como relatou o think tank Rand num relatório de investigação sobre o tema de 2017. Isto é, por soldados em patrulha, ou quando, por exemplo, o sinal telefônico de um agente do Hamas rastreado desaparece subitamente ao entrar num local subterrâneo.
No passado, gás lacrimogêneo ou agentes químicos eram usados para “limpar” túneis, conforme explica o livro Underground Warfare, de uma das maiores especialistas mundiais nesta área, Daphné Richemond-Barak.
Também é possível bombardear túneis e Israel tem bombas “destruidoras de bunkers”, capazes de penetrar profundamente no subsolo.
Com apenas cerca de 40 quilômetros de comprimento por entre 6 e 14 quilômetros de largura, e com uma população de 2,2 milhões de pessoas bloqueadas por Israel desde 2007, a Faixa de Gaza é uma das áreas mais densamente povoadas do mundo. Portanto, mesmo que os militares israelenses soubessem onde estão os túneis, a situação no terreno tornaria esse tipo de bombardeamento extremamente difícil, se não impossível.
Além disso, não é fácil lutar nos túneis. O subsolo é mais escuro e muito mais frio, sons, como tiros, são amplificados, e o uso de armas também levanta poeira. Além disso, os túneis podem facilmente se tornar armadilhas explosivas. Na verdade, no passado, os soldados israelenses não eram autorizados a entrar nos túneis até receberem cobertura de equipes especializadas.
John Spencer, da West Point, observa que nunca tinha visto nenhuma outra força militar fazer tanto trabalho preparatório na guerra em túneis quanto os militares israelenses.
Contudo, Richemond-Barak manifesta preocupação.
“Israel precisaria empreender uma operação aérea e terrestre prolongada e extensa para degradar esta infraestrutura subterrânea”, escreveu este mês artigo para o jornal britânico “Financial Times”.
O exército de Israel poderia derrubar, inundar ou destruir os túneis e selá-los, mas isso seria muito difícil, especialmente quando se está sob fogo em um ambiente urbano, e poderia levar meses. “Mesmo em um tal cenário, que teria um custo humano impensável, é improvável que toda a rede de túneis de Gaza seja destruída”, disse a especialista em guerra subterrânea.
Informações TBN